A Índia é um país marcado pelo secularismo e diversidade religiosa, embora os hindus componham mais de 80% da população (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2011 às 10h24.
Nova Délhi - Incapazes de resolver suas diferenças por vias mundanas, dois políticos de Bangalore, no sul da Índia, decidiram recorrer às mais altas instâncias e realizarão uma acareação em um templo para descobrir, perante os deuses hindus, qual deles está mentindo.
Os protagonistas desta história são o chefe do Governo regional de Karnataka, cuja capital é Bangalore, B. S. Yeddyurappa, e seu principal rival, H. D. Kumaraswamy, enredados em uma azeda disputa sobre uma tentativa de suborno político.
Kumaraswamy acusou Yeddyurappa, do partido nacionalista hindu Bharatiya Janata Party, de ter usado intermediários para oferecer a ele uma quantia econômica para que seu partido, o Janata Dal, deixasse de denunciar escândalos de corrupção.
O chefe do Governo, que do alto dos seus 68 anos estava se submetendo a um tratamento de rejuvenescimento, reagiu ao estilo John Wayne: desafiando seu rival para um duelo na presença do deus do templo de Dharmastala.
"Escolha data e hora e jure ao deus Manjunatha. Admirarei sua coragem de manter suas acusações perante o todo-poderoso. Eu estou pronto para jurar que o que você diz é falso", afirmou.
"Já basta de jogar pedras e esconder a mão, com acusações sérias para depois fugir como um covarde", acrescentou em um texto publicitário publicado por diferentes meios de comunicação neste final de semana.
A Índia é um país marcado pelo secularismo e diversidade religiosa, embora os hindus componham mais de 80% da população, e na prática a maioria dos políticos utilizam de uma forma ou outra as brechas religiosas. No entanto, nunca dois altos dirigentes democráticos tinham levado até este nível uma polêmica política.
As autoridades do templo de Dharmastala acreditam que não serão registrados problemas de ordem pública. "Quem quer um conflito não vem ao templo", declarou à Agência Efe o chefe do Comitê do Templo de Dharmastala, Virendra Heggade, que descartou a necessidade de segurança adicional.
"Estou certo que será um juramento pacífico. Estes tipos de promessas são frequentes porque para muitos é um alívio de consciência, e se os políticos quiserem, estamos prontos", esclareceu Heggade.
Porém, nas últimas horas crescem as vozes críticas ao duelo, marcado para dia 27 de junho, e classificam como sacrílego o fato de questões políticas chegarem à arena religiosa.
"Eles ganharão a maldição de Manjunatha se transformarem o templo em um lugar para discussão política", afirmou ao jornal indiano "DNA" o guru Visveshatheertha.
"Estou disposto a me submeter inclusive a um detector de mentiras ou ao soro da verdade", disse à imprensa Kumaraswamy, que acusa um ajudante de seu rival chamado Lehar Singh pela tentativa de suborno.
O resultado, no entanto, provavelmente será o empate - a menos que Manjunatha se pronuncie de algum modo, como Heggade garantiu à Efe. "Se fizer uma promessa falsa perante Manjunatha, o deus te castigará", finalizou.