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Para Trump, sair do acordo de Paris defende interesses americanos

Na prática, os EUA já haviam começado a inviabilizar o cumprimento das metas com que o país havia se comprometido em 2015

Donald Trump: o presidente disse que o Acordo de Paris “não é justo para os EUA” (Reuters/Reuters)

Donald Trump: o presidente disse que o Acordo de Paris “não é justo para os EUA” (Reuters/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 1 de junho de 2017 às 21h39.

A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris - compromisso global que define metas conjuntas para amenizar os efeitos das mudanças climáticas - pode não ser definitiva, de acordo com o presidente Donald Trump.

No discurso desta quinta-feira (1), Trump, ao anunciar a retirada dos Estados Unidos do tratado sobre o clima, ponderou que a retirada do país implica a revisão dos termos do acordo e na busca de um formato que seja, na sua visão, "mais justa" para os americanos.

No anúncio de hoje, Trump disse "estar cumprindo seu dever solene para proteger a América e seus cidadãos. Vamos reinserir o país no Acordo de Paris ou participar de uma nova transação com novos termos que sejam justos para os Estados Unidos", afirmou.

O anúncio de Trump não trouxe detalhes sobre como será a retirada do país do acordo, mas, na prática, os Estados Unidos já haviam começado a inviabilizar a comprimento das metas que o país assinou em 2015 - quando em janeiro, o presidente assinou várias ordens executivas que contrariam o acordado. Principalmente no setor energético.

Uma das medidas, por exemplo, praticamente extinguia o Plano Energia Limpa, deixado como legado pelo ex-presidente Barack Obama.

Trump também diminuiu a estrutura da Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), que viabilizava projetos para produção de energia limpa, e retirou limites impostos a usinas termoelétricas e as restrições à produção e uso de energia fóssil, como a derivada do carvão.

Trump disse que o Acordo de Paris “não é justo para os EUA” e que a retirada do país não necessariamente significa uma posição que não possa ser revista no futuro.

Para o mandatário, o tratado é "ruim para os americanos.

O acordo foi negociado mal pela administração Obama e assinado por desespero, o que representa um custo para o povo americano em detrimento da nossa economia", comentou, em discurso transmitido pelas emissoras de TV.

Impacto negativo

A retirada dos Estados Unidos pode impactar negativamente nos progressos feitos em torno do Acordo de Paris, firmado em 2015, após mais de dez anos de negociações para tentar mitigar o efeito da atividade econômica no clima terrestre.

O tratado foi assinado por 195 países e ratificado por 147, responsáveis por 80% das emissões.

Segundo maior emissor de gases depois da China, os EUA respondem por 18% do carbono lançado na atmosfera, ou 6,5 milhões de toneladas por ano.

A saída americana tornaria ainda mais difíceis as metas do acordo, de reduzir o carbono na atmosfera de 69 bilhões de toneladas para 56 bilhões, e negociar metas futuras para manter, até 2100, o aquecimento global num nível inferior a 2ºC.

A posição contrária de Donald Trump sobre o acordo já era conhecida desde a época da campanha. Ele costuma dizer que o aquecimento global é uma farsa e que os argumentos usados para manter o tratado são "falácia".

Mesmo assim, após a sua posse, alguns diplomatas americanos chegaram a dizer que ele estaria mudando de posicionamento, o que não aconteceu.

Na semana passada Trump entrou em desacordo com os líderes do G7, o grupo dos países mais ricos do mundo, quando foi o único dos líderes dos sete países a não entrar em consenso sobre a manutenção do acordo de Paris.

Até mesmo a China, maior poluidor mundial, afirmou este ano que o acordo do clima é vital para o futuro da humanidade.

Reações

O governo brasileiro se disse decepcionado com o anúncio dos EUA de sair do Acordo de Paris.

Por meio dos ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, o Brasil manifestou preocupação com o “impacto negativo” que a decisão pode causar e se comprometeu novamente com o “esforço global de combate” às mudanças climáticas.

“O governo brasileiro recebeu com profunda preocupação e decepção o anúncio no dia de hoje, 1° de junho, de que o governo norte-americano pretende retirar-se do Acordo de Paris sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e 'renegociar' sua reentrada. Preocupa-nos o impacto negativo de tal decisão no diálogo e cooperação multilaterais para o enfrentamento de desafios globais”, afirmou uma nota conjunta assinada pelos dois ministérios.

O Greenpeace –  maior Organização Não-Governamental de defesa do meio ambiente - também se pronunciou contra a saída dos Estados Unidos do acordo sobre o Clima e colocou em sua página na internet uma petição em defesa do acordo climático.

Com o título "Resista!", o Ong convida a população a assinar uma petição contra a decisão de Trump e diz que está claro que o objetivo dele "é minar o progresso sobre as alterações climáticas".

O Greenpeace destaca que o Acordo de Paris não é "somente um pedaço de papel, mas sim um modelo estruturado para construir um futuro de energia limpa".

Além disso, a ONG condena o fato de Trump ter "atacado o Plano Energia Limpa" de Obama e autorizado projetos de empresas petrolíferas para perfurações no Ártico - que Obama havia proibido anteriormente.

Sitomaticamente, no mesmo dia em que Trump informou o abandono do Acordo de Paris, ambientalistas e cientistas internacionais lamentam que um dos maiores icebergs do mundo está a ponto de desprender-se na Antártica.

A massa de gelo tem 350 metros de espessura e pesquisadores associam o seu desprendimento rápido ao processo de degelo dos polos - uma das consequências do processo de aquecimento global.

 

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