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Pela primeira vez, chechenos são suspeitos no Ocidente

Sequestros e a derrubada de um avião na Turquia foram cometidos em 1996 e em 2001 em nome da causa independentista chechena


	Foto dos dois suspeitos do atentado na Maratona de Bosto:os dois irmãos chechenos suspeitos de serem os autores dos atentados em Boston parecem ter aderido ao extremismo islâmico.
 (REUTERS/FBI)

Foto dos dois suspeitos do atentado na Maratona de Bosto:os dois irmãos chechenos suspeitos de serem os autores dos atentados em Boston parecem ter aderido ao extremismo islâmico. (REUTERS/FBI)

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Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2013 às 16h56.

Moscou - Os chechenos ficaram conhecidos durante as duas guerras com Moscou, por seus atos terroristas no exterior, mas nunca haviam sido suspeitos de um atentado capaz de causar tamanha comoção no Ocidente, como o que atingiu a Maratona de Boston.

Sequestros e a derrubada de um avião na Turquia foram cometidos em 1996 e em 2001 em nome da causa independentista chechena.

Mas após a primeira guerra da Chechênia (1994-1996), a rebelião ganhou progressivamente contornos islâmicos e ultrapassou as fronteiras desta pequena república do Cáucaso, e até para além da Rússia.

Os dois irmãos chechenos suspeitos de serem os autores dos atentados em Boston, que deixaram três mortos e mais de 180 feridos na segunda-feira, parecem ter aderido ao extremismo islâmico.

O mais velho, Tamerlan Tsarnaev, de 26 anos, considerado pelo FBI o "suspeito número um" do atentado duplo de Boston e morto nesta madrugada, teria uma conta no Youtube com vídeos de forte conotação islâmica.

Seu irmão Djokhar, de 19 anos, procurado pela polícia, escreveu em sua página na rede social VKontakte, espécie de Facebook russo, que sua "concepção do mundo é islâmica".

"É estranho que Tamerlane, que postava em sua conta no Youtube vídeos de propaganda wahhabita não tenha atraído a atenção, e que os dois irmãos não estivessem no banco de dados do FBI", ressaltou uma especialista em inteligência, Irina Bogoran da agência agentura.ru.

"Não podemos dizer que os irmãos fazem parte da Al-Qaeda, mas parece que teve influência. As bombas foram fabricadas de uma forma muito profissional, como as bombas usadas no Afeganistão contra as patrulhas americanas", acrescentou Bogoran.


De acordo com Alexander Cherkasov, especialista do Cáucaso na ONG Memorial, "na era da internet não é necessário participar de conferências ou receber cartas pelo correio com ordens de missão para fazer parte de uma rede".

"Ainda assim, é improvável que o líder da rebelião islâmica do Cáucaso russo, o checheno Doku Umarov, tenha dado ordens a eles", ressaltou Cherkasov, acrescentando que "esse líder se considera parte da jihad global."

De acordo com inúmeros relatos na imprensa ocidental, os chechenos, muito experientes depois de duas guerras com Moscou, combateram ao lado de rebeldes contra o governo no Iraque e agora estão muito ativos na Síria.

O site islâmico checheno Kavkazcenter.com informou em agosto que o filho de um ex-líder rebelde das guerras da Chechênia, Rustam Gelayev, havia sido morto na Síria, lutando ao lado das forças rebeldes.

O primeiro ato terrorista fora da Rússia e ligado a Chechênia foi registrado em 1996.


Em 16 de janeiro desse ano, um comando turco partidário da causa chechena sequestrou no porto de Trabzon, na costa turca do Mar Negro, o navio Avrasya que estava prestes a navegar para o porto russo de Sochi. O comando composto de abkhazes e circassianos, dois povos do Cáucaso, tomaram como reféns cerca de 150 passageiros, em sua maioria russos, antes de libertá-los sem violência três dias depois.

Em 15 de março de 2001, durante a segunda guerra da Chechênia, um avião russo foi sequestrado por três chechenos que o levaram ao aeroporto saudita de Medina, exigindo o fim da guerra.

Três pessoas -um sequestrador, uma aeromoça e um cidadão turco- foram mortos durante o ataque das forças especiais sauditas.

Em abril do mesmo ano, uma equipe de treze homens armados pró-chechenos sequestrou cerca de 120 pessoas, incluindo muitos estrangeiros, em um grande hotel de Istambul para protestar contra os ataques "sangrentos" do poder russo no Cáucaso. A operação terminou pacificamente.

Em 13 de janeiro de 2009, o checheno dissidente Israilov, um verdadeiro incômodo para o governo checheno pró-russo, foi assassinado nas ruas de Viena, após uma tentativa frustrada de levá-lo de volta à Chechênia.

A contra-espionagem austríaca suspeita que o homem forte da Chechênia, Ramzan Kadyrov, estava por trás do caso.

Três chechenos foram condenados a penas de prisão que variam de 16 anos à prisão perpétua por cumplicidade no assassinato. O assassino de fato, Letschka Bogatirov, fugiu para a Chechênia.

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