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Por que a China sai ganhando com a volta do Talibã no Afeganistão

Templo budista já foi entrave para projetos chineses no país, que possui mega reservas de minérios; ministro de relações exteriores chinês se encontrou com Talibã em julho

Centenas de pessoas esperam esperam voos no aeroporto de Cabul para poder sair do Afeganistão (WAKIL KOHSAR/AFP via Getty Images/Getty Images)

Centenas de pessoas esperam esperam voos no aeroporto de Cabul para poder sair do Afeganistão (WAKIL KOHSAR/AFP via Getty Images/Getty Images)

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Carla Aranha

Publicado em 16 de agosto de 2021 às 13h23.

Enquanto milhares de afegãos fogem para o aeroporto, desesperados para sair do país depois da queda do governo e a vitória do Talibã, escavadeiras e operários se preparam para recomeçar o trabalho em minas gigantes no interior. O Afeganistão, habitado por 38 milhões de pessoas, possui mega reservas de minérios avaliadas entre 1 e 3 trilhões de dólares, incluindo o segundo maior depósito não explorado de cobre do mundo. Toda essa riqueza não passou desapercebida – não para a China, pelo menos, que fechou um contrato para exploração de cobre no país em 2008, quando o Afeganistão lutava para se reerguer economicamente. Mas os dividendos milionários nunca chegaram.

Em 2013, o consórcio chinês encarregado do projeto tentou renegociar a concessão, alegando que o minério precisaria ser processado fora do país, com custos maiores do que os estimados inicialmente, e por isso considerava justa uma redução no pagamento de royalties. O governo afegão negou – e o imbróglio não acabou aí.

Acontece que embaixo das reservas de cobre há um antigo templo budista, considerado uma relíquia arqueológica. Mesmo com a transferência de 2 mil objetos budistas para um museu em Cabul, a preocupação com a possível destruição do local não se dissipou, com várias discussões sobre os possíveis impactos da operação no sítio arqueológico, e as obras pararam.

A história quase mudou de rumo em 2016, quando o Talibã – o próprio – anunciou que estava dando o sinal verde para a China explorar as reservas de cobre. Como o grupo dominava apenas algumas áreas rurais e não ocupava o poder central, o anúncio não chegou a ser levado a sério.

Nos bastidores, a impressão geral era que o governo do Afeganistão, então apoiado pelos Estados Unidos, dificilmente concordaria com iniciativas que poderiam beneficiar a China, potência rival da Casa Branca.

O governo chinês nunca escondeu os esforços diplomáticos em manter boas relações com o Talibã. Em julho deste ano, houve um encontro entre o ministro de relações internacionais da China, Wan Yi, com a comissão de assuntos externos do Talibã, liderada por Abdul Ghani Baradar, na cidade de Tianjim. O resultado parece ter sido positivo para a China. “O Talibã nunca vai permitir o uso de força em atos cometidos em detrimento da China. Acreditamos que o Afeganistão deve desenvolver relações amistosas com os países vizinhos”, disse Baradar na ocasião. A China já reconheceu o novo governo no Afeganistão.

Além de ter acesso aos depósitos minerais na região, que incluem reservas de ferro estimadas em 420 bilhões de dólares e 81 bilhões de dólares de nióbio, fora metais raros cruciais para a indústria de ponta, a China também pretende desenvolver a infraestrutura necessária para o Afeganistão entrar na Nova Rota da Seda, megaprojeto mundial de construção de portos, estradas e ferrovias ligando três continentes, a Ásia, África e Europa, bancado pelo governo chinês. Situado entre a Ásia Central e Oriente Médio (e vizinho da China), o Afeganistão ocupa uma posição estratégica nesse contexto. No passado, o país foi um ponto importante da rota comercial entre a Europa e Ásia.

 

 

 

 

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