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Gavin Newsom, governador da Califórnia, em corredor da COP30, em Belém (Leandro Fonseca /Exame)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 06h01.
Gavin Newsom, governador da Califórnia, era o convidado mais aguardado da entrevista coletiva de fim de tarde da COP30 nesta terça-feira, 11.
Mesmo assim, chegou atrasado. Depois que ele sentou à mesa, no entanto, foram feitas perguntas apenas a ele, mesmo em um evento que contava com Ana Toni, CEO da COP30, e Katrin Jammeh, prefeita de Malmö, a terceira maior cidade da Suécia.
Newsom é um dos principais opositores do presidente Donald Trump e já parece estar em modo de campanha. Ele já atingiu o limite de reeleições na Califórnia e o caminho natural é o de tentar ser presidente em 2028, ano em que Trump atingirá seu limite de mandatos na Casa Branca.
Assim, a COP30 virou uma espécie de teste para Newsom em um grande evento internacional. Ele buscou levar a mensagem de que mesmo com Trump no poder, os Estados Unidos seguem avançando com sua agenda de transição energética.
O atual presidente retirou os EUA do Acordo de Paris e, pela primeira vez na história das COPs, não enviou uma delegação americana ao evento.
"Nos seus primeiros quatro anos de mandato, nós [EUA] reduzimos o uso de carvão e a emissão de gases de efeito estufa. Apesar das políticas dele, o mercado está se movendo nesta direção, assim como os Estados", disse Newsom.
"É incrivelmente importante não olhar para os Estados Unidos por só uma lente, a federal. A visão federal é percebida no nível local", afirmou.
"O governo Trump abandonou qualquer senso de responsabilidade e liderança sobre as questões que estamos aqui para resolver. É uma abominação, uma desgraça. Mas em vez de falar sobre isso, estamos tentando fazer algo", afirmou.
"A Califórnia é um parceiro estável e confiável em [economia de] baixo carbono, e seguirá sendo. Estou aqui porque não quero que os Estados Unidos sejam uma nota de rodapé nesta conferência, e quero que vocês saibam que reconhecemos nossa responsabilidade e nossa oportunidade", disse.
A Califórnia é o estado mais rico dos EUA e, se fosse um país isolado, seria a quarta maior economia do mundo, segundo Newsom. Ele destacou que o estado seguiu crescendo mesmo ao apostar na transição energética, e que hoje dois terços da energia usada no país é de origem limpa.
"Nós reconhecemos que o risco climático é também um risco financeiro e, cada vez mais, estamos lutando como nação na construção de casas e acesso a hipotecas, porque a crise nos seguros foi induzida e exacerbada pela mudança climática", afirmou o democrata.
O governador também falou sobre a China. "Eu respeito e admiro o que a China tem feito em relação à indústria, mas nós, na Califórnia, vamos competir neste mercado".
Newsom foi questionado pelo fato de que os democratas perderam a eleição presidencial de 2024, mesmo tendo apostado forte no combate às mudanças climáticas. Ele disse que o partido, e o país, precisa tratar o tema de forma mais clara.
"Estamos falando sobre 1,5 graus Celsius. Quantos graus Fahrenheit são isso? Precisamos mudar nossa linguagem. As pessoas entendem poluição. Precisamos falar em termos como esse", disse.
Ao deixar a coletiva, Newsom foi cercado por jornalistas e seguiu respondendo perguntas por vários minutos. Perguntado sobre as eleições presidenciais de 2028, ele disse que primeiro é preciso se preocupar com a disputa de 2026, quando haverá eleições de meio de mandato, as midterms, nas quais Trump poderá perder o controle da Câmara e do Senado, que possui hoje. Por uma tarde, o futuro da política americana acabou sendo debatido em Belém.