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Por baixo da burca, afegãs aderem à cirurgia plástica

Antes, a maioria das operações era realizada para corrigir feridas de guerra ou cicatrizes da violência doméstica; hoje, as cirurgias no nariz são as mais populares


	Mulher de burca em Cabul: elas são expostas às tendências no Irã, Dubai e países europeus, e se dispõem a mudar o corpo puramente por razões cosméticas
 (Johannes Eisele/AFP)

Mulher de burca em Cabul: elas são expostas às tendências no Irã, Dubai e países europeus, e se dispõem a mudar o corpo puramente por razões cosméticas (Johannes Eisele/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2014 às 13h11.

Cabul - Apesar de viver a maior parte de suas vidas embaixo de um véu, algumas mulheres afegãs estão sentindo a pressão de se adequar aos ideais atuais de beleza feminina ocidentais e recorrendo à cirurgia plástica em clínicas de Cabul.

Há pouco tempo, a maioria das operações era realizada para corrigir feridas de guerra ou cicatrizes da violência doméstica, ataques com ácido ou autoimolação de mulheres desesperadas nos tempos difíceis de uma sociedade dominada por homens.

Hoje, as cirurgias no nariz são as mais populares, seguidas por lifts faciais, aumento de seios e cirurgias abdominais.

"Há dez anos era apenas reparar cicatrizes", diz o doutor Aminullah Hamkar, 53 anos, que gerencia uma clínica em Cabul.

"Às vezes eu pergunto às jovens que vêm aqui porque elas querem cirurgias plásticas, elas dizem simplesmente que querem parecer melhores e bonitas", diz o médico.

Esse é um bom sinal, diz Hamkar, mostra que as pessoas, pelo menos na capital, estão superando a violência da insurgência talibã linha dura e contemplando ideias reservadas aos tempos de paz.

"Eu sempre tive inveja ao ver que minhas irmãs e outras tinham narizes maiores e mais longos, enquanto o meu nariz era pequeno e reto", diz Shaida, uma jovem de 18 anos que fez uma cirurgia para aumentar o nariz na clínica de Hamkar.

Shaida é da minoria étnica Hazara, cuja maioria tem semblantes mongóis, com olhos amendoados e narizes mais retos que os outros afegãos. A jovem, que trabalha como policial, procurou pela cirurgia plástica após ver suas amigas mudarem o formato de seus narizes e olhos.


"Agora que eu tenho um nariz maior, me sinto mais confortável e satisfeita", diz Shaida sorrindo.

Os dois cirurgiões da clínica fazem em média duas cirurgias cosméticas por semana, além das operações regulares com fins médicos e reconstrutivos.

A maioria das cirurgias são feitas com anestesia local para cortar os custos. Para o aumento do nariz, em vez de usar silicone, os médicos cortam a cartilagem de uma costela, moldam no formato certo e utilizam no paciente.

Um aumento de nariz típico custa cerca de 300 dólares, mais de um salário mensal para a maioria dos afegãos, mas desde a queda do regime talibã há 11 anos, o afluxo de bilhões de dólares em ajuda levou à ascensão urgente de uma classe média.

Elas são expostas às tendências no Irã, Dubai e países europeus, e dispostas a pagar por uma cirurgia plástica puramente por razões cosméticas.

Hamkar conta a história de uma jovem de 18 anos cujo marido reclamou, no retorno de uma viagem a Dubai, que os seios estava caídos e diferentes dos padrões de lá e que não queria mais ela. A garota, de uma província conservadora dominada pela insurgência no leste do Afeganistão, casou e teve filhos muito cedo, além de amamentá-los.


"Para mim, que trabalho com cirurgia plástica há anos, ver esses casos em outros países não é nada novo, mas é algo novo aqui no Afeganistão", diz o médico.

"Seu marido viajou para uma cidade mais aberta e liberal como Dubai, provavelmente viu mulheres bonitas e em boa forma e após seu retorno ele não gostou mais da forma da mulher e até aprovou sua ida ao cirurgião plástico".

"A percepção de muitas pessoas de vida e sexo muda após sua volta de uma viagem a um lugar menos conservador."

Mohammad Ibrahim, oficial do exército na reserva cuja filha quer diminuir o nariz -a família pertence ao grupo étnico Tajik- diz que concorda com a operação porque vai fazê-la sentir melhor.

"Nos anos 60 e 70, o governo nos encorajava a aprender sobre diferentes culturas e até mesmo, como funcionários do governo, eles nos ajudavam a viajar para diferentes países". Mas, segundo ele, décadas de guerra após a invasão soviética em 1979 e a ascensão ao poder dos talibãs "privou os jovens afegãos dos direitos humanos".

"Hoje nós aproveitamos uma relativa democracia e eu não quero que minha filha se sinta feia e isolada", diz Ibrahim. "É por isso que eu concordei facilmente em trazê-la aqui, para que ela tenha um nariz melhor e se sinta feliz".

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