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Pedofilia, praga que autoridades das Filipinas ignoram

Corrupção das autoridades filipinas e a conivência nos tribunais permite que os pedófilos circulem confortavelmente há décadas no país


	Computador usado em operação policial contra a pedofilia na internet: "governo diz que condenar estrangeiros pedófilos é ruim para o turismo", diz entidade
 (Thomas Coex/AFP/AFP)

Computador usado em operação policial contra a pedofilia na internet: "governo diz que condenar estrangeiros pedófilos é ruim para o turismo", diz entidade (Thomas Coex/AFP/AFP)

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Da Redação

Publicado em 17 de fevereiro de 2014 às 14h26.

Manila - A corrupção das autoridades filipinas e a conivência nos tribunais permite que os pedófilos circulem confortavelmente há décadas no país, um dos maiores produtores de pornografia infantil.

"O governo diz que condenar estrangeiros pedófilos é ruim para o turismo, que não quer colocá-los na prisão porque nos faz parecer maus", explicou à Agência Efe o padre Shay Cullen, diretor da Fundação PREDA, dedicada à defesa dos direitos dos menores nas Filipinas desde 1969.

Desde que se envolveu com esta organização, em 1996, Cullen diz ter conseguido denunciar judicialmente centenas de estrangeiros pedófilos, mas que somente um deles foi condenado.

"Nem todos os estrangeiros pedófilos que vêm às Filipinas se saem bem, mas muitos sim", declarou o ativista, indicado três vezes ao Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho no país asiático.

Padre Cullen conhece bem o drama dos abusos sexuais a menores, já que a PREDA possui um abrigo para as vítimas de pedófilos na cidade de Olongapo, no norte das Filipinas.

Olongapo é uma dos maiores destinos do turismo sexual do país que dá trabalho a milhares de pessoas. A cidade surgiu há décadas em consequência da presença de soldados americanos na base militar da vizinha baía de Subic.

Para proteger este turismo sexual, denunciou o fundador da PREDA, as autoridades locais também se transformam em cúmplices dessa indústria obscura.

"Concedem licenças para uma multidão de prostíbulos, que aqui chamamos "bares de sexo", só para proteger o turismo apesar de saber a que se dedicam. Desta forma, apoiam o tráfico de pessoas em que menores são vendidos aos locais ou a turistas sexuais", continuou o sacerdote.

A corrupção é outra das razões para alguns funcionários locais ignorarem a pedofilia, por receberem suborno para fazer vista grossa.

"Outros funcionários, no entanto, são os próprios donos dos estabelecimentos, ou simplesmente acham divertido e fazem competições para ver quem transa com a mais jovem. Há uma cultura do abuso", alertou Cullen.


A corrupção também é um dos principais problemas na luta contra a pedofilia nas Filipinas para a Save The Children, outra organização de defesa dos direitos das crianças.

"A corrupção ainda é muito presente nas autoridades locais", lamentou Wilna Banaga, especialista em pedofilia da Save The Children nas Filipinas.

"Houve alguns esforços por parte dos governos locais, mas deveriam fazer muito mais", acrescentou.

Nos últimos anos as redes de pedófilos desenvolveram uma nova ameaça para os menores na internet, meio que utilizam para abusar em tempo real de centenas de crianças a milhares de quilômetros de distância.

Uma recente operação policial conjunta entre Reino Unido, Austrália e Estados Unidos permitiu desarticular uma rede que, pela internet, abusa de menores nas Filipinas, em um negócio que segundo a polícia filipina movimenta "milhões de euros".

Cullen e a PREDA conhecem há anos este tipo de crime e já resgataram dezenas de crianças dos chamados "antros de cibersexo", locais em que um computador e um colchão no chão é suficiente para obrigar crianças a ficarem nuas e fazer o que os clientes pedem.

A Save The Children critica o governo por não combater a pedofilia online de forma efetiva, já que "conta com a legislação necessária, mas deveria haver um esforço mais coordenado entre o Ministério da Justiça, o Departamento de Bem-Estar Social e a polícia".

A organização aposta em "informar e conscientizar" pais e adultos sobre o abuso de menores pela internet para tentar reduzi-lo, apesar de em algumas ocasiões serem os próprios pais os que permitem este tipo de abusos a seus filhos.

"Há um ano recuperamos uma criança que nos disse que muitos de seus amigos faziam o mesmo que ele, e que seus pais permitiam porque voltavam com muito dinheiro depois de apenas algumas horas diante de um computador com uma câmera", lamentou Cullen.

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