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Policiais se unem a protestos contra o preconceito racial

Protestos exigem a verdade sobre as circunstâncias da morte do jovem negro abatido por um policial branco

O ex-policial aposentado da polícia da Filadélfia Ray Lewis conversa com pessoas em Ferguson (Robert Macpherson/AFP)

O ex-policial aposentado da polícia da Filadélfia Ray Lewis conversa com pessoas em Ferguson (Robert Macpherson/AFP)

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Da Redação

Publicado em 22 de agosto de 2014 às 17h05.

Ferguson - Ex-policiais aposentados se uniram aos manifestantes da localidade de Ferguson (Missouri, centro) para exigir a verdade sobre as circunstâncias da morte do jovem negro abatido por um policial branco e denunciar o sistema penal americano.

"Há milhares de Ferguson nos Estados Unidos", assegurou Ray Lewis, ex-policial branco aposentado há 8 anos. "Todo o sistema está corrompido. Os negros sabem bem disso, pois são suas vítimas durante toda sua vida".

"Estas pessoas foram exploradas e oprimidas toda sua vida", acrescentou o policial que atuou nas ruas da Filadélfia por 24 anos.

Militante comprometido - ele se manifestou usando uniforme em Nova York, em 2011, pelo movimento Occupy Wall Street -, Lewis chegou a este subúrbio de St Louis para denunciar a militarização das equipes policiais e a privatização das prisões.

Matthew Fogg, outro ex-policial federal de Washington, também afirmou que "os Estados Unidos continuam sendo um país muito dividido em termos raciais".

"As relações entre negros e as forças de segurança são muito tristes", acrescenta o ex-policial negro que, em 1998, ganhou um julgamento contra o Estado por um caso de discriminação racial nas fileiras da Polícia Federal.

Ele explicou ainda que existem santuários nos Estados Unidos que escapam das operações antidrogas nas quais brancos também podem ser detidos.

"Os superiores nos diziam: 'se você for lá, aquela gente conhece juízes, advogados e políticos e pode fazer fracassar a operação", conta.

Em consequência, os negros, segundo ele, têm muito mais possibilidades que os brancos de serem detidos e enviados à prisão por casos envolvendo drogas.

"Como policial, simpatizo com meus colegas porque sei o que têm de passar nas ruas, mas também sei que há uma cultura de indiferença, que faz com que as coisas não mudem".

A morte de Michael Brown, um negro de 18 anos abatido pelo policial branco Darren Wilson em 9 de agosto na cidade de Fergunson trouxe à tona a diferença de percepção de brancos e negros em relação à polícia e à justiça, segundo revelou uma pesquisa publicada nesta sexta-feira.

Uma maioria dos cidadãos negros (57%) considera que "não é justificada", opinião que apenas uma minoria dos brancos (19%) compartilha.

A pesquisa feita para o jornal The New York Times e o canal CBS News mostra que 68% dos brancos acham, na realidade, que não existem elementos suficientes para se pronunciar num sentido ou em outro, mas esta comunidade considera majoritariamente (67%) que os manifestantes de Ferguson foram muito longe nos distúrbios registrados na cidade.

Por outro lado, apenas 11% dos negros se sentem confiantes que as autoridades locais realizarão uma investigação justa, enquanto que 31% dos brancos confiam no sistema.

A pesquisa foi realizada em 19 e 20 de agosto pela empresa SSRS of Media, que entrevistou 1.025 pessoas por telefone.

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch pediu ao governo americano que melhore o sistema de identificação de abusos policiais, que não inclui os agentes locais.

A ONG também pediu ao Congresso que revogue uma lei que prevê a formação dos policiais em técnicas com perfis raciais. Vários representantes da HRW vêm denunciando a violência policial em Ferguson.

O presidente Barack Obama também se manifestou após a série de distúrbios causada pelo incidente. Em um discurso considerado muito cauteloso pelos observadores, exigiu moderação às forças de segurança e aos manifestantes, pedindo que evitem violências porque isso apenas enfraquece a busca pela justiça.

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