Balões com panfletos contra o regime de Kim Jong-Un (Getty Images/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 8 de junho de 2024 às 15h05.
Última atualização em 8 de junho de 2024 às 15h09.
A Coreia do Norte voltou a lançar balões cheios de lixo à Coreia do Sul neste sábado, 8, anunciaram militares sul-coreanos. “A Coreia do Norte lança mais uma vez (supostos) balões transportando resíduos para o Sul”, disseram os chefes do Estado-Maior conjunto da Coreia do Sul em um comunicado.
As autoridades da Coreia do Sul condenaram o lançamento de balões norte-coreanos, descrevendo a ação como “irracional” e de “baixa classe” e ameaçaram medidas retaliatórias que, afirmaram, poderiam ser “insuportáveis” para seu vizinho. Na última semana, um grupo sul-coreano chegou a enviar músicas k-pop e panfletos contra Kim Jong-un em balões.
Os primeiros balões enviados pela Coreia do Norte ao país vizinho do sul foram registrados no dia 28 de maio. Imagens divulgadas pela imprensa do Sul mostraram balões brancos amarrados a sacos plásticos com lixo com fezes dentro.
Conforme autoridades sul-coreanas, até a noite de 1°de junho foram detectados 720 balões carregando sacolas com diversos objetos, incluindo bitucas de cigarro. "A cada hora, entre 20 e 50 balões passaram pelo ar", declarou o Estado-Maior Conjunto da Coreia do Sul em comunicado.
De acordo com Pyongyang, o total de balões enviados foi ainda maior: 3.500 infláveis transportando 15 toneladas de lixo, conforme informou o vice-ministro da Defesa da Coreia do Norte, Kim Kang-il. Em comunicado divulgado pela agência estatal, o representante afirmou que a Coreia do Sul agora teve uma amostra de como é "desagradável" lidar com a coleta de rejeitos.
Foram ao menos três remessas em uma semana antes do contra-ataque da Coreia do Sul. Na quinta-feira, 6, balões com dólares, pen-drives de k-pop e panfletos contra Kim Jong-un foram enviados para a Coreia do Norte por um grupo sul-coreano formado por pessoas desertoras do país comunista.
Segundo o grupo, dentro dos 10 balões haviam:
Inicialmente, um funcionário do gabinete presidencial da Coreia do Sul afirmou que Seul responderia com calma à provocação. "Ao colocar lixo e objetos diversos em balões, eles parecem querer testar como nosso povo reagiria e se nosso governo de fato seria perturbado", afirmou ele a jornalistas um dia após o primeiro envio de balões, na quarta-feira, 29.
No entanto, alguns dias depois, o gabinete do presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol acusou o país vizinho de "provocações sujas que nenhum país normal imaginaria" e afirmou que Seul começaria a tomar "medidas que a Coreia do Norte consideraria insuportáveis", como a transmissão de propaganda e música k-pop por alto-falantes ao longo da fronteira.
Ao enviar os objetos ao espaço aéreo vizinho, Pyongyang afirma estar devolvendo "na mesma moeda" ações de desertores norte-coreanos que vivem na Coreia do Sul e espalharam "panfletos e várias coisas sujas" na fronteira. Ativistas sul-coreanos enviam regularmente infláveis contendo panfletos ‘anti-Pyongyang’, comida, remédios, dinheiro e pen drives com vídeos de música k-pop.
As provocações entre Coreia do Norte e Coreia do Sul são frequentes. Desde o armistício que pôs fim à Guerra da Coreia em 1953, as duas nações tecnicamente ainda estão em conflito e são separadas por uma zona desmilitarizada.
Geralmente, as provocações envolvem exercícios militares e lançamentos de mísseis, como ocorreu na última quinta-feira, 30, quando a Coreia do Norte disparou cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance nas águas ao leste da península, conforme relatado por Seul.
A estratégia recente remonta aos tempos da Guerra Fria, quando as duas Coreias tentavam influenciar uma à outra através de transmissões de rádio. Ao longo da zona desmilitarizada, alto-falantes bombardeavam os soldados rivais dia e noite com canções de propaganda, enquanto cartazes incentivavam os militares a desertar para um "paraíso do povo" no Norte ou para o Sul "livre e democrático".
Naquela época, o envio de balões ao espaço aéreo vizinho já era uma prática comum em ambos os lados. Milhões de panfletos difamatórios sobre o país vizinho eram espalhados pela Península Coreana, material que tanto o Norte quanto o Sul proibiam suas populações de ler ou guardar. No Sul, a polícia incentivava as crianças a denunciar os panfletos que encontravam, oferecendo recompensas como lápis e outros materiais escolares.
Hoje, Seul e Pyongyang continuam em uma delicada troca de provocações e respostas, cada uma testando os limites da outra. A resposta firme da Coreia do Sul e a promessa de medidas "insuportáveis" destacam a fragilidade das relações na Península Coreana e o potencial para futuras escaladas.
(Com AFP e O Globo)