Plano de paz: Trump quer congelamento dos combates e negociação territorial (Genya SAVILOV /AFP)
Agência de notícias
Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 18h17.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2025 às 18h24.
O governo do presidente dos EUA Donald Trump deve apresentar, na próxima semana, um plano para a guerra na Ucrânia, que está prestes a completar três anos. Um cessar-fogo duradouro é uma promessa de campanha do republicano, que já afirmou ser capaz de encerrar o conflito em 24 horas e alega manter contato com representantes de Kiev e Moscou.
Segundo a Bloomberg, a proposta será revelada durante a Conferência de Segurança de Munique, entre os dias 14 e 16, pelo enviado especial dos EUA para a Ucrânia, Keith Kellogg. Em publicação no X, na segunda-feira, ele disse estar “ansioso para falar sobre a meta de Donald Trump de acabar com a sangrenta e custosa guerra na Ucrânia” e que se reunirá com aliados.
Pleased to announce my participation @MunSecConf 2025. As @POTUS's Special Envoy for Russia & Ukraine, I look forward to speaking about @realdonaldtrump's goal to end the bloody and costly war in Ukraine. I’ll meet with America’s allies who are ready to work with us. #MSC2025 pic.twitter.com/GLUhgI46H7
— Gen. Keith Kellogg (@SPE_Kellogg) February 4, 2025
Não foram divulgados detalhes sobre como ocorrerão as discussões ou o que exatamente Kellogg apresentará em Munique. Segundo informações da equipe de Trump que circulam há semanas, o ponto central será a ideia de “paz através da força”, ou seja, pressionar russos e ucranianos ao engajamento diplomático.
A proposta americana deve incluir:
Uma versão inicial do plano, revelada em dezembro pela Reuters, defendia que as áreas ocupadas por Moscou — cerca de 20% da Ucrânia — permanecessem sob controle russo e que os ucranianos desistissem da adesão à Otan.
Mesmo antes da posse de Trump, representantes da Casa Branca têm mantido diálogo com Moscou e Kiev, embora sem revelar detalhes. Nesta quarta-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que os contatos se intensificaram.
Na véspera, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou estar pronto para conversar com o líder russo, Vladimir Putin, caso isso traga paz à Ucrânia:
“Não serei gentil com ele, o considero um inimigo. Para ser honesto, acho que ele me considera um inimigo também”, disse Zelensky ao jornalista Piers Morgan.
Para Peskov, a disposição do presidente ucraniano precisa “ser baseada em fatos” e, por enquanto, “não passa de palavras vazias”.
Quase três anos após a invasão que causou dezenas de milhares de mortes e a maior crise de refugiados do século XXI, Zelensky se vê com menos opções para resistir à ofensiva russa. A chegada de Trump à Casa Branca coloca em xeque os envios bilionários de armas e dinheiro iniciados por Joe Biden e aliados em 2022. Enquanto isso, o poder de ataque russo, apoiado por Irã e Coreia do Norte, impõe derrotas críticas no leste da Ucrânia.
Neste cenário, o próprio tom do líder ucraniano, que antes descartava ceder territórios, começou a mudar. Além de considerar um diálogo com Putin, Zelensky pode aceitar novas condições da Casa Branca.
Além do congelamento do conflito, Trump sugeriu que a Ucrânia pague pela ajuda militar com suas riquezas minerais, citando reservas de terras raras, usadas na indústria de tecnologia, e o lítio, essencial para a fabricação de baterias. Na terça-feira, Zelensky afirmou que a proposta veio de Kiev e classificou a ideia como “investimento externo”. Uma delegação dos EUA deve visitar a Ucrânia em breve para discutir o tema.
A proposta foi criticada pelo chanceler alemão, Olaf Scholz, e também gerou desconforto no Kremlin, já que muitas reservas de terras raras estão em territórios ocupados pelos russos.
“Se chamarmos as coisas como elas são, esta é uma proposta para comprar ajuda. Em outras palavras, para fornecê-la em uma base comercial”, afirmou Peskov, segundo a agência Tass.
Nesta quarta-feira, russos e ucranianos confirmaram a troca de 300 prisioneiros de guerra — 150 de cada lado — que já estão retornando a seus respectivos países.
Além disso, a presença de soldados norte-coreanos na guerra chamou a atenção da diplomacia. Em entrevista ao Korea Times, o embaixador da Ucrânia na Coreia do Sul, Dmytro Ponomarenko, afirmou estar aberto a dialogar sobre o destino dos militares norte-coreanos capturados que não quiserem retornar ao seu país.
“Dada a ameaça à vida e à liberdade dos militares norte-coreanos no caso de sua repatriação, estamos abertos para um diálogo com parceiros internacionais sobre sua transferência para terceiros países”, disse Ponomarenko.
Estima-se que 10 mil militares norte-coreanos tenham sido enviados à Rússia, mas nem Pyongyang nem Moscou confirmam oficialmente sua participação nos combates. Segundo Seul, esses soldados não atuam mais em missões de combate desde janeiro.