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Paraguai inicia diálogo para superar crise política

O Partido Liberal e dissidentes do Partido Colorado reafirmaram que não participarão das negociações enquanto governo não retirar o projeto de reeleição

Paraguai: "É um bom primeiro passo. Evitar mais derramamento de sangue deve motivar a todos", disse o presidente da Câmara dos Deputados (Marcos Brindicci/Reuters)

Paraguai: "É um bom primeiro passo. Evitar mais derramamento de sangue deve motivar a todos", disse o presidente da Câmara dos Deputados (Marcos Brindicci/Reuters)

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AFP

Publicado em 5 de abril de 2017 às 21h59.

O Paraguai concluiu sem grandes progressos, nesta quarta-feira, o primeiro dia das negociações instaladas pelo presidente Horacio Cartes para tentar superar a crise política desencadeada por seu projeto de reeleição.

"Iniciamos o diálogo e encontramos coincidências pelo bem do nosso país. Prosseguiremos na sexta-feira", declarou Cartes nas redes sociais ao final da primeira reunião do diálogo apoiado pelo Papa Francisco.

O presidente do Congresso, o senador opositor Roberto Acevedo, avaliou que "através desta mesa talvez possamos chegar a uma solução". "Não queremos mais violência".

"É um bom primeiro passo. Evitar mais derramamento de sangue deve motivar a todos", disse o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Velázquez, do governista Partido Colorado.

As partes acertaram uma nova reunião, na sexta-feira, mas o Partido Liberal - principal grupo opositor - e dissidentes do Partido Colorado reafirmaram que não participarão das negociações enquanto o governo não retirar o projeto de reeleição.

A votação por um grupo de senadores do projeto de reeleição gerou uma furiosa reação de manifestantes opositores que entre sexta-feira e sábado deixou um morto, 30 feridos e graves danos ao edifício do Congresso, invadido e incendiado por diversos grupos.

O diálogo, solicitado pelo chefe de Estado a seus rivais políticos, foi uma iniciativa do Papa Francisco, explicou o arcebispo de Assunção, monsenhor Edmundo Valenzuela, que dirigiu a reunião da sede do Seminário Metropolitano.

Efraín Alegre, presidente do Partido Liberal e uma das vítimas da repressão policial de sexta-feira, se negou a conversar com o Executivo até que seus partidários no Congresso retirem um projeto de emenda à Constituição que acaba com a proibição de reeleição aos presidentes.

Os opositores consideram que a emenda constitucional que diz respeito às eleições só pode ser mudada por uma Assembleia Constituinte e não pelo Congresso, como defendem os apoiadores políticos do presidente Cartes.

Em seu projeto pela reeleição, o presidente Cartes conta com o apoio do ex-presidente de esquerda Fernando Lugo, ex-bispo católico que governou entre 2008 e 2012, e que foi destituído por um julgamento político do Parlamento.

Lugo também pode voltar a se apresentar como candidato.

Com a lembrança muito presente dos 35 anos de ditadura comandados por Alfredo Stroessner (1954-1989), a Constituição paraguaia de 1992 proibiu a reeleição, tanto de forma consecutiva como alternada.

A luta para a retomada da reeleição presidencial foi acelerada por conta das eleições em abril de 2018.

Primeiro contra a violência

Embora a origem da crise no Paraguai esteja centrada no empenho dos congressistas oficialistas em instaurar a reeleição presidencial, o primeiro debate girou em torno de encontrar os responsáveis pela morte do ativista nos incidentes de sexta-feira.

O presidente do Partido Liberal exigiu como outra condição para participar da mesa de diálogo a punição dos responsáveis pelo crime contra Rodrigo Quintana, um ativista de 25 anos.

O jovem, engenheiro agrônomo recém-formado, foi morto por um policial anti-distúrbio dentro das instalações do Partido Liberal, e a ação foi gravada pelas câmeras de circuito fechado.

Alegre também pediu sanções contra os policiais que o atingiram à queima-roupa com disparos de bala de borracha.

Os projéteis também atingiram a boca do deputado de seu partido, Edgar Acosta, que o acompanhava quando ocorreu o conflito com os militares.

O ferido foi transferido com urgência, na terça-feira, para São Paulo para ser submetido a uma cirurgia depois que os médicos locais não conseguiram retirar três balas que ainda estão em seu rosto.

"Não vamos participar de um diálogo sem punições", destacou Alegre, pré-candidato do partido para as presidenciais de 2018.

Em uma mensagem enviada à direção política no último domingo, o papa Francisco pediu "soluções políticas" para resolver a crise.

Paralelamente, o governo dos Estados Unidos encorajou no sábado uma solução baseada no respeito à Constituição.

"Qualquer processo de revisão da Constituição Nacional paraguaia deve ser feita de maneira transparente e aberta, respeitando os processos democráticos e institucionais de acordo com a Constituição do Paraguai", disse em um comunicado a embaixada de Washington em Assunção.

Como resultado dos crescentes protestos opositores que alcançaram nesta semana estudantes do ensino médio e universitários, e que chegaram às casas dos legisladores que apoiam a emenda, vários parlamentares oficialistas anunciaram que não votarão o projeto.

O presidente Cartes se reunia nesta quarta-feira com os presidentes dos partidos Colorado (oficialista), Encontro Nacional (opositor), Avança País (opositor), Frente Guasú (Frente Grande,) do ex-presidente Lugo, e o partido Unase (oficialista).

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