Ações individuais e os pequenos números fizeram a diferença durante a Rio+20, como o ato do gari ao escrever na folha de papel de 150 metros (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2012 às 16h18.
Rio de Janeiro - O gari carioca parou no calçadão de um dos mais famosos cartões postais do Rio de Janeiro, a praia de Copacabana, para deixar uma mensagem sobre a preservação dos oceanos. Ele foi apenas um dos muitos escritores e autores do Poema Gigante coletivo, uma iniciativa da Unesco, durante a Rio+20.
E foi assim essa conferência: um encontro em que foram citados grandes números – bilhões em investimentos, milhões de emissões de CO2, milhares de espécies mortas, milhares de protestantes no centro da cidade, centenas de compromissos firmados.
Ao mesmo tempo, as ações individuais e os pequenos números também fizeram a diferença, como o ato do gari ao escrever na folha de papel de 150 metros. Talvez o gari da foto acima não tenha total compreensão do que estava sendo discutido durante os nove dias do que foi considerada a maior Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente. Vinte anos depois da realização da Rio92, a canadense Severn Suzuki – “a menina que calou o mundo por cinco minutos”, na época com 12 anos, voltou.
Agora com 32 anos, ela é uma engajada ambientalista. Para tomar o posto de Severn, apareceu a neozelandesa Brittany Trilford, de 17 anos. A jovem de cabelos longos, venceu um concurso de discursos em vídeo, mas durante os discursos que fez não causou o mesmo impacto que a canadense.
No Forte de Copacabana, o belíssimo Humanidade 2012 atraiu olhares do mundo todo. Na biblioteca Capela Espaço da Humanidade personalidades revelaram através dos livros quem foram os autores que mais marcaram suas vidas.
O espaço foi também um grande centro de discussões que reuniu professores, prefeitos, líderes empresarias e governamentais em torno das discussões sobre sustentabilidade. E os mais importantes visitantes: as crianças. Elas olharam, brincaram, interagiram e se admiraram com um mundo incrível e possível. Ao fechar as portas ontem, o Humanidade contabilizava um número de 210 mil visitantes e mais de três toneladas de resíduos separadas para reciclagem.
Foi exatamente do lixo que Vik Muniz preparou a mais nova obra durante a realização da Rio+20. Com sucata o brasileiro fez um retrato do Pão de Açúcar. A dimensão do trabalho do artista reflete novamente o encontro do Rio. Uma única obra que contem como matéria-prima o resultado do esforço diário de milhares de catadores de material reciclável nos aterros da cidade. Foi assim também com o imenso balão amarelo e solitário do WWF que subiu ao céu levando a mensagem “Levem a SéRIO+20” aos líderes mundiais e Chefes de Estado.
Cerca de 5 mil pessoas trabalharam diariamente no Riocentro para receber as 188 delegações dos Estados-Membros da ONU e 12 mil delegados que vieram ao Brasil. 4.363 seguranças ficaram a postos para garantir a chegada, a participação e os discursos, nem sempre contundentes o suficiente – infelizmente -, dos 100 Chefes de Estado presentes na conferência.
Já os 9.854 integrantes das organizações não-governamentais e entidades que lutam pelo desenvolvimento sustentável, o objetivo comum buscado pela Rio+20, fizeram discursos fortes, protestaram e assinaram uma declaração de repúdio ao documento final e oficial da ONU “O Futuro que queremos”. Não foram apenas os signatários dessa declaração, mas muitos outros que chamaram o texto de pífio, vazio e fraco.
Mas o trabalho de 1.500 voluntários, principalmente jovens, que se ofereceram para estar na Rio+20 de graça, não pode ter sido em vão. A frase de um único homem, o mais importante na hierarquia das Nações Unidas, o secretário-geral Ban Ki-moon reafirma o legado desse encontro. “O resultado dessa conferência é mais do que um documento, é o início de um movimento global por mudanças”, disse . O coreano, com o tradicional sorriso contido dos orientais, tem toda razão.
Se o conteúdo do documento final aprovado pelas delegações foi fraco ou pouco ambicioso, 692 compromissos voluntários para o desenvolvimento sustentável foram registrados por governos, empresas, grupos da sociedade civil e universidades. Pelo que foi acordado, mais de 513 bilhões de dólares serão destinados ao desenvolvimento sustentável, injetando dinheiro em áreas essenciais como água, energia, transportes, florestas e agricultura.
Durante os nove dias da conferência, o Rio de Janeiro e suas paisagens naturais deslumbrantes ofereceram uma excelente infraestrutura para os convidados. Somente no Riocentro havia 17 restaurantes na praça de alimentação, 36 portais de raio-x, 8 quilômetros de cabos telefônicos e acesso à internet sem fio para até 32 mil usuários simultâneos. A taxa de ocupação dos hoteis chegou a 95%. Nem tudo foi perfeito, falhas precisam ser mencionadas.
Apesar do feriado de três dias concedido aos cariocas em cima da hora, o trânsito da cidade ficou complicadíssimo. O transporte público de boa qualidade e acessível ainda não é uma realidade no Rio de Janeiro. Houve ainda fila de jornalistas para credenciamento que chegaram a uma hora e manifestantes protestando contra o governo durante um encontro oficial com delegados estrangeiros.
Mas esses são dados menores perante a dimensão do que foi discutido e acertado durante a Rio+20. A mensagem final foi escrita por todos, principalmente a sociedade civil. O desejo da sociedade como um todo é que a mensagem deixada pelo gari carioca seja lida. Que as recomendações feitas pelos especialistas presentes nos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável sejam levadas em conta. Que aqueles que deixam o carro em casa e usam a bicicleta para ir ao trabalho sejam um exemplo a ser seguido.
Não é o documento final que garantirá o futuro que queremos. O futuro que desejamos começa agora, com atitudes e compromissos de todos nós.