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Poderosos em Davos podem 'sentir' como vive um refugiado

"Refugee Run", um acampamento que a ONU montou na entrada do fórum, simula situações de risco que refugiados sentem ao redor do mundo

Acampamento de refugiados na Etiópia: "Refugee Run" tenta reproduzir conflitos étnicos (John Lavall/Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Acampamento de refugiados na Etiópia: "Refugee Run" tenta reproduzir conflitos étnicos (John Lavall/Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2011 às 10h11.

Davos, Suíça - Os poderosos reunidos em Davos podem "sentir" o que significa ser um refugiado ao visitarem um autêntico "acampamento" que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) montou na entrada do fórum.

Ser apontado com uma metralhadora, ser insultado, empurrado e separado das pessoas próximas; ter que se desfazer da aliança em troca de um pedaço de pão ou vender o corpo pelo simples fato de ser mulher, isto é o que podem "sentir" os que decidirem entrar no "Refugee Run".

Situado em um pequeno edifício e rodeado por hotéis cinco estrelas, o "Refugee Run" é uma reprodução de um campo de refugiados real, uma simulação em que poderia estar em qualquer lugar remoto do mundo.

Um local onde os conflitos étnicos de fora se reproduzem dentro, um espaço no qual os próprios internos se corrompem e exploram seus companheiros, um acampamento no qual os militares podem disparar a qualquer momento e sem nenhuma justificativa.

A instalação se diferencia completamente do Congress Center, o edifício que abriga anualmente o Fórum Econômico de Davos, ponto de encontro da elite econômica e política mundial. Do evento do Congress Center só possível participar mediante o pagamento prévio de uma dotação anual de 50 mil francos suíços (R$ 88.340), além de outra contribuição de 18 mil francos suíços (R$ 31.802) para que o Executivo de turno possa vagar pelas nevadas ruas da cidade.

O "Refugee Run" fica a apenas algumas centenas de metros do Congress Center e o principal objetivo de seus organizadores é conseguir com que alguns dos acomodados diretores abandonem por umas poucas horas as sessões do fórum para atravessar a rua e entrar em uma apavorante realidade.


"Queremos que as pessoas que vêm ao 'Refugee Run' sintam em sua pele o que é ser um refugiado, que sintam o medo, o desespero, a falta absoluta de controle do que está acontecendo. E isso no caso dos altos executivos é algo muito forte porque eles estão acostumados a ter tudo sob controle e a ser eles os que mandam", explicou à Agência Efe Sally L. Begbie, diretora da Crossroads Foundation, a ONG que organizou o espaço.

"A maioria dos que entram aqui nunca tinha parado para pensar o que realmente sente um refugiado. 'Sentir' na pele, mesmo que seja por meia hora, abre os olhos deles", prosseguiu Sally, cuja ONG tem sede em Hong Kong e abriga de forma permanente uma reprodução de um campo de refugiados.

"Aqui em Davos montamos o campo em colaboração com o Acnur, que é quem tem que lidar com os acampamentos e acolher os refugiados no mundo real", especificou a diretora.

A experiência do campo pode ser muito autêntica se a pessoa "entrar no personagem": pai de família separado de seus filhos, ferido por mina terrestre, maltratado pelos militares, ameaçado pelo grupo étnico contrário, ou aterrorizado pelo som das bombas que caem a poucos metros.

"Hoje acabamos de começar e ainda não tivemos nenhum representante das grandes corporações, mas nos dois últimos anos pudemos convidar altos cargos de empresas que viveram a experiência e muitos ficaram em contato conosco".

"É o caso da Microsoft, Facebook e Wikipedia, que mantêm contato com a ONG", explicou Begbie.

"Graças a este projeto, algumas das empresas presentes em Davos participam de forma regular de nosso programa global de corporações, colaboram com o Dia Mundial do Refugiado, às vezes fazem contribuições econômicas. Mas, claro, esta colaboração faz parte de seu programa de responsabilidade social corporativa", explicou Tapio Vahtola, diretor de Relações Empresariais do Acnur.

O acampamento é tão autêntico que inclusive dois dos atores que exercem o papel de soldados foram de fato refugiados em seu próprio país, Uganda, e colaboraram tanto na concepção do lugar quanto nas situações que deveriam reproduzir para que os "usuários" possam entrar na pele de um refugiado de verdade.

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