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Parlamento iraquiano aprova expulsão de tropas americanas do país

Em paralelo, a Chancelaria do Iraque convocou o embaixador dos EUA e realizou reclamações formais contra a “perigosa violação de soberania iraquiana”

Iraque tem pelo menos 5.000 soldados americanos em solo nacional (Salah Malkawi/Getty Images)

Iraque tem pelo menos 5.000 soldados americanos em solo nacional (Salah Malkawi/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 5 de janeiro de 2020 às 12h36.

Última atualização em 5 de janeiro de 2020 às 13h34.

Bagdá - O Parlamento iraquiano aprovou neste domingo, 05, uma resolução que pede a retirada das tropas americanas do país. A medida é uma represália ao assassinato do general iraniano, Qassem Soleimani e do comandante militar iraquiano, Abu Mahdi al-Muhandis, mortos em um ataque realizado pelos Estados Unidos na sexta-feira, 03, no aeroporto internacional de Bagdá.

Em paralelo, a Chancelaria do país convocou o embaixador americano e realizou reclamações formais contra a “perigosa violação de soberania iraquiana”.

Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o pretexto de que ele tinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Posteriormente, foi feito um novo acordo específico para combater o Estado Islâmico, que a partir de 2014 ocupou várias cidades iraquianas. Os EUA mantêm atualmente cerca de 5 mil soldados no Iraque.

O acordo legal entre Bagdá e Washington afirma que as tropas americanas estão no Iraque “a convite” do governo local para combater o Isis. Com a aprovação da resolução, parece improvável que Bagdá se recuse a revogar o convite, algo que, teoricamente, forçaria os americanos a retirar suas tropas.

Convocada após o ataque contra Suleimani, a sessão extraordinária foi aberta pelo primeiro-ministro Adel Abdul Mahdi, que disse que por um fim a presença de soldados estrangeiros no país é o melhor para o Iraque, apesar das dificuldades internas e externas que isso pode causar.

Ele disse ainda o presidente americano, Donald Trump, o telefonou para pedir que mediasse a crise entre os EUA e o Irã e, em seguida, ordenou o ataque de drones que matou Soleimani e Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP). Segundo Mahdi, o general iraniano estaria carregando a resposta para uma iniciativa saudita para aliviar as tensões quando foi morto.

"Decisão adotada !"

O primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi denunciou "um assassinato político" de Soleimani e Mouhandis, o que deixa apenas duas opções: "mandar que as tropas estrangeiras partam imediatamente ou rever seu mandato por um processo parlamentar".

O chefe do Parlamento, Mohammed al-Halboussi, leu então uma decisão que "obriga o governo a preservar a soberania do país, retirando seu pedido de ajuda" dirigido à comunidade internacional para combater o grupo Estado Islâmico (EI) - e, portanto, retirar seu convite à coalizão internacional.

Em meio a uma grande confusão, enquanto que entre os 168 deputados presentes - dos 329 - alguns exigiam uma votação, Halboussi anunciou: "decisão adotada!", antes de se retirar.

As Brigadas do Hezbollah, a facção mais radical da Hashd, pediram no sábado aos soldados iraquianos que se afastassem "pelo menos 1.000 metros" dos locais onde os soldados americanos estão presentes neste domingo à noite, o que implica que esses locais podem ser alvos de ataques.

Uma ameaça que o secretário de Estado americano Mike Pompeo levou a sério o suficiente para denunciar no Twitter um apelo lançado por "bandidos".

O movimento xiita libanês Hezbollah, cujos homens lutam ao lado do regime sírio e de seu aliado iraniano, pediu ao Iraque que se libertasse da "ocupação" dos Estados Unidos e disse que o Exército americano "pagaria o preço" pelo assassinato de Soleimani.

Sábado à noite, após enormes manifestações em várias cidades do Iraque em homenagem a Soleimani, foguetes caíram na Zona Verde de Bagdá, onde está localizada a embaixada americana, e numa base aérea que abriga soldados americanos.

A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos anunciou a suspensão do treinamento das forças iraquianas e a luta contra o EI, porque está "agora totalmente dedicada a proteger as bases iraquianas que hospedam suas tropas".

Washington já havia anunciado recentemente o envio de 3.000 a 3.500 soldados adicionais à região.

Neste contexto, Bagdá convocou o embaixador americano para denunciar "violações da soberania do Iraque" por "operações militares ilegítimas (...) que podem levar a uma escalada de tensões na região".

Também anunciou que havia apresentado uma queixa ao Conselho de Segurança da ONU contra "ataques americanos a bases iraquianas" e "contra o assassinato de comandantes militares iraquianos e amigos".

As mortes de Soleimani e Mouhandis despertaram imensa comoção no Iraque e no Irã.

Neste domingo, uma maré humana desfilou no Irã em Ahvaz (sudoeste), Zanjan (nordeste) e Machhad (nordeste), onde o caixão de Soleimani acaba de chegar, aos gritos de "Morte à América".

Após a ameaça de Donald Trump de atingir 52 alvos iranianos, Pompeo afirmou neste domingo que os Estados Unidos respeitariam a "lei internacional", mas o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, alertou que atacar sítios culturais é "um crime de guerra".

O Irã também disse duvidar da "coragem" dos americanos em cumprir sua ameaça e respondeu que estava acelerando o processo para reduzir seus compromissos nucleares internacionais "dada a situação".

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