Mundo

Pisa festeja o ano de 2013 nove meses antes

A ex-República marítima decidiu ressuscitar a época em que possuía seu próprio calendário, cujo ano começava em março

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de março de 2012 às 22h07.

São Paulo - Espetáculo da Primavera incomum em Pisa: inúmeras pessoas, com roupas da Idade Média, festejaram com vontade, junto à famosa torre, o ano de 2013.

A ex-República marítima, potência incontestável do Mediterrâneo em seu apogeu, decidiu ressuscitar a época em que possuía seu próprio calendário, que começava no dia 25 de março, ou seja, nove antes do Natal, para celebrar a concepção milagrosa de Jesus Cristo.

"É fantástico, temos duas ocasiões para comemorar um novo começo, duas ocasiões para fazer promessas - e traí-las! - como parte das boas resoluções de Ano Novo", comentou Maria Rossi, 23 anos, em meio a um grupo enorme de crianças com roupas multicoloridas.

Segundo a tradição, o Ano Novo começa oficialmente quando um raio de sol, passando pelo orifício de uma parede da catedral de Pisa ilumina um ovo de mármore, símbolo de fertilidade e renovação.

Então é celebrada missa para comemorar a Anunciação, quando o Arcanjo Gabriel revela a Maria que ela terá um filho.


Mas, no último domingo, o padre celebrante mal conseguiu manter a atenção de seus fiéis, ainda aturdidos pelas festas de despedida do Ano Velho, durante as quais milhares de moradores se reuniram às margens do Arno para um espetáculo de som, luzes e fogos de artifício.

"No século X, a frota de Pisa dominava o Mediterrâneo, e ter seu próprio calendário era uma outra manifestação de poder", explicou à AFP Fabrizio Franceschini, professor da Universidade de Pisa. Este calendário foi, também, usado, brevemente, em Pádua e Milão (norte).

O calendário, mencionado pela primeira vez em documentos de 985, foi utilizado na Toscana, ao lado do Juliano, ao qual veio se somar o calendário florentino, que começava, também, no dia 25 de março, mas com um ano de atraso em relação ao seu equivalente pisano... O antigo calendário de Florença entrou, então, no ano de 2012!

"Em 1749, o grão-duque da Toscana, Francisco I, decidiu unificar a região submetendo-a a um único calendário, pelo que escolheu o Gregoriano, mas os pisanos retornaram, agora, a suas raízes culturais, revivendo o passado", observou o professor Franceschini.

"Recomeçamos a festejar 'nosso' Ano Novo no final dos anos 80, mas recentemente, tornou-se um evento ainda mais importante, com dois dias de comemorações", precisou ele.

A rivalidade intensa entre Pisa e Florença remonta a séculos, e as festas são, também, uma forma de a cidade ressuscitar sua antiga glória.

"Florença era, talvez, o centro do poder, mas nós nos tornamos o centro da excelência intelectual, e ainda somos ainda!" se entusiasmou Luciano Galeotti, 77 anos, durante uma procissão pela cidade.


A afirmativa foi reforçada por Chiara Ardito, uma estudante de direito fantasiada de 'demoiselle d'honneur' dama de honra, da princesa Kinzica que, segundo a lenda, teria salvado Pisa dos invasores sarracenos em 1004.

"Somos, talvez, uma cidade pequena, mas como fez Kinzica, ao defendê-la, cabe a nós contribuir para a grandeza da Pisa moderna", disse.

Alguns dizem que a tradição lhes permite frustrar as previsões fatídicas do calendário Maia para 2012.

"O mundo, talvez esteja à beira do abismo, mas nós conseguimos sempre cair sobre nossos próprios pés", comentou Dario, um agente imobiliário, apontando com o dedo a famosa torre, que está de pé desde o século XII, contra todos os prognósticos.

"Estamos em 2013, e conseguimos superar as previsões dos Maias!" afirmou ele com orgulho.

Acompanhe tudo sobre:EuropaFeriadosItáliaPaíses ricosPiigs

Mais de Mundo

Eleições no Uruguai: Mujica vira 'principal estrategista' da campanha da esquerda

Israel deixa 19 mortos em novo bombardeio no centro de Beirute

Chefe da Otan se reuniu com Donald Trump nos EUA

Eleições no Uruguai: 5 curiosidades sobre o país que vai às urnas no domingo