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Partidários de Trump terão tempos difíceis sem Obamacare

Se o sistema público de saúde for substituído pelo plano que os republicanos projetam, diversos americanos terão que enfrentar as mudanças nos atendimentos

EUA: as clínicas locais são um salva-vidas (literalmente) para muitas pessoas em um contexto econômico difícil (Mark Makela/Getty Images)

EUA: as clínicas locais são um salva-vidas (literalmente) para muitas pessoas em um contexto econômico difícil (Mark Makela/Getty Images)

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AFP

Publicado em 24 de março de 2017 às 15h54.

Maribeth Coot, eleitora de Donald Trump, diz detestar o Obamacare, apesar de ser a única opção de cobertura médica existente em sua cidade, Rogersville, um diminuta localidade do sudoeste da Pensilvânia.

"O governo deveria se afastar e me deixar solucionar sozinha, sair totalmente da indústria da cobertura médica", considera esta mulher de 52 anos, enquanto limpa seus móveis estragados pelas recentes inundações.

Donna Himelrick não tem seguro, apesar de ser a prefeita de Hundred, uma pequena cidade 30 km ao sul, na vizinha Virgínia Ocidental.

"Ganho muito para o Medicaid e não o suficiente para poder pagar um seguro. É uma situação difícil", explica Himelrick, de 62 anos.

Como milhares de pessoas em Appalachia, as duas mulheres votaram no candidato republicano em novembro para dar uma guinada no sistema político dos Estados Unidos.

O Affordable Care Act (Lei de Atendimento de Saúde Acessível), insistem, não é a solução para seus problemas de saúde, mas ambas terão que enfrentar mudanças dramáticas no atendimento de saúde se o Obamacare for substituído pelo plano que os republicanos projetam em Washington.

As clínicas locais são um salva-vidas (literalmente) para muitas pessoas em um contexto econômico difícil nesta região, mas agora que Trump é presidente as reformas aprovadas por seu antecessor Obama correm perigo, e isso pode se traduzir em um desastre para muitos centros médicos comunitários nesta região da América rural.

"Há muitas coisas que devem ser resolvidas a respeito da saúde, mas fechar clínicas locais seria um problema para mim", afirma Himelrick.

Rede de segurança

O Cornerstone Care em Rogersville atende, junto a outras clínicas, a população desta zona onde as minas de carvão fecharam recentemente, aumentando o desemprego, e onde os centros de saúde de maior porte podem estar a mais de 30 km de distância.

"Somos a rede de segurança para esta comunidade", afirma Janice Morris, chefe-executiva da clínica Clay-Battelle em Blacksville, Virgínia Ocidental.

Com o Obamacare, vários estados ampliaram o Medicaid, o programa de saúde federal para pessoas de baixa renda e deficiência física, para incluir os residentes cujas receitas se situem em 138% da linha da pobreza.

Entre Pensilvânia e Virgínia Ocidental, somam 845.000 pessoas, razão pela qual eliminar o programa, como pretendem os republicanos, "teria um impacto terrível na zona", explica à AFP a partir de Washington o senador democrata Bob Casey.

Na clínica Clay-Battelle, cerca da metade dos pacientes são cobertos pelo Medicaid ou Medicare, o programa para os idosos.

O Obamacare ajudou a diminuir o número de pacientes sem cobertura em Clay-Battelle e em Cornerstone, aumentando os reembolsos e permitindo, por sua vez, uma maior contratação de pessoas e horários de abertura ampliados.

"Muita gente não reconhece que a cobertura médica da qual dispõem só é possível graças ao Affordable Care Act", destaca Morris.

"Pensem na América rural"

Don Humbertson, de 64 anos, explica que deve a vida aos médicos de Clay-Battell que descobriram que tinha câncer de pulmão.

"Quando o Obamacare foi aprovado, eu era totalmente contra", explica este pedreiro aposentado, que tem dificuldades para falar e respirar por ter precisado retirar parte do pulmão. "Mas agora vi como ajuda algumas pessoas".

Em uma disputa para tornar possível uma maior oferta de seguros dentro do livre mercado, os republicanos querem diminuir os subsídios que permitem aos americanos ter acesso à saúde, mas isso pode colocar em risco a cobertura médica de milhões de pessoas.

A lei, que está por um fio, pode ser votada no Congresso nesta sexta-feira.

Na terra de Trump, muitos trabalhadores da saúde são conscientes da ironia de que a reforma dos republicanos prejudique os centros de saúde que se ocupam das pessoas cujos votos levaram o novo presidente à Casa Branca.

"Encaro isso como algo pessoal", afirma Morris. "Boa parte de nosso quadro de funcionários é partidária de Trump. Por isso, peço (aos republicanos) que pensem na América rural que os apoiou. Que não deem as costas a ela", concluiu.

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