Atenas - Milhares de pessoas pobres aguardam pacientemente, sob o sol forte de Atenas, na calçada da sede do partido neonazista Amanhecer Dourado, as tradicionais distribuições de comida "apenas para gregos" por parte da legenda.

O prefeito de Atenas, Giorgos Kaminis, havia proibido o plano inicial de distribuir os alimentos em uma praça no coração de Atenas, por considerá-lo um ato "inadmissível de discriminação racial", exatamente no dia em que a Grécia comemora o 39º aniversário do retorno da democracia.

Para garantir que a ordem seria respeitada, a polícia estendeu a proibição a qualquer evento público em um raio de quinhentos metros em torno do lugar escolhido inicialmente pelo partido neonazista para a distribuição.

"Podem fazê-lo em sua sede se quiserem, mas não em um lugar público", declarou o prefeito. E foi isso o que aconteceu.

Os neonazistas transferiram em poucas horas o lugar de distribuição para a sede do partido e ainda conseguiram chamar mais atenção para o ato.

"A Grécia pertence aos gregos", "Fora, estrangeiros", "Sangue, honra, Amanhecer Dourado", foram algumas das palavras de ordem que gritava uma multidão unida não só pela sua dificuldade econômica, mas também por seu ódio pelos governantes atuais, o conservador primeiro-ministro Antonis Samaras e o líder do partido social-democrata da coalisão governista, Evangelos Venizelos.

"A presença de vocês é um golpe para os que quiseram proibir a distribuição de comida aos gregos", gritava da varanda do partido neonazista o líder, Nicolaos Mikhaloliakos, para os seus seguidores.

"Hoje os políticos festejam o aniversário da democracia, como a chamam. Na realidade, comemoram o nascimento da cleptocracia, da traição ao nosso país", acrescentou.

"O pior de todos é Antonis Samaras, que traiu os valores de seu próprio partido. Pela liberdade de nossa pátria, estamos dispostos a ir para a prisão, inclusive a verter nosso sangue, mas nunca permitiremos que vendam nossa pátria", bradou o líder.

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Quando começou a distribuição de comida, os seguranças do partido proibiram as equipes de televisão e os fotógrafos de registrarem imagens dos alimentos e do povo fazendo fila. De nada serve argumentar que a rua é pública. Os neonazistas estão em maioria, não há policiamento em nenhum lugar e eles intimidam os profissionais da mídia.

A distribuição começa lentamente. As pessoas que fazem fila devem mostrar a carteira de identidade à secretaria e, às vezes, um certificado municipal.

À medida que a repartição fica lenta, a fila começa a ter tumulto, e o povo passa a dar empurrões.

Os militantes do Amanhecer Dourado pedem paciência e ameaçam tirar da fila quem não esperar pela sua vez. Além disso, começam a distribuir garrafas de água para acalmar a situação.

A operação terminou sem maiores problemas, perante a ausência total da polícia ou de qualquer contramanifestação. Só o que acontece são algumas reações de políticos que, através de comunicados, manifestam sua repulsa.

"Atenas é e continuará a ser uma cidade democrática", disse o partido social-democrata e governamental PASOK em nota oficial. Não houve reação do partido Nova Democracia, de Samaras.

O partido neonazista organizou anteriormente este tipo de distribuição de comida para pobres gregos, além de campanhas de doação de sangue "de gregos para gregos", e a oferta de uma rede de atendimento médico batizada de "Médicos com fronteiras".

O Amanhecer Dourado conseguiu nas eleições 7% dos votos há um ano e tem 18 deputados no parlamento grego.

Desde então, e graças a campanhas deste tipo, a legenda continuou subindo na aprovação dos gregos e, segundo as últimas enquetes, tem entre 13% e 15% das intenções de voto, o que transformaria o partido na terceira principal força política do país, a segunda se considerada apenas a faixa de eleitores entre 18 e 44 anos.