Karl Guttenberg, ex-ministro da Defesa: há quem o defenda e quem o condene (Sean Gallup/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de fevereiro de 2011 às 07h35.
Berlim - O caso do ministro da Defesa alemão, Karl Theodor zu Guttenberg, que renunciou a seu título de doutor após ter sido acusado de plágio em sua tese de doutorado, suscitou uma guerra midiática na Alemanha entre o jornal "Bild" e a revista "Der Spiegel".
O "Bild" se transformou no defensor de ofício de Guttenberg, enquanto a "Der Spiegel", junto a outros meios de referência na Alemanha, não poupam críticas ao ministro.
Após dias de pequenos ataques mútuos entre os dois veículos, a "Der Spiegel" decidiu realizar uma ofensiva frontal. Em sua edição da próxima semana, a revista investe contra o "Bild" em sua capa, qualificando de "incendiário" o jornal mais lido da Alemanha.
A capa da revista dá a impressão de um grande incêndio em vermelho, sobre as quais destacam, em tamanho gigante e em branco, as letras da palavra "Bild", e uma espécie de subtítulo que diz "os incendiários", referindo-se à equipe de redação desse periódico.
Depois, no editorial, o ataque prossegue com um comentário que começa com certo comedimento e depois se radicaliza, para afirmar que o diário - um tabloide com traços sensacionalistas - está assumindo o papel de "um partido populista de direita".
Segundo a "Der Spiegel", essa afirmação se baseia nas conclusões de um grupo de redatores que examinaram os padrões éticos do "Bild" e cujo relatório, que aparece na nova edição, só não tinha sido publicado ainda em consideração aos dois repórteres do jornal que estavam detidos no Irã.
Sem dúvida, o caso Guttenberg - e a campanha aberta que o "Bild" lançou em favor do político desde o início do escândalo - foi o ponto de partida para o ataque da "Der Spiegel", que acusa o tabloide alemão de ter manipulado dados de suas próprias enquetes para torná-las mais favoráveis ao ministro da Defesa.
No entanto, o ataque vai além e analisa outras campanhas recentes do "Bild", como a investida deste contra os empréstimos da União Europeia à Grécia - recomendando aos gregos que vendessem suas ilhas para pagar a dívida nacional -, e às críticas do jornal contra receptores de ajuda social e estrangeiros na Alemanha.
O relatório da "Der Spiegel" recorre inclusive a um antigo redator-chefe do "Bild", Michael Sprenger, que se mostra crítico com sua própria casa e qualifica essas campanhas de perigosas.
"Através dessas campanhas, (o 'Bild') estende o tapete vermelho a um partido que ainda não está fundado e que é liderado por um Jörg Haider alemão", diz Spreng.
O leitor padrão do "Bild", segundo a "Der Spiegel", tem formação acadêmica deficiente, não suporta a ideia de União Europeia (UE), tem medo da globalização e, embora tenha clara tendência conservadora, tende à abstenção nas eleições.
Diante disso, não é surpreendente que haja quem, como o escritor Günter Grass, citado pela "Der Spiegel", avalie que o "Bild" apela permanentemente aos instintos mais primitivos de seus leitores e, por isso, o jornal é, em sua visão, um produto "de mal gosto e asqueroso".
No entanto, a ampla tiragem do "Bild" faz com que políticos tenham receio do tabloide e acabem recorrendo ao apoio do jornal. A "Der Spiegel" qualifica de "amigos do 'Bild'" ex-chanceleres da Alemanha, como Helmut Kohl e Gerhard Schröder, e chama muitos parlamentares de "colaboradores" - palavra que em alemão tem conotação quase insultante, pois alude àqueles que colaboraram com o nazismo.
Os políticos que resistem ao "Bild" são poucos, entre os quais a "Der Spiegel" menciona o caso de Claudia Roth, copresidente dos Verdes. Segundo a revista, quase todos sabem que o jornal não perdoa e que ele está disposto inclusive a usar recursos que chegam ao limite da extorsão.
O melhor dos amigos do "Bild", segundo a "Der Spiegel", é o ministro Guttenberg, a favor de quem o diário já fez todo tipo de campanha. Segundo a revista, as informações sobre o atual ministro da Defesa fazem suspeitar que o diário quer impô-lo inclusive como chanceler do futuro.