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Parceria secreta: Entenda o papel oculto dos EUA no conflito entre Rússia e Ucrânia

Investigação do New York Times revela como Washington ajudou Kiev a reverter ofensivas e apoiou ataques estratégicos na Crimeia e dentro do território russo

Joe Biden e Volodymyr Zelensky durante encontro na Casa Branca, em 2022 (AFP)

Joe Biden e Volodymyr Zelensky durante encontro na Casa Branca, em 2022 (AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 31 de março de 2025 às 10h05.

Última atualização em 31 de março de 2025 às 10h10.

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Nos últimos meses, a guerra na Ucrânia atingiu um ponto de inflexão, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionando o líder russo, Vladimir Putin, por um acordo e defendendo o fim dos combates. No entanto, antes mesmo do retorno de Trump ao poder, EUA e Ucrânia mantiveram uma parceria secreta de inteligência, estratégia e tecnologia, cujos detalhes eram conhecidos apenas por um pequeno grupo de autoridades americanas e aliados.

Essa colaboração, revelada neste domingo pelo New York Times, influenciou diretamente as estratégias da guerra e permitiu que as forças ucranianas recebessem informações precisas sobre alvos russos no campo de batalha, aponta o prestigioso jornal americano.

Para equilibrar a superioridade militar russa, os EUA criaram a operação secreta Task Force Dragon. O centro da parceria ficava em Wiesbaden, na Alemanha, onde oficiais americanos e ucranianos definiam alvos diários — unidades, equipamentos ou infraestruturas russas. Informações de satélites e comunicações interceptadas eram usadas para localizar as forças russas, e os dados eram repassados aos soldados ucranianos.

Para evitar tensões diplomáticas, militares americanos evitaram chamar os alvos de "alvos", referindo-se a eles como "pontos de interesse".

Em 2022, os EUA enviaram os sistemas de artilharia HIMARS, capazes de atingir alvos a até 80 km de distância com precisão. Inicialmente, a Ucrânia dependia quase totalmente da inteligência americana, com a Task Force Dragon supervisionando cada ataque. O uso dos HIMARS resultou em um aumento nas baixas russas e garantiu vantagens significativas para a Ucrânia até o fim daquele ano.

Governo Biden expandiu gradualmente sua atuação na guerra

A princípio, Washington insistiu que os EUA não estavam lutando contra a Rússia, apenas ajudando a Ucrânia. No entanto, à medida que a guerra evoluiu, o governo do então presidente Joe Biden (2021–2025) tomou medidas mais arriscadas de forma sigilosa:

  • Autorizou a presença de cerca de 12 conselheiros militares americanos em Kiev, inicialmente chamados de "especialistas" para evitar repercussão pública. O número depois aumentou para cerca de 36.

  • Permitiu que a Marinha americana fornecesse informações para ataques ucranianos contra navios russos no Mar Negro e que a CIA apoiasse operações dentro das águas da Crimeia.

  • Aprovou uma ofensiva conjunta em 2024 para atacar cerca de 100 alvos russos na Crimeia com drones e mísseis de longo alcance, forçando a Rússia a reposicionar tropas e equipamentos.

EUA autorizaram ataques contra alvos dentro da Rússia

Durante a guerra, os EUA mantiveram uma linha vermelha: não auxiliar ataques dentro do território russo. No entanto, essa barreira foi rompida em 2024, quando Washington permitiu que oficiais em Wiesbaden fornecessem coordenadas para ataques na região de Kursk, em resposta à chegada de tropas norte-coreanas para apoiar a Rússia.

A CIA também obteve permissão para apoiar operações específicas dentro da Rússia. Em setembro de 2024, um ataque com drones destruiu um grande depósito de munições em Toropets, criando uma cratera do tamanho de um campo de futebol.

Divisões políticas na Ucrânia comprometeram a contraofensiva de 2023

Após vitórias iniciais, a contraofensiva ucraniana em 2023 fracassou devido a disputas entre líderes militares. O comandante-chefe Valery Zaluzhny defendia um ataque no sul, visando cortar linhas de abastecimento russas. No entanto, o presidente Volodymyr Zelensky e o general Oleksandr Syrskyi insistiram em dividir forças para atacar Bakhmut, no leste. O resultado foi a falha em retomar Bakhmut e o desgaste das tropas, permitindo que a Rússia recuperasse terreno e assumisse a vantagem.

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