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Plano de Trump para aumentar tarifa causaria caos econômico, diz ex-embaixadora americana

Segundo Miriam Sapiro, que serviu na administração de Obama, as políticas propostas pelo candidato republicano afetariam tanto a classe média quanto os mais ricos

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 21 de agosto de 2024 às 16h47.

Última atualização em 21 de agosto de 2024 às 16h48.

Chicago, Estados Unidos - A política de aumentar tarifas para produtos importados para os Estados Unidos, proposta pelo candidato republicano Donald Trump, poderia levar a um "caos econômico" e impactar negativamente todas as classes sociais do país por causa do aumento dos preços. A avaliação é de Miriam Sapiro, conselheira sênior do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), ex-embaixadora e representante de Comércio dos EUA.

"Tenho uma preocupação econômica muito forte: a proposta de Trump de aumentar as tarifas de 10% para 20% para todas as importações e para 60% de tudo o que for importado da China. Essa proposta é um mau imposto nas famílias trabalhadores, um que elas não podem bancar", disse Sapiro durante coletiva para correspondentes estrangeiros na Convenção Democrata, em Chicago.

Segundo ela, alguns estudos mostram que essa política, se levada a cabo, custaria às famílias cerca de 3.900 dólares por ano.

"Em quatro anos, daria quase 16.000 dólares. E as pessoas se perguntam o porquê desse imposto", afirmou. "As tarifas não se aplicam aos países que elas direcionam. Ela impactam os americanos e o país, e são pagas pelos negócios americanos, que repassam esses custos aos consumidores."

Leia mais: Kamala Harris anuncia plano contra inflação que pretende pressionar corporações e controlar preços

Além disso, o aumento substancial proposto por Trump para a China, apontou a especialista, será repassado a todos os cidadãos. "Não importa se uma família é rica ou pobre, mas machuca mais as famílias mais pobres. É o que chamamos de um imposto regressivo", afirmou.

"Caos econômico"

Para ela, essa política poderia gerar um "caos econômico" nos mercados.

"Outros países provavelmente retaliariam o aumento de tarifas americanas sobre seus produtos impondo tarifas de produtos americanos exportados. Essa proposta prejudicará os trabalhadores, fazendeiros", afirmou Sapiro. "Não importa se os EUA estão exportando carros, carne ou milho, será mais caro e menos desejável comprar esses produtos."

As tarifas propostas por Trump sobre todas as importações da China afetariam mais de 400 bilhões de dólares em importações, segundo economistas.

Tarifas, ela alertou, são importantes quando usadas estrategicamente, mas não de uma forma desorganizada, como avalia ser a proposta dos republicanos. "Isso prejudicaria as famílias e a economia americana", afirmou.

Para Sapiro, qualquer estratégia "inteligente" de política comercial dos EUA precisa focar nos trabalhadores americanos.

"Os trabalhadores americanos podem competir de forma justa? Quando é justo, eles podem concorrer com qualquer país. É crítico, portanto, entender se o cenário é justo. Sabemos que há companhias que não seguem as regras. E uma administração Harris não será tímida em confrontá-las", disse.

Apesar de a campanha da vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris criticar o plano de Trump, o qual alcunhou de "imposto de Trump", a gestão de Joe Biden manteve em grande parte as tarifas do mandato do republicano. E anunciou algumas novas tarifas contra importações chinesas em maio deste ano, que afetam cerca de 18 bilhões de dólares em mercadorias, culpando as “práticas comerciais injustas da China”, segundo a Forbes.

Guerra da Ucrânia

Do ponto de vista internacional, Kamala está pronta para liderar, opinou Sapiro, citando o comprometimento da candidata com garantir a capacidade de defesa da Ucrânia contra a Rússia.

"Os 3,5 milhões de eleitores de descendência da Europa Central ou do Leste que vivem na Pensilvânia, Wisconsin e Michigan sabem que ela está com a Ucrânia e contra Vladmir Putin", disse, referindo-se justamente alguns dos estados que serão decisivos na campanha americana.

"Está comprometida a construir uma nova aliança, e incluir novos membros como Polônia, Letônia, Lituânia, Estônia Suécia e Finlândia", prosseguiu, sem detalhar a proposta.

Perguntada pela EXAME sobre se as sanções econômicas dos EUA e outros países do Ocidente à Rússia tinham funcionado, Sapiro pontuou que sanções são instrumentos eficazes, mas precisam ser feitos de forma abrangente pelo máximo número de membros da comunidade internacional.

"As sanções funcionam, de maneira ampla. No caso da guerra da Ucrânia, a administração Biden agiu bastante cedo para organizar as medidas e para garantir que as sanções fossem multilaterais. É uma ferramenta importante. Mas não funciona quando é feita unilateralmente", afirmou.

Sapiro já trabalhou em diversas administrações democratas e atuou no Conselho de Segurança Nacional e no Departamento de Estado americano. De 2010 a 2014, ela liderou as negociações comerciais externas do país.

Durante a coletiva, ela buscou demonstrar por que acredita que Kamala Harris tem melhores propostas para a economia americana e, assim, construir um ambiente favorável à classe média, no qual as pessoas possam educar seus filhos, comprar casas e acessar a saúde.

"Ela e sua mãe alugaram casas na sua adolescência. Ela entende a dignidade e importância de um bom emprego", disse.

De Obama e Biden para Kamala: a passagem de bastão na Convenção Democrata

No novo episódio do podcast O Caminho para a Casa Branca, a equipe da EXAME analisa diretamente de Chicago os próximos passos da corrida eleitoral americana, além de trazer os bastidores e o clima do encontro democrata.

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