Investigadores próximos a destroços de avião da Malaysia Airlines na Ucrânia (Maxim Zmeyev/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de agosto de 2014 às 13h14.
Donetsk - Dezenas de inspetores internacionais chegaram nesta sexta-feira ao local onde um avião malásio caiu na Ucrânia para investigar a tragédia, apesar da retomada dos confrontos fatais no leste do país.
Ao menos dez paraquedistas ucranianos figuram entre as 14 vítimas de uma emboscada na madrugada desta sexta-feira dos rebeldes perto de Shajtarsk, a 25 quilômetros do local do acidente, indicou o Estado-Maior ucraniano.
Outros 11 militares desapareceram e 13 ficaram feridos, declarou o porta-voz do Conselho Nacional ucraniano de Segurança e Defesa, Andri Lisenko.
As forças ucranianas retomaram a operação contra os separatistas pró-russos depois de suspendê-la na quinta-feira para facilitar a investigação internacional sobre a tragédia aérea, que também provocou a adoção de sanções ocidentais contra a Rússia, acusada de armar os rebeldes.
Um pequeno grupo de especialistas holandeses e australianos conseguiu chegar na quinta-feira ao local onde o Boeing da Malaysia Airlines caiu, onde ainda há restos humanos e do avião, mais de duas semanas após o drama que deixou 298 mortos no dia 17 de julho.
Um comboio de 14 veículos partiu na mesma direção na manhã desta sexta-feira, acompanhados por homens e material procedente de Kharkiv (leste).
Disparos e colunas de fumaça
No total, um grupo de 70 especialistas holandeses e australianos, liderados pelos observadores da Organização para a Cooperação e a Segurança na Europa (OSCE), chegaram durante a manhã ao local da tragédia aérea, confirmou a OSCE em sua conta no Twitter.
Os especialistas internacionais, que terminaram seu trabalho por hoje, recolheram novos restos mortais, indicou em um comunicado durante a tarde o ministério da Segurança e da Justiça da Holanda, para onde já foram enviados mais de 200 cadáveres dias após a queda do voo MH17.
O governo holandês indicou que foi possível identificar uma segunda vítima e reiterou que os trabalhos de identificação dos corpos pode durar meses.
Em seu trabalho em terra, o Parlamento ucraniano autorizou na quinta-feira os policiais holandeses e australianos a portar armas, o que para Andrei Purguin, um chefe separatista, significa uma intervenção militar de fato, denunciou à agência Interfax.
A tarefa dos especialistas internacionais no leste da Ucrânia se anuncia difícil devido aos combates. A ofensiva militar ucraniana lançada no início do ano avança, em especial em alguns redutos pró-russos, como as cidades de Donetsk e Lugansk, e na zona fronteiriça com a Rússia.
A uma dezena de quilômetros do local onde o avião malásio caiu, um jornalista da AFP ouviu um disparo de tanque perto da localidade de Kirovske e viu colunas de fumaça se elevarem no céu de Shajtarsk.
As forças ucranianas reivindicaram nesta sexta-feira a tomada da cidade de Novyi Svit, 25 km ao sul de Donetsk, que conta com 8.000 habitantes, e afirmaram que a aviação russa violou o espaço aéreo ucraniano.
Lugansk sem água nem eletricidade
Em Lugansk, os combates deixaram cinco mortos, entre eles um menor, e nove feridos civis em 24 horas, segundo as autoridades municipais. A cidade não conta com água corrente ou eletricidade.
Em Donetsk, a prefeitura indicou que um passageiro de um micro-ônibus morreu na noite de quinta-feira em uma explosão produzida por um disparo de artilharia.
Na quinta-feira, em um encontro em Minsk entre representantes ucranianos, separatistas e russos, sob a supervisão da OSCE, as diferentes partes acordaram garantir um acesso seguro aos investigadores internacionais durante seu trabalho no local da tragédia aérea, indicou a OSCE em um comunicado.
O ex-presidente ucraniano Leonid Kushma, que representa Kiev nas negociações, afirmou que os rebeldes pró-russos, que controlam a zona onde o avião caiu, afirmaram que entregariam os objetos pessoais dos falecidos.
As duas partes se comprometeram a libertar 20 prisioneiros cada uma, acrescentou em uma entrevista à agência Interfax-Ucrânia.
Os combates deixaram mais de 1.100 mortos, segundo as Nações Unidas, sem contar as vítimas do avião, e significaram um duro golpe para as relações entre os países ocidentais e Moscou.
A Rússia, cuja economia encontra-se à beira da recessão, minimizou a importância das últimas sanções ocidentais contra setores chave como finanças, defesa e energia, e advertiu que estas medidas poderiam se voltar contra os interesses de Europa e Estados Unidos.
O opositor russo e ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov lamentou que os países ocidentais tenham esperado tanto tempo para reagir a Putin.
*Atualizada às 13h14 do dia 01/08/2014