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Por que a atividade da China no Canal do Panamá preocupa tanto os EUA de Trump?

Subcomitê de Segurança Marítima e Transportes dos EUA convoca especialistas para entender 'apetite voraz' dos chineses

Agência o Globo
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Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 07h15.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 07h16.

Os Estados Unidos estão preocupados com a expansão econômica da China nas Américas, em particular quanto aos seus investimentos nos portos, mas isso representa uma ameaça à segurança nacional? Como se contrapor?

O subcomitê da Segurança Marítima e de Transportes da Câmara dos Deputados dos EUA convidou, este mês, vários especialistas, para opinarem sobre o assunto. Veja a seguir algumas das conclusões.

Portos nas Américas

As empresas chinesas investiram no setor portuário de sete países do continente, incluindo cinco terminais dos EUA, afirmou Isaac Kardon, pesquisador de estudos sobre a China do Fundo Carnegie para a Paz Internacional em Washington. Segundo ele, cum movimento capitaneado pelas estatais Costco e China Merchants, além do conglomerado privado CK Hutchinson Holdins.

"Em comparação com outras regiões, elas têm uma presença relativamente modesta nas Américas, com investimentos em 15 portos em um total de 95", disse Kardon.

Para o especialista, as empresas chinesas possuem participações minoritárias nos EUA, geralmente em conjunto com companhias locais. Mas realizaram investimentos "particularmente estratégicos" no Panamá, Peru e Brasil

Canal do Panamá

O Canal do Panamá foi construído pelos Estados Unidos e inaugurado em 1914. No entanto, foi entregue aos panamenhos em dezembro de 1999, em virtude de tratados bilaterais.

A Hutchinson Ports PPC, também conhecida como Panama Ports Company SA, gerencia o porto de Cristóbal, no lado Atlântico do canal, e o de Balboa, no lado Pacífico, desde 1997. Os Estados Unidos consideram esses portos uma ameaça à sua segurança.

Matthew Kroenig, vice-presidente e diretor do Centro Scowcroft de Estratégia e Segurança do Atlantic Council em Washington, acredita que a China poderia tentar dificultar o comércio através do canal.

"A China envia por meio da via interoceânica substâncias com as quais é fabricado o fentanil, um opioide sintético, e opera com tecnologia de vigilância usada para coletar informação", sustentou Kroenig.

Já Kardon aconselha que os EUA ajam estreitamente com o Panamá para, por exemplo, "atrair capital privado para assumir qualquer concessão rescindida e expandir e modernizar as instalações". Por ora, o país latino aguarda os resultados de uma "auditoria integral" sobre a Panama Ports.

Ameaça para a segurança dos EUA?

O pesquisador do Carnegie aponta duas áreas de preocupação: o uso dessas infraestruturas para acumular poder na região e exposição a "vulnerabilidades físicas e digitais", como equipamentos fabricados na China e software integrado nos sistemas.

"No âmbito militar, a presença naval chinesa na América é relativamente modesta e a correlação de forças favorece esmagadoramente os Estados Unidos, porque Pequim se centra no Pacífico ocidental visando tomar o controle de Taiwan no futuro", disse Kardon.

Kroenig, por sua vez, acredita que a China representa a maior ameaça contemporânea para a segurança nacional dos Estados Unidos no caso de uma crise ou guerra.

"É um desafio integral com dimensões econômicas, tecnológicas, diplomáticas, ideológicas e militares", elencou, acrescentando: "A América Latina e o Caribe costumam se sentir atraídos pelos investimentos em infraestrutura da China, mas eles têm um preço, porque através deles consolida o acesso a recursos, capta as elites, ganha influência sobre os governos, muda as políticas nacionais a seu favor e mina as normas democráticas, a transparência e os padrões ambientais".

Como os EUA deveriam se contrapor?

A China investe em infraestrutura portuária devido a suas "vantagens econômicas e geopolíticas", assegurou Cary Davis, presidente e diretor-geral da Associação Americana de Autoridades Portuárias (AAPA). Ele diz que os Estados Unidos têm que aumentar os investimentos diretos nos portos nacionais e nos países aliados.

Para Kardon é essencial implementar medidas de cibersegurança estritas e obrigatórias.

Kroening recomenda a Washington fomentar que os países da região deixem de colaborar com a China "em áreas de preocupação", mas avalia que poderiam seguir fazendo isso em outras "não sensíveis, como a agricultura". Ele pede ainda que sejam oferecidas "alternativas aos investimentos chineses", incentivando o setor privado.

Diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, Ryan C. Berg aconselha Washington a mudar de estratégia, citando o caso do porto peruano de Chancay.

"É muito mais fácil jogar no ataque do que simplesmente jogar na defesa. É preferível envolver o setor privado americano do que tentar fazer com que os peruanos se desfaçam desse novo mega porto", comenta.

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