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Plásticos feitos com Bisfenol A podem causar câncer

Composto pode ser encontrado em mamadeiras e garrafas plásticas, em revestimento de enlatados e outras embalagens de alimentos

O Bisfenol A age como um hormônio no organismo, por isso, os mais afetados por ele são as crianças e bebês que ainda estão com o sistema endócrino em formação (Getty Images)

O Bisfenol A age como um hormônio no organismo, por isso, os mais afetados por ele são as crianças e bebês que ainda estão com o sistema endócrino em formação (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2011 às 11h46.

São Paulo - O Bisfenol A é um composto usado na fabricação de plásticos e revestimentos de outros materiais. Conforme mostram pesquisa, a presença desse químico no organismo humano pode causar anomalias hormonais e outras doenças, como o câncer.

A discussão sobre a eliminação do BPA, como é conhecido o Bisfenol A, do processo de manufatura do plástico é constante em âmbito internacional. No Canadá, na França, na Dinamarca e na Costa Rica, por exemplo, é proibido fazer uso desse elemento para a fabricação de mamadeiras, outras nações estudam seguir o mesmo caminho.

No Brasil, o assunto ainda é pouco conhecido e ignorado por autoridades e diversos setores da indústria. As discussões são recentes e foram trazidas para o território nacional através da dupla Fabiana Dupont e Fernanda Medeiros, tradutora e jornalista, respectivamente, através do site “O tao do consumo”.

O espaço eletrônico é usado para informar a população sobre os riscos que o BPA pode trazer à saúde, mostrar como é possível se mobilizar contra as indústrias que se apóiam no uso deste químico e quais são as alternativas existentes para substituir o plástico.

“Hoje, nos Estados Unidos existem 80 mil químicos usados na indústria, só 200 foram estudados com profundidade e apenas três foram proibidos”, explica Fabiana, argumentando que boa parte dos efeitos que esses elementos podem causar à saúde, sequer são conhecidos ou foram analisados. Portanto, “é preciso buscar alternativas”, acrescenta ela.

O Bisfenol A age como um hormônio no organismo, por isso, os mais afetados por ele são as crianças e bebês que ainda estão com o sistema endócrino em formação. Além disso, os bebês também são os que mais absorvem o BPA. Segundo Natalie Von Götz, pesquisadora do Institute os Chemistry and Bioengineering, quando os bebês utilizam mamadeira com Bisfenol A, eles chegam a ingerir 0,8 microgramas do aditivo, quantidade abaixo dos níveis permitidos, mas mesmo assim preocupantes.


As embalagens plásticas ou latas são as principais causadoras da contaminação humana. Pois, partículas do Bisfenol A se desprendem das embalagens e vão para o alimento. “Entre os adolescentes, por exemplo, o maior contato com o Bisfenol é através das latas de refrigerante”, explica Fernanda.

Durante entrevista ao CicloVivo, a dupla exaltou a necessidade de haver conscientização para que seja possível mudar pequenas coisas no consumo diário. Além disso, Fabiana lembrou da importância do papel do consumidor para cobrar mudanças. “O consumidor no Brasil tem que aprender a falar, ligar na empresa [para cobrar ações], se expressar com o fabricante e com o governo”.

Quando indagadas sobre o que poderia ser mudado na rotina das pessoas para diminuir a exposição ao Bisfenol A, elas deram dicas como: evitar usar canudos, copos plástico, esquentar marmitas em potes de plástico, bem como armazená-las neste recipiente, e evitar o consumo de alimentos que venham embalados em plásticos do tipo policarbonato. Aos bebês uma das soluções é a utilização de mamadeiras de vidro. Para identificar os tipos de plástico que contêm Bisfenol é preciso atentar aos números marcados nas embalagens. O ideal é evitar as que apresentarem números três e sete.

Os efeitos do BPA são sentidos em longo prazo e, por não ter ação imediata, fica difícil para os cientistas comprovarem a sua relação com as doenças. Mesmo assim, testes e pesquisas mostraram que ele está diretamente ligado a hiperatividade, autismo, disfunções comportamentais, câncer de próstata e de mama, diabetes, obesidade e a diversas disfunções sexuais. Fabiana explica que uma pesquisa realizada em uma fábrica chinesa que produz Bisfenol mostrou que praticamente todos os operários eram inférteis, devido ao constante contato com o produto químico.

No Brasil, algumas cidades, como Piracicaba, Americana e Curitiba, já demonstraram interesse em proibir a utilização do BPA. As propostas de leis foram feitas, mas até o momento não existe a aprovação oficial para que a mudança seja aplicada aqui, como foi em outros países.

Independente das decisões governamentais ou da discordância entre pesquisadores, químicos e indústria, Fabiana alerta: “Se você acha que tem alguma coisa errada, é mais ou menos o princípio da precaução, a falta de certeza científica não pode te impedir de tomar alguma atitude em relação a isso”.

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