Yair Lapid, o líder do partido moderado israelense Yesh Atid: "quero ser muito claro sobre a repartição equitativa da obrigação: ou há equidade ou o Governo virá abaixo", declarou (Jack Guez/AFP)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2013 às 12h56.
Jerusalém - O ministro israelense de Finanças, Yair Lapid, líder do principal parceiro na coalizão do Governo de Israel, ameaçou nesta segunda-feira derrubar o Executivo se o alistamento do serviço militar não for universalizado.
"Quero ser muito claro sobre a repartição equitativa da obrigação: ou há equidade ou o Governo virá abaixo", declarou Lapid em reunião de seu partido, o Yesh Atid, segunda força política de Israel.
Lapid, um ex-jornalista que centrou sua campanha eleitoral no apoio à classe média e à extensão do serviço militar (ou uma prestação de substituição) aos coletivos isentos (judeus ultra-ortodoxos e árabes de Israel), insistiu na seriedade de sua ameaça.
"Quem pensa que eu entrei na política somente para resolver a catástrofe econômica deixada pelo Govenro anterior, não entende o que fazemos aqui", disse em referência aos cortes e altas de impostos aprovados recentemente e que afundaram sua popularidade.
As declarações acontecem depois que o ministro de Defesa, Moshe Yaalon (do partido direitista Likud, majoritário na coalizão do Governo) comentou, de madrugada e no último momento, sobre um possível acordo para o alistamento dos jovens ultra-ortodoxos.
Em reunião da comissão ministerial encarregada do caso, Yaalon se negou a aceitar um dos artigos mais importantes, o da "obrigatoriedade" do serviço, e exigiu que o recrutamento destes jovens a partir de 2016 seja feito pelo titular da Defesa.
A proposta estabelece a "universalidade" do serviço militar (ou do prestação de substituição), com a única exceção de 1.800 alunos, que seriam declarados "estudantes prodígios" do Torá e seguiriam sua formação rabínica em centros acadêmicos religiosos.
O presidente da Comissão, o ministro de Ciência e ex-chefe do serviço secreto Shabak, Yacov Pery (também de Yesh Atid), se reunirá hoje com Yaalon para tentar encontrar uma fórmula que respeite o princípio de "obrigatoriedade" do serviço, que em casos normais começa aos 18 anos, mas que para os ultra-ortodoxos seria adiado até os 21.
Tanto Yesh Atid, como Yisrael Beiteinu e Habait Hayehudi, todos eles na coalizão liderada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, dedicaram grande importância em suas campanhas à repartição equitativa do alistamento.
O recrutamento dos ultra-ortodoxos, que desfrutam de isenção automática desde 1948, o ano da fundação do Estado de Israel, foi um dos assuntos mais polêmicos nas eleições de janeiro, na qual vários partidos exigiram pôr fim a uma situação que consideram discriminatória.
Todos os israelenses são chamados para prestar o serviço militar (36 meses os homens e 24 as mulheres), salvo os ultra-ortodoxos e os chamados árabes de Israel, que estão isentos.
No caso desta última comunidade, de 1,6 milhões de habitantes e que vive entre sua identidade nacional palestina e sua cidadania israelense, foi outro dos assuntos mais polêmicos da reunião de ontem à noite, porque o partido ultranacionalista Yisrael Beiteinu exigiu incluir uma proposta de "serviço civil" obrigatório para eles.
Na sessão, os ministros também não chegaram a um acordo sobre se serão responsabilizados "juridicamente" os diretores dos centros rabínicos cujos estudantes não acodem às fileiras.
A lei que a comissão estuda afeta cerca de 8 mil jovens ultra-ortodoxos e propõe que pelo menos 3.200 prestem serviço militar e outros 2 mil algum tipo de serviço social.
Às isenções dos "estudantes prodígio" da Torá se somariam ao redor de outros mil que costumam ficar de fora por razões médicas ou psicológicas.
O alistamento foi requerido pela Corte Suprema israelense no ano passado, quando declarou "discriminatória" a lei de isenções de 2002 e obrigou o Governo a formular outra.