Segundo pesquisador, o país tem condições de avançar tecnologicamente e de eliminar os gargalos, mas, para isso, terá que juntar esforços e investir em seu parque tecnológico (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 31 de agosto de 2011 às 06h49.
Rio de Janeiro – O desenvolvimento da região do pré-sal da Bacia de Santos depende de mais participação de empresas nacionais nos investimentos em novas tecnologias, bem como de maior inserção dos governos federal e estadual no processo, já que, sozinha, a Petrobras não será capaz de desenvolver o setor. A conclusão é do professor Adilson de Oliveira, coordenador do estudo Capacidade de Produção da Indústria Nacional para o Setor de Petróleo e Gás e professor do Colégio de Altos Estudos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O estudo da UFRJ procurou identificar os principais gargalos para que o desenvolvimento da região do pré-sal avance e para que a Petrobras tenha suprida a necessidade crescente de bens e equipamentos – cada vez mais sofisticados e complexos.
Em entrevista à Agência Brasil, Oliveira disse que o país tem condições de avançar tecnologicamente e de eliminar os gargalos, mas, para isso, terá que juntar esforços e investir em seu parque tecnológico. “O país tem condições de fazer isso, mas não é uma tarefa simples e não é o que está escrito nas políticas atuais. É necessário um foco bastante importante no setor de petróleo, por exemplo. E o lançamento recente do Plano Brasil Maior, que objetiva desenvolver o parque industrial brasileiro, não falou nada, ou quase nada, com relação ao petróleo”, observou o pesquisador.
O estudo da UFRJ concluiu que o parque brasileiro de fornecedores de equipamentos tem uma situação bastante diversificada. “E nós o dividimos em quatro grandes grupos: os que trabalham com tecnologia metalúrgica; mecânica; elétrica; e os que trabalham com tecnologia de instrumentação, especificação e controle de processo”.
Os pesquisadores constataram, por exemplo, que o setor elétrico está capacitado tecnologicamente para atender à demanda. “Não identificamos, no setor, dificuldades para atender às demandas tecnológicas que serão colocadas e de acompanhá-las”. Já os setores eletroeletrônico e de mecânica apresentam dificuldades de planejamento, mas de solução relativamente fácil.
De acordo com o estudo, na metalurgia há gargalos como “alguns equipamentos que exigem insumos importados, como aços especiais e coisas do gênero”. As restrições a que o estudo se refere dizem respeito aos avanços da tecnologia de ponta, necessários para extrair petróleo abaixo da camada do sal. Para que esses avanços sejam possíveis, Oliveira defende um engajamento amplo por parte dos governos e, em particular, do governo do Rio de Janeiro.
“O governo do estado tem um papel muito importante nesse processo, mas o que se vê é que o Executivo fluminense vem delegando toda a responsabilidade do processo ao governo federal e à Petrobras, o que é muito pouco. Sem dúvida que é necessária uma posição política e uma participação bem mais ativa do governo do estado nesse processo. Porque a oportunidade está dada, mas os indícios de que ela será aproveitada, nem tanto”.
Oliveira criticou o que chama de “falta de participação mais ativa” da área de meio ambiente do governo, de modo a evitar o que vem acontecendo com o desenvolvimento do setor elétrico no Brasil. “O que a gente vê no setor elétrico é a existência de uma distância grande entre os que se posicionam de forma protecionista em relação à preservação dos ecossistemas e o setor produtivo, o que acaba gerando mais problemas do que solução”, disse.