Com doses suficientes apenas para vacinar totalmente 7% da população, o governo paraguaio decidiu adotar a abordagem que seria proibida em países com leis de privacidade mais rígidas na saúde (Maria Magdalena Arrellaga/Bloomberg)
Bloomberg
Publicado em 11 de junho de 2021 às 17h38.
Última atualização em 11 de junho de 2021 às 17h51.
Com poucas doses de imunizante e oprimido pelo novo coronavírus, um país com uma das maiores taxas de mortalidade por covid-19 está adotando uma nova abordagem de combate à corrupção relacionada a vacinas: publicar o nome de todos os que já foram vacinados.
Para quem quer saber se um amigo, vizinho ou membro da elite política do Paraguai está entre as 400.000 pessoas vacinadas, a resposta está a apenas alguns cliques no site do Ministério da Saúde. Lá, um banco de dados público lista o nome da pessoa, local de vacinação, tipo de vacina e número de doses. Abra e você verá que o ex-presidente Fernando Lugo recebeu a primeira dose da Sputnik V em 19 de maio e que Carlitos Vera, um conhecido comediante paraguaio, recebeu a Covaxin.
“É uma ferramenta de fiscalização para o cidadão”, disse Lida Sosa, vice-ministra da Saúde, em entrevista. Houve pessoas que olharam a lista e denunciaram indivíduos que foram vacinados, mas que não eram elegíveis, disse ela.
O grau de transparência do Paraguai seria proibido em muitos países com leis de privacidade mais rígidas na saúde. Mas com doses suficientes apenas para vacinar totalmente 7% da população e uma cultura de corrupção profundamente enraizada - o Paraguai ficou em segundo lugar na América do Sul no índice de percepção de corrupção da Transparency International em 2020 - há preocupações generalizadas sobre pessoas que furam a fila da vacinação. Os escândalos da chamada “vacinação VIP“, envolvendo autoridades do governo e políticos que usaram sua influência para obter doses de vacina, têm provocado indignação popular em países como Argentina, Peru, Líbano, Espanha e Filipinas.
No Paraguai, as pessoas vacinadas podem pedir para não serem incluídas na lista pública, mas até agora ninguém pediu anonimato, segundo Sosa.
Valentín Sánchez, um engenheiro de software paraguaio de 23 anos que mora nos Estados Unidos, é uma espécie de celebridade no Paraguai devido a seus esforços para identificar corrupção na vacinação.
“Como temos tão poucas doses de vacina e as pessoas não confiam no processo, a única maneira de dar a elas alguma confiança é por meio desta lista”, disse Sánchez. “As pessoas vão usar sua influência, se puderem, para serem vacinadas. Estamos falando de uma situação de vida ou morte.”
O governo comprou ou recebeu em doação 981.400 doses de seis vacinas diferentes, restando pedidos de quase 8 milhões de vacinas a serem atendidos. Paraguaios ricos não estão esperando e milhares deles voaram para Miami ou para qualquer outro lugar nos EUA para se vacinar. No momento, apenas profissionais de saúde, gestantes e pessoas com 60 anos ou mais podem ser imunizadas no Paraguai.
O país, onde o vírus matou mais de 10.000 pessoas, tem a maior taxa de mortalidade per capita do mundo nos últimos 7 dias, com quase 122 mortes por 1 milhão de pessoas, segundo dados compilados pela Bloomberg. Está em 6º lugar no número de casos. A taxa de mortalidade está entre as 30 maiores do mundo desde o início da pandemia.
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