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Por que o mercado está de olho nos dados do Payroll dos EUA nesta sexta: 'dia de grandes definições'

Dados de desemprego nos Estados Unidos afetarão rumos da taxa de juros americana, com efeitos para o Brasil e para a economia global

Sede do Departamento do Trabalho, em Washington, com fotos dos presidentes Donald Trump e Theodore Roosevelt na fachada (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)

Sede do Departamento do Trabalho, em Washington, com fotos dos presidentes Donald Trump e Theodore Roosevelt na fachada (Andrew Caballero-Reynolds/AFP)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 4 de setembro de 2025 às 18h10.

Última atualização em 4 de setembro de 2025 às 18h43.

O Payroll, nome do boletim com os dados de emprego nos Estados Unidos, será divulgado nesta sexta-feira, 5, às 9h30 (hora de Brasília). O mercado espera os dados com atenção, pois os números poderão afetar os rumos da taxa de juros dos EUA e, por consequência, os juros e a economia do Brasil. Além disso, trata-se da primeira divulgação do dado após o presidente do país, Donald Trump, demitir Erika McEntarfer, chefe do Escritório de Estatísticas do Trabalho (BLS), órgão que publica o Payroll.

“A sexta-feira promete ser um dia de grandes definições no mercado financeiro global. As divulgações dos indicadores de emprego dos EUA são sempre importantes, mas a de amanhã [sexta] é especial”, diz Aurélio Bicalho, economista-chefe da gestora Vinland Capital. “A bolsa brasileira e o dólar devem se mover de acordo com as perspectivas para a decisão do Fed”. 

A expectativa predominante do mercado é que o Fed, o banco central americano, comece a reduzir já na próxima reunião, em 17 de setembro, a taxa de juros dos EUA, hoje na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano, para o patamar de 4% a 4,25%. 

“Uma alta da taxa de desemprego para acima de 4,3%, por exemplo, pode levar o Fed a cortar os juros mais rápido, com uma redução de 50 pontos-base. Já uma forte criação de vagas e uma taxa de desemprego estável podem adiar a flexibilização monetária para outubro”, diz Bicalho.

A taxa de desemprego nos EUA se mantém abaixo de 4,5% desde novembro de 2021. Neste ano, o número tem ficado acima de 4%, e atingiu 4,2% em julho passado

Criação de vagas

Outro dado importante a se observar nesta sexta é a criação de vagas. Economistas ouvidos pelo Wall Street Journal esperam a criação de 75 mil posições em agosto, ante 73 mil em julho. 

De janeiro a abril, quando começou o novo mandato de Trump, a criação de vagas havia estado acima de 100 mil por mês. 

Houve, no entanto, um susto com os dados de julho, divulgados no começo de agosto. Além de o indicador vir abaixo deste patamar (73 mil), o BLS revisou os dados de maio e junho, para 14 mil e 19 mil, respectivamente, sendo que ambos estavam acima de 100 mil por mês. Esta baixa na criação de vagas indica uma piora da economia. 

Em 22 de agosto, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse em entrevista coletiva que um esfriamento no mercado de trabalho poderia estar a caminho, e que isso poderia levar a entidade a mudar sua política de juros. Isso levou o mercado a esperar uma redução já na reunião de setembro.

Powell é alvo frequente de ataques de Trump. Nesta semana, o presidente anunciou a demissão da diretora do Fed Lisa Cook — e o caso foi parar na Justiça, ampliando as incertezas sobre uma intervenção direta do Executivo no Fed.

O Fed tem como meta trazer a inflação dos EUA para 2% ao ano, mas ela está acima deste patamar desde o começo de 2021. O indicador PCE, um dos que o Fed dá mais atenção, ficou em 2,6% em julho

Além das incertezas trazidas pelas novas tarifas do presidente Donald Trump, marcadas por idas e vindas, o combate mais rígido à imigração também afeta o mercado de trabalho, ao reduzir a oferta de trabalhadores disponíveis. Ao mesmo tempo, a saída de imigrantes do país reduz a demanda por produtos e serviços.

Demissão de chefe do departamento

Após a revisão feita em julho, Trump demitiu Erika McEntarfer, chefe do BLS, órgão que publica o Payroll. O presidente disse, em uma rede social, que os números teriam sido forjados para prejudicá-lo, sem apresentar provas. 

Assim, há o temor de que os dados poderão sofrer algum tipo de inconsistência. O BLS disse que não mudará sua metodologia para esta edição. O escritório não pega dados de todas as empresas, mas busca informações com 120 mil companhias por mês, por telefone ou e-mail, para estimar a criação de empregos. 

As revisões dos dados de meses anteriores ocorrem porque muitas empresas demoram a responder, segundo a entidade.

Trump nomeou o economista conservador Erwin John Antoni para chefiar o BLS, mas a nomeação ainda aguarda confirmação no Senado.

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