Mundo

População dos EUA teve o maior crescimento dos últimos 20 anos. O motivo? Imigrantes

Dados revelam que a imigração foi responsável por mais de 80% do aumento populacional entre 2023 e 2024

Imigrantes têm papel decisivo no crescimento populacional e econômico dos EUA. (Joe Raedle/Getty Images)

Imigrantes têm papel decisivo no crescimento populacional e econômico dos EUA. (Joe Raedle/Getty Images)

Publicado em 8 de janeiro de 2025 às 11h14.

O mais recente levantamento do Censo dos Estados Unidos revela que a população do país cresceu quase 1% entre julho de 2023 e julho de 2024, alcançando a marca de 340 milhões de habitantes. Essa foi a maior taxa de crescimento em mais de duas décadas, resultado diretamente ligado ao aumento da imigração, que representou mais de 80% do crescimento populacional no período, contrastando com níveis ainda baixos de crescimento natural (excesso de nascimentos sobre mortes).

O levantamento de William H. Frey, pesquisador do instituto Brookings, think tank baseado em Washington DC, destaca a importância da imigração como motor do crescimento populacional em um cenário de envelhecimento da população e taxas de natalidade reduzidas.

Aumento populacional dos EUA por ano, de 1º de julho a 30 de junho de cada ano (Brookings/Divulgação)

Especialistas indicam que, sem um aumento significativo nos nascimentos ou uma redução nas mortes, a imigração será essencial para sustentar o crescimento demográfico dos EUA no futuro.

"Em um cenário hipotético com imigração zero, podemos esperar um declínio populacional nacional em breve; e, com níveis de imigração semelhantes aos observados durante o primeiro governo Trump, a população começará a diminuir em cerca de 20 anos, período em que também veremos o fim do crescimento da nossa força de trabalho", escreve Frey.

A menos de duas semanas do início do novo mandato de Trump, o tema — que faz parte de um dos principais desafios da nova gestão — ganhará cada vez mais atenção do noticiário. Durante a campanha, o republicano prometeu fazer deportações em massa — e resta saber como o sistema judicial responderá a essas medidas, reeditando uma batalha jurídica que dominou parte do seu primeiro mandato.

LEIA TAMBÉM: Trump 2.0: os 6 desafios que ele enfrentará na volta à Casa Branca

A imigração supera o crescimento natural

Os dados mostram que, antes da pandemia de COVID-19, o crescimento populacional nos Estados Unidos era majoritariamente impulsionado pelo crescimento natural.

No entanto, a combinação de uma população envelhecida e os impactos diretos da pandemia— com aumento de mortes e redução de nascimentos — fez com que a imigração assumisse o papel principal no crescimento populacional do país.

Entre 2021 e 2024, a imigração líquida aumentou consideravelmente, passando de 1,7 milhão para 2,8 milhões, representando o maior componente do crescimento populacional nesse período. Apesar de melhorias modestas nas taxas de nascimentos e mortes após a pandemia, os níveis de crescimento natural permanecem bem abaixo dos padrões históricos.

O gráfico mostra em azul o saldo total de novos imigrantes no país e, em amarelo, o saldo do aumento populacional natural (nascimentos menos mortes) (Brookings/Divulgação)

Contribuição da imigração em diferentes estados

O impacto da imigração não se limita a grandes estados e áreas metropolitanas. Dados do censo indicam que, em 38 estados, a imigração representou pelo menos metade do crescimento populacional entre 2023 e 2024.

Em 16 desses estados, a imigração foi responsável por 100% do crescimento, compensando perdas por migração doméstica e taxas de mortalidade superiores aos nascimentos.

Estados tradicionalmente populares entre imigrantes, como Califórnia, Nova York e Nova Jersey, registraram ganhos populacionais significativos devido à imigração, após terem enfrentado perdas durante os anos de pico da pandemia. Além disso, estados menores, como Louisiana e Rhode Island, também tiveram sua população sustentada exclusivamente pela imigração.

A migração doméstica— fluxos entre estados — teve papel reduzido no crescimento populacional de muitas regiões. Durante os anos de pandemia, houve um aumento na migração do Cinturão da Neve (Norte) para o Cinturão do Sol (Sul), especialmente para estados como Texas e Flórida.

No entanto, aponta o pesquisador do Brookings, esse movimento diminuiu nos últimos dois anos, enquanto a imigração internacional assumiu maior relevância no crescimento populacional desses estados.

Estados como Flórida e Texas, que anteriormente dependiam fortemente da migração doméstica, agora têm a imigração como principal motor de crescimento populacional. Por outro lado, estados como Califórnia e Nova York, que enfrentavam perdas significativas devido à migração interna, estão compensando essas perdas com um aumento da imigração internacional.

Desafios e perspectivas para o futuro

Os dados também sugerem que o futuro demográfico dos EUA dependerá cada vez mais da imigração. Projeções recentes indicam que, em um cenário de imigração nula, a população dos EUA começaria a declinar em breve, levando a impactos negativos na força de trabalho e na economia do país.

Embora a imigração seja um tema de intenso debate político, o Censo demonstra que, do ponto de vista numérico, sua contribuição é indispensável para a estabilidade populacional e econômica. Com o envelhecimento da população e a queda na taxa de natalidade, os Estados Unidos enfrentam desafios significativos para manter o crescimento.

"Mesmo com os níveis de imigração observados no início dos anos 2010, o crescimento populacional parará após 2080. Somente com altos níveis de imigração (cerca de 1,5 milhão de pessoas por ano) a população continuará crescendo pelo restante do século", escreve Frey.

Acompanhe tudo sobre:Estados Unidos (EUA)Imigração

Mais de Mundo

Prefeita de Los Angeles demite chefe dos bombeiros por gestão de incêndios

Juiz adia julgamento de prefeito de Nova York por corrupção, mas rejeita arquivar o caso

Homem é gravemente ferido após ser atacado no memorial do Holocausto em Berlim

Procuradoria rejeita denúncia de Evo Morales sobre suposto 'atentado' na Bolívia