Robert Biedron, Político do partido Primavera da Polônia (Marcin Stepien/Agencja Gazeta/Reuters)
EFE
Publicado em 13 de fevereiro de 2019 às 13h23.
Varsóvia — Primavera é o partido da moda no atual cenário político da Polônia, uma formação progressista que foi apresentada na semana passada por seu líder, Robert Biedron, o único polonês abertamente gay que se propõe a mudar o país e "aposentar" o governo nacionalista da legenda Lei e Justiça.
Se fossem realizadas eleições hoje, o Primavera de Robert Biedron seria a terceira força mais votada, de acordo com a última pesquisa, com 14% dos votos, um recorde para um partido que ainda não completou nem uma semana de vida e que já se transformou na esperança da esquerda na Polônia.
Segundo a mesma pesquisa, elaborada pelo instituto Millward Brown para a emissora "TVN", o Lei e Justiça se mantém como a primeira força, com 29%, seguido pela aliança de liberais de centro-direita, com 20%.
O sucesso nas pesquisas mostra que as propostas desta incipiente "Primavera polonesa" chegaram a uma sociedade "cansada" do que Biedron chama de "políticos medievais", imersos "nas trevas" de uma visão "marcada pela religião e pelas ideias retrógradas".
O Primavera propõe separar claramente Igreja e Estado, eliminar a dependência do carvão, melhorar os direitos das mulheres e das pessoas LGBT, impulsionar o europeísmo, facilitar o acesso ao aborto e, sobretudo, expatriar o "discurso de ódio" da política na Polônia.
"O seu programa anticlerical, que inclusive propõe renegociar a concordata, e a sua defesa decidida do meio ambiente é, sobretudo, dirigida a um eleitorado formado pela classe média das grandes cidades", explicou a analista política e professora universitária Anna Sroka.
Cética sobre a última pesquisa, que dá 14% das intenções de voto para o Primavera, Sroka diz não acreditar em tamanho apoio, uma opinião compartilhada por outros analistas locais como Henryk Domanski e Grzegorz Maleck, que imaginam um máximo de 8% dos votos para o partido de Biedron.
"A Polônia é uma democracia jovem, e em cada eleição aparece um partido novo que capta votos e protagoniza a campanha com as suas propostas inovadoras", lembrou Sroka.
Mas o caso de Robert Biedron pode ser diferente, já que este político está acostumado a encarar todos os desafios com os quais se depara, inclusive sua orientação sexual, em um país onde os valores tradicionais e católicos ainda pesam muito.
Em 2011, foi eleito parlamentar pelo hoje dissolvido Movimento Palikot e, posteriormente, prefeito de Slupsk (o primeiro abertamente gay da Polônia). "Embora muitos não dessem nada por mim...", disse Biedron em entrevista à Agência Efe em outubro do ano passado.
Essa conversa aconteceu dias depois de Biedron deixar a prefeitura de Slupsk para se aventurar na arena política nacional com um movimento político que agora se transformou no partido Primavera. Ele dizia que era o momento de "tentar mudar a Polônia".
Biedron explicou na ocasião que o inimigo político a ser batido é o governo do partido Lei e Justiça (força que ganhou com maioria absoluta os pleitos de 2015), "uma ameaça para a democracia polonesa, já que quer impor suas crenças a todos sem perguntar, e que assumiu o controle das instituições para usá-las conforme seu desejo, como brinquedos".
"Obviamente, com o Lei e Justiça no poder, o nosso sistema político e a nossa vida comunitária estão se deteriorando e continuarão assim se ele voltar a ganhar, mas não o farão, e eu farei o possível para detê-los", disse Biedron à Efe.
"Ao nosso favor temos o fato de que os poloneses são muito mais progressistas do que se acredita, e são geralmente nossos políticos os que atribuem a eles uma má reputação, os que mantêm vínculos estreitos com os hierarcas da Igreja Católica e frequentemente seguem suas diretrizes e se afastam do que a maioria da sociedade pensa", comentou.
Ainda é cedo para dizer se o projeto político de Biedron, hoje com 42 anos, confirmará os bons números das pesquisas, mas não falta nem energia nem ambição ao ativista.
As eleições do Parlamento Europeu, em maio, serão o primeiro desafio do Primavera antes das eleições gerais polonesas, em novembro.