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Por que o ataque dos EUA ao Irã não deve levar a uma Terceira Guerra Mundial

Possibilidade de confronto global ainda parece distante no cenário atual

Soldado americano em Arlington, Virgínia, antes de desfile militar, em 14 de junho (Samuel Corum/AFP)

Soldado americano em Arlington, Virgínia, antes de desfile militar, em 14 de junho (Samuel Corum/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 22 de junho de 2025 às 12h43.

Última atualização em 22 de junho de 2025 às 18h33.

O ataque feito pelos Estados Unidos ao Irã não deve levar a uma Terceira Guerra Mundial, ao menos no contexto atual. Para um conflito de proporções globais, seria preciso o envolvimento total de mais de uma potência, e em lados opostos. Até agora, não há sinais de que isso vá ocorrer.

Os EUA buscaram deixar claro neste domingo, 22, que querem apenas acabar com o programa nuclear do Irã, e não derrubar seu governo ou invadir e ocupar o país.

Até o momento, Rússia e China não demonstraram interesse em defender o Irã de forma ampla, o que reduz a chance de um conflito global. Os países da Europa seguem mais próximos da postura dos EUA, mas estão pedindo por contenção e por uma saída diplomática.

“Nem Rússia nem China querem que a existência do regime iraniano seja a causa de sua própria destruição. Essas potências não vão entrar em um conflito nuclear por causa do Irã”, afirma Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM.

A Rússia é um aliado de longa data do Irã, e recebe drones e outros armamentos do país para usar na Guerra da Ucrânia, mas enfrenta dificuldades no confronto com os ucranianos, que já dura três anos. O governo russo parecia ser capaz de dominar rapidamente o país vizinho, mas se viu preso em um conflito estagnado, pois a Ucrânia recebe armas de última geração dos EUA e da Europa. Neste contexto, Moscou teria dificuldade em entrar em um segundo conflito ou em uma guerra ampla contra outras potências.

Já a China, há décadas, busca se manter distante de conflitos globais e dificilmente declararia guerra aos Estados Unidos para defender o Irã.

Fator nuclear

Depois da Segunda Guerra Mundial, não houve nenhum conflito de alcance global por várias razões. Uma delas é que as principais potências possuem armas atômicas, capazes de destruir cidades inteiras com um ataque. O uso de uma delas levaria o rival a contra-atacar da mesma forma, o que geraria um cenário chamado de MAD (destruição mútua assegurada, na sigla em inglês), o que serve como fator de contenção.

Por outro lado, a economia global é fortemente integrada, e um conflito entre potências como EUA e China geraria uma crise econômica profunda.

Um sinal do desinteresse em um conflito mais amplo ocorreu este ano. O presidente dos EUA, Donald Trump, iniciou uma guerra de tarifas contra a China, mas os dois lados aceitaram negociar uma saída para manter os negócios e evitar uma briga maior.

Apoio indireto

No entanto, Rússia e China podem ajudar o Irã de modo indireto, para evitar que o governo do país desmorone.

"Eles poderiam dar para os iranianos armamento estratégico, como baterias antiaéreas. Com isso, vai ficar muito mais difícil para os americanos usarem seus caças", diz Hussein Kahlout, pesquisador da universidade Harvard e ex-secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência do Brasil.

"Eles podem também dar outros armamentos, para alvejar navios e porta-aviões. Eles também podem oferecer informações de inteligência. Isso torna o teatro de guerra muito mais complexo", afirma.

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