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Poder do Brasil na região atingiu limite com Venezuela, diz pesquisador

Hussein Kahlout avalia que Rússia, China e Cuba têm mais poder para influenciar rumos do país

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto, em 2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto, em 2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 2 de agosto de 2024 às 13h12.

Última atualização em 2 de agosto de 2024 às 14h15.

A situação atual na Venezuela mostra que o poder do Brasil para resolver questões na América do Sul atingiu um limite, e pouco mais poderá ser feito, avalia Hussein Kahlout, pesquisador da Universidade Harvard. Para ele, Rússia, China e Cuba terão muito mais poder para definir os rumos da Venezuela.

O presidente Nicolás Maduro foi anunciado como vencedor da disputa pela reeleição na votação de domingo, 28, mas os dados detalhados da votação ainda não foram divulgados. A oposição contesta o resultado e pede a divulgação das atas por seção eleitoral. O Brasil, os EUA e outros países vêm cobrando há dias a divulgação dos números, sem sucesso.

"O poder real do Brasil é gogó. É dialogar. A Rússia fornece armas para a Venezuela, então o poder militar da Venezuela vem da Rússia. Quem põe dinheiro é a China, não o Brasil. Cuba tem um poder moral sobre Maduro, e protege Maduro dos próprios maduristas, porque há divisões internas. A inteligência que compõe o arcabouço de Maduro é cubana, e ajuda a protegê-lo de golpes", disse Kahlout, durante um evento virtual do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), nesta sexta, 2.

"O Brasil tem uma liderança questionável, na minha avaliação, como concertador da diplomacia regional, e seu limite de poder e de liderança no contexto sul-americano ficou exposto", avalia.

O pesquisador, que já foi secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência do Brasil, aponta que a fraude eleitoral na Venezuela começou há tempos, com a impugnação a candidatos e as restrições para registros de eleitores.

"Ditaduras só acabam quando um ditador morre ou foge. Ele não vai fugir porque tem apoio das forças armadas. O Brasil sabia desse cenário, e talvez tenha tido uma teatralidade democrática", prossegue.

"Tínhamos dois caminhos: ou o Brasil ingenuamente acreditou que o Maduro disputaria uma eleição limpa, e isso seria de um amadorismo atroz, ou o Brasil sabia que o resultado seria esse e que não teria força suficiente para agir. O Brasil estaria esbarrando no seu limite de poder de influência. Nós não temos como mudar o Maduro. Vamos fazer de conta que não vamos reconhecer, mas ele vai ficar no poder."

Resultados concretos são difíceis

Kahlout avalia que será difícil para o Brasil obter resultados mais concretos na crise venezuelana, como tentar reduzir a vinda de mais imigrantes de lá ou conter a perseguição a opositores.

"A pergunta é: o Brasil ainda confia no Maduro? Ele só vai parar o banho de sangue se não houver mais oposição nem protestos. Então vai prender todo mundo?", questiona.

Ele sugere que o governo Lula deveria ter trabalhado para tentar convencer Maduro a não disputar um novo mandato e tentar eleger um sucessor em vez disso.

Para o Brasil, o impacto mais direto da crise atual deverá ser uma nova onda de imigrantes venezuelanos. "O governo brasileiro vai ter de gastar mais dinheiro, de onde não tem, pois tem que fazer ajuste fiscal", comenta.

Kahlout avalia que o Brasil não deve romper relações diplomáticas com a Venezuela, e que os Estados Unidos também teriam menos disposição em adotar novas sanções contra o país, por uma série de fatores: o aumento do risco de novos conflitos no Oriente Médio pode aumentar o interesse no petróleo venezuelano e, em ano eleitoral, a política americana está focada no que poderá acontecer na politica externa do país após o resultado, que traz a possibilidade da volta do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca.

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