Itália: As críticas ao continente também se devem à gestão do fenômeno migratório (Alexander Shcherbak/Getty Images)
EFE
Publicado em 13 de dezembro de 2018 às 17h27.
Roma - Em 2018, o populismo do Movimento 5 Estrelas (M5S) e a extrema-direita com Liga Norte conseguiram chegar ao poder e formar seu "governo da mudança" na Itália, após superar "na última hora" o bloqueio surgido com as históricas eleições de março.
O ano começou com uma campanha eleitoral acirrada, na qual o centro dos ataques foi o Partido Democrata (PD, centro-esquerda), que tinha governado com altos e baixos os últimos cinco anos, pagando por isso o alto preço das divisões e fraturas internas.
Até 4 de março, dia das eleições, o problema da imigração esteve muito presente após a maciças ondas de refugiados do norte da África, assim como o auge do racismo, constatado no tiroteio de fevereiro em Macerata, onde um neonazista feriu seis imigrantes.
Neste clima, os eleitores tiveram que escolher entre um PD exausto nas mãos de Matteo Renzi, a coalizão de direita entre a Liga Norte de Matteo Salvini e Silvio Berlusconi, ou um M5S liderado por Luigi di Maio, que abraçou o discurso da indignação.
Os italianos fizeram do M5S a legenda mais votada sozinho, algo que já tinha ocorrido em 2013 - embora não tenha governado por não ter maioria - e o PD foi o segundo, mas acima de todos eles apareceu a coalizão de direita, também sem maioria.
Este cenário fragmentado deu origem a negociações ferozes nas quais o M5S, como força mais votada, teve que buscar aliados: em primeiro lugar procurou o PD, que não quis se aproximar, e depois se dirigiu a uma parte da direita.
O interesse passou a ser pela Liga Norte, mas para fechar o pacto exigiu o rompimento da união com Berlusconi, o que ao final aconteceu e ambos os partidos formaram seu "governo da mudança" com a assinatura de um "contrato" que pautou seus objetivos na legislatura.
O M5S, fundado em 2009 contra o sistema político tradicional, chegou ao poder depois de uma ascensão paulatina e a conquista de várias cidades, entre elas Roma, graças ao voto do descontentamento e da indignação, sobretudo depois da crise.
E Salvini, líder da Liga Norte desde 2013, não só foi capaz de fazer deste velho partido regional que promovia a independência do norte uma força nacional e defensor da soberania, mas também o levantou como principal alternativa direitista, desbancando Berlusconi.
As negociações para formar governo também demonstraram o poder do chefe de Estado, Sergio Mattarella, que teve pulso firme na hora de vetar um candidato a primeiro-ministro eurocético.
Só depois de 89 longos dias, finalmente foi formado o novo governo, presidido pelo desconhecido jurista Giuseppe Conte e com os chefes do M5S e da Liga Norte como vice-presidentes, Luigi Di Maio e Salvini, respectivamente.
Não faltaram sustos durante as negociações entre o M5S e a Liga, como quando vazou uma minuta do seu acordo de governo no qual era contemplada a possibilidade de sair do euro, uma ideia posteriormente eliminada.
E o governo não disfarça sua postura muito crítica com a União Europeia (UE) e agora trava uma queda de braço com a Comissão Europeia (CE) para conseguir a aprovação dos orçamentos expansivos.
Segundo o novo Executivo, um maior endividamento ajudaria o país a deixar para trás os anos da austeridade e permitiria melhorar suas infraestruturas, sobretudo após o pior momento do ano, o desabamento da ponte de Gênova, que deixou 43 mortos.
As críticas ao continente também se devem à gestão do fenômeno migratório, pois Roma reivindicou aos seus parceiros um maior envolvimento na distribuição dos imigrantes que chegam à sua costa.
Salvini, como ministro do Interior, impulsionou uma dura política de portos fechados para impedir o desembarque dos imigrantes e não poupou críticas às ONGs que salvavam vidas no Mediterrâneo, algumas perseguidas judicialmente.
Tudo isso apesar de 2018 ter sido o ano no qual as chegadas de imigrantes se reduziram drasticamente.
Após meio ano no poder, o M5S e a Liga aprovaram uma lei que dificulta a situação dos imigrantes solicitantes de asilo e cortaram as pensões vitalícias no Parlamento.
Agora o governo se prepara para impulsionar sua medida principal, tão logo o Parlamento aprove seu orçamento: uma renda para desempregados, a reforma do Sistema de Pensões que foi implantado nos anos da crise e um imposto fixo para empresas, entre outras muitas.