Trump: "shutdown" iniciado em dezembro passado preocupa. (Leah Millis//Reuters)
Vanessa Barbosa
Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 14h51.
Última atualização em 15 de janeiro de 2019 às 14h52.
Agentes de segurança dos aeroportos poderiam pedir demissão em massa, o que deixaria os voos em solo. Tribunais federais poderiam parar de ouvir casos civis. Ônibus municipais poderiam parar de circular.
E 38 milhões de americanos poderiam deixar de receber cupons de alimentos.
Autoridades de Washington a Wall Street estão ponderando cenários dantescos se a paralisação parcial do governo dos Estados Unidos, que já é a mais longa da história, se estender até o segundo trimestre - ou além.
Os processos judiciais já estão colocando à prova a capacidade do governo de manter no emprego trabalhadores sem remuneração, dos quais centenas de milhares não receberam seu primeiro salário na semana passada.
Esforços de republicanos como o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, de fechar um acordo sobre imigração para resolver o impasse fracassaram, e Trump rejeitou na segunda-feira sua mais recente proposta. Um funcionário do governo disse que a Casa Branca está planejando estrategicamente para que a paralisação dure pelo menos até o final de fevereiro.
Além dos efeitos diretos sobre as empresas, segundo os economistas, a paralisação poderia abalar a confiança do consumidor e afetar as vendas no varejo, particularmente à medida que os trabalhadores contratados e funcionários federais não remunerados abrirem mão de gastos com carros, casas novas e até mesmo entretenimento.
Na verdade, três quartos do governo foram financiados por apropriações promulgadas antes do início do impasse. Departamentos como Defesa, Trabalho e Saúde e Serviços Humanos continuam em atividade. Outros, como o Serviço Postal dos EUA e o Federal Reserve dos EUA, têm fluxos de financiamento separados do que o Congresso fornece.
Mas a paralisação de mais de uma dúzia de departamentos e agências - da Segurança Interna à Agência de Proteção Ambiental - está repercutindo em todo o país, ameaçando a economia, a segurança pública, as empresas e o bolso das pessoas.
E isso só vai piorar.
O Departamento de Agricultura dos EUA afirmou que pode não haver dinheiro suficiente para conceder cupons de alimentos para 38 milhões de beneficiários em fevereiro.
Esse gasto representa cerca de 10 por cento dos alimentos que as famílias americanas compram para o lar, sendo que essas compras são feitas em cerca de 260.000 varejistas, segundo o Centro de Prioridades de Orçamento e Políticas.
Joe Brusuelas, economista-chefe da empresa de consultoria financeira RSM US, estima que a perda do financiamento dos cupons de alimentos por si só poderia subtrair pelo menos 0,53 por cento do PIB.
Uma paralisação prolongada também testará os limites de quanto tempo os funcionários e contratados do governo continuarão trabalhando sem remuneração - um problema para aqueles designados como "essenciais" e informados de que devem permanecer no trabalho apesar da suspensão dos pagamentos.
Embora a maioria dos trabalhadores tenha cumprido a ordem até o momento, uma paralisação prolongada, combinada com empregadores ansiosos por contratar no disputado mercado de trabalho, poderia representar um desafio tanto para a lealdade quanto para as economias deles.
"É neste momento que as pessoas começarão a procurar outras opções", disse Steve Lenkart, diretor executivo da Federação Nacional dos Funcionários Federais, com 110.000 membros. "O aluguel vai vencer, e muitos desses funcionários federais não têm dinheiro economizado."