Manifestantes na Times Square, em Nova York, apoiam os protestos antigoverno em Cuba realizados em julho de 2021 (ED JONES/AFP/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 14 de julho de 2021 às 19h57.
Última atualização em 14 de julho de 2021 às 20h16.
No domingo, Cuba enfrentou os maiores protestos em décadas, quando milhares marcharam exigindo liberdade e comida. A crise econômica mais profunda desde o colapso da União Soviética, o aumento dos casos de Covid-19, apagões de energia e maior acesso às redes sociais ajudaram a alimentar o descontentamento com o regime comunista de 62 anos.
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A pandemia devastou a economia da ilha. Sem a ajuda do turismo, o PIB encolheu 11% em 2020, segundo o ministro da Economia, Alejandro Gil, a pior queda desde o início da década de 1990, quando o colapso do comunismo na Europa Oriental privou a nação de aliados e parceiros comerciais.
Em resposta, este ano o governo suspendeu muitos subsídios e eliminou o sistema de duas moedas, que existia há décadas. As mudanças eram necessárias, mas também desencadearam uma “espiral inflacionária”, segundo o Ministério de Finanças e Preços de Cuba. Alguns economistas estimam que a inflação poderia ultrapassar 400% este ano.
Cuba conseguiu manter os casos de Covid-19 sob controle no início da pandemia e desenvolveu duas vacinas. Mas a taxa de infecções voltou a aumentar, embora a ilha de 11 milhões de pessoas tenha administrado 7,5 milhões de doses. No domingo, o país havia registrado 6.923 novos casos de coronavírus e 47 mortes devido à Covid-19, ambos recordes diários. O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, disse na segunda-feira que ter tantas pessoas infectadas e isoladas afeta a economia ao forçar a ilha a dedicar seus limitados recursos de eletricidade a hospitais e centros de recuperação.
Cuba importa muitos de seus produtos básicos, e o governo, com problemas de liquidez, tem se esforçado para manter as prateleiras abastecidas. Recentemente, limitou a troca de pesos cubanos por dólares, um dos elementos-chave do pacote de reformas de janeiro, porque o governo precisava do dinheiro para financiar as importações. Com esses problemas, combinados com a desaceleração econômica mais ampla e o avanço da inflação, muitos cubanos não têm o suficiente para comer. Além dos gritos de “Liberdade” e “Abaixo o Comunismo” ouvidos no fim de semana, uma das principais mensagens foi “Temos Fome”.
A crise econômica também acelera a emigração. Até maio do ano fiscal de 2021, a Patrulha de Fronteira dos EUA disse ter parado 23.066 cubanos, muito mais do que os 14.015 que havia detido em todo o ano fiscal anterior.
Os cubanos também estão enfurecidos com os apagões contínuos. Na segunda-feira, o ministro de Minas e Energia, Livan Arronte, disse que uma combinação de problemas em usinas, aumento da demanda por eletricidade e obstáculos para a importação de combustíveis devido às sanções dos EUA levaram ao racionamento de energia. A Venezuela, que já foi um aliado confiável de Cuba para o abastecimento de petróleo, também não consegue ajudar muito enquanto enfrenta sua própria crise econômica.
Para as autoridades cubanas, os protestos têm duas causas: o embargo comercial de 59 dos Estados Unidos e as redes sociais. O embargo foi endurecido em 2017, pressionando ainda mais a economia de Cuba e reduzindo o número de nações dispostas a fazer negócios com a ilha.
O regime também afirma que os EUA manipularam os cubanos por meio das redes sociais para participarem dos protestos. O número de cubanos com acesso às redes sociais aumentou nos últimos anos. Na segunda-feira, o governo parecia ter restringido o acesso a alguns sites, como Facebook, Twitter e WhatsApp.
--Com a colaboração de Andrew Rosati.
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