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Polícia de Hong Kong retoma parlamento após invasão de manifestantes

Protestos refletem temor de moradores frente à influência do governo chinês no país e ocorrem no 22º aniversário da devolução do território à China

Hong Kong: autoridades e manifestantes se enfrentam em meio a protestos no País (Tyrone Siu/Reuters)

Hong Kong: autoridades e manifestantes se enfrentam em meio a protestos no País (Tyrone Siu/Reuters)

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AFP

Publicado em 1 de julho de 2019 às 16h33.

Policiais do Batalhão de Choque de Hong Kong retomaram, nesta segunda-feira (1), o controle do Parlamento, que havia sido invadido por manifestantes horas antes, em um dia de caos sem precedentes.

O prédio foi completamente tomado pela Polícia, e apenas alguns jornalistas foram mantidos do lado de dentro. Ativistas contrários ao governo invadiram o Parlamento e ocuparam o local durante uma grande manifestação pelo 22º aniversário da devolução do território para a China.

Os manifestantes ocuparam o principal recinto do Parlamento, picharam paredes e colocaram uma bandeira da época colonial britânica na mesa do plenário, segundo um jornalista da AFP. A Polícia usou gás lacrimogêneo e cassetetes para dispersar a multidão que se instalou no prédio. Nas últimas semanas, o Parlamento se tornou foco das manifestações contra um projeto de lei do governo para autorizar extradições à China continental.

Dezenas de pessoas com o rosto coberto invadiram o espaço, após quebrarem janelas, cantando palavras de ordem e pintando de preto o escudo da cidade. As manifestações refletem o temor dos moradores de Hong Kong frente à crescente influência do governo da China, com a ajuda dos líderes do mundo das finanças na cidade.

Nesta segunda, o Reino Unido manifestou seu apoio "inequívoco" às liberdades de Hong Kong. Já a União Europeia (UE) pediu que "se evite a escalada" e convocou as partes envolvidas ao diálogo. "As ações de hoje, por parte de um pequeno número de pessoas, não são representativas da grande maioria dos manifestantes, que foram pacíficos" até agora, afirmou, em nota, uma porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Na madrugada de segunda, jovens encapuzados já haviam ocupado e bloqueado as três principais avenidas de Hong Kong com grades de metal. Equipados com cassetetes e escudos, policiais se posicionaram diante dos manifestantes. Os agentes usaram gás lacrimogêneo, e os ativistas responderam com o lançamento de ovos.

Pouco antes da tradicional cerimônia de hasteamento das bandeiras de China e Hong Kong pelo aniversário da retrocessão de 1º de julho de 1997, a polícia disparou contra a multidão. Um manifestante sangrava na cabeça, constatou um jornalista da AFP. "Quando ouvi que havia confrontos do lado de fora (do Parlamento), realmente me preocupei", disse Amy Siu, uma contadora de 37 anos que participa da manifestação. "Eu me preocupo com a segurança desses jovens. Espero que sejam racionais", acrescentou. "Não acuso os jovens, acuso o governo", disse um manifestante de 80 anos que se identificou apenas como Yeung.

Erosão das liberdades

O movimento nasceu da rejeição ao projeto de lei sobre extradições e ganhou força. Passou a denunciar as ações do governo local, depois que muitos cidadãos de Hong Kong perderam a confiança nas autoridades. Muitos consideram que o Executivo tem permitido a erosão de suas liberdades.

Hong Kong foi transferida do Reino Unido para a China em 1997, mas o território ainda é administrado sob um acordo conhecido como "um país, dois sistemas". Desta maneira, os habitantes do território desfrutam de direitos raramente vistos na China continental. Muitas pessoas dizem perceber, porém, que Pequim vai, lentamente, deixando o acordo de lado.

A cada aniversário da retrocessão, os ativistas locais organizam grandes manifestações para exigir direitos democráticos, incluindo a possibilidade de escolher o Executivo local por sufrágio universal. Nos últimos anos, os ativistas conseguiram mobilizar grandes multidões - incluindo uma ocupação de dois meses em 2014 -, mas não conseguiram qualquer concessão importante por parte de Pequim.

Os protestos deste ano acontecem, porém, após três semanas de manifestações contra o polêmico projeto de lei que permitiria a extradição de detidos em Hong Kong para serem processados na Justiça da China continental. Os manifestantes também exigem a renúncia da chefe de Governo local, Carrie Lam, assim como a retirada das acusações contra as pessoas detidas nos protestos das últimas semanas.

Depois de perceber a dimensão da insatisfação popular, Carrie Lam decidiu suspender temporariamente a análise do polêmico projeto de lei.

Os ativistas, jovens estudantes em sua maioria, prometeram continuar sua campanha de desobediência civil. "Aconteça o que acontecer, não perderemos o ânimo", garantiu Jason Chan, de 22 anos. "A resistência não é uma questão de um dia, é de longo prazo", completou.

No domingo, milhares de simpatizantes do governo expressaram seu apoio à polícia, uma demonstração do racha crescente na sociedade de Hong Kong.

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