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EUA admite se aliar ao Talibã contra Estado Islâmico

EUA e aliados têm trabalhado para recalibrar seu relacionamento com o Talibã após a tomada do poder no Afeganistão

Crise humanitária e econômica pode levar ainda mais afegãos a buscar uma saída (WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images)

Crise humanitária e econômica pode levar ainda mais afegãos a buscar uma saída (WAKIL KOHSAR/AFP/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 3 de setembro de 2021 às 09h31.

Última atualização em 3 de setembro de 2021 às 09h36.

O chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, general Mark Milley, disse na quinta-feira, 1º, ser possível que os americanos coordenem com o Talibã a luta contra a facção afegã do Estado Islâmico. Milley, porém, se recusou a fazer previsões sobre uma possível aliança com o novo regime do Afeganistão. "Na guerra, você faz o que se deve fazer, mesmo que não seja aquilo que gostaria de fazer", disse o general.

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Quando questionado se os EUA cooperariam com o Talibã contra o Estado Islâmico Khorasan, o braço afegão do EI, também conhecido como Isis-K, o general disse que há essa possibilidade. A capacidade de o Talibã controlar o grupo tornou-se uma questão de grande preocupação internacional, depois que o Isis-K assumiu a responsabilidade por um ataque ao aeroporto de Cabul que deixou 170 civis e 13 militares americanos mortos nos últimos dias da retirada dos EUA.

Comandantes americanos trabalharam com o Talibã para facilitar a retirada de mais de 124 mil pessoas do Afeganistão nas últimas semanas. Tanto os EUA quanto o Talibã veem no Estado Islâmico uma ameaça comum: o grupo terrorista islâmico considera o Talibã muito moderado e tem nos EUA um inimigo declarado.

Americanos e aliados têm trabalhado para recalibrar seu relacionamento com o Talibã - um grupo que permanece nas listas de vigilância de terroristas em todo o mundo. Nas últimas semanas, os EUA cooperaram com o grupo para garantir a segurança do aeroporto de Cabul e oficiais de defesa admitiram que existe a possibilidade de a ameaça representada pelo Isis-K exigir um trabalho conjunto no futuro.

Uma crescente crise humanitária e econômica pode levar ainda mais afegãos a buscar uma saída. Os preços dos alimentos mais básicos, como ovos e farinha, dispararam. Os alimentos de emergência que as Nações Unidas distribuem a centenas de milhares de afegãos devem acabar até o fim do mês. A ajuda externa foi interrompida. As longas filas em agências de banco são diárias.

Na quarta-feira, as principais autoridades do Pentágono expressaram cautela sobre continuar a trabalhar com os líderes do Talibã. O secretário de Defesa americano, Lloyd Austin III, disse que, embora os EUA tenham atuado com o Talibã em um conjunto restrito de prioridades, era, segundo ele, difícil prever se essa cooperação continuaria no futuro.

Outros governos estão trabalhando para traçar uma parceria com o Talibã ou com atores regionais para retirar os civis restantes que desejam sair de Cabul. O chanceler do Reino Unido, Dominic Raab, esteve ontem em Doha, no Catar, para discutir com autoridades locais a situação no Afeganistão e como garantir uma passagem segura para os que permanecem no país. O Catar já hospedou líderes do Talibã e foi o local das negociações de paz entre a milícia e o governo Trump, no ano passado.

Raab disse que o Reino Unido não reconhecerá o Talibã no futuro próximo, mas também não descartou a possibilidade de manter contatos com o grupo. "Vemos a necessidade de um envolvimento direto", disse o chanceler britânico. Ele afirmou ter conversado com líderes do Catar sobre a possibilidade de manter o aeroporto em Cabul como rota para afegãos que correm alto risco e ainda querem fugir.

Segundo o governo britânico, Simon Gass, enviado especial para a transição do Afeganistão, manteve conversações nos últimos dias com representantes políticos do Talibã.

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