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Para refugiadas, Papa fez mais do que qualquer outro líder

A guerra as encorajou a viajar rumo ao território europeu e assim chegaram a Lesbos, após atravessarem a Turquia


	Refugiados: os jihadistas são "seres ferozes, disformes e desumanos", e o presidente sírio Bashar Al Assad "não é deste mundo"
 (Filippo Monteforte / Reuters)

Refugiados: os jihadistas são "seres ferozes, disformes e desumanos", e o presidente sírio Bashar Al Assad "não é deste mundo" (Filippo Monteforte / Reuters)

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Da Redação

Publicado em 25 de abril de 2016 às 10h24.

Roma - Suhila e Nour, duas das refugiadas sírias que viajaram com o papa Francisco da ilha grega de Lesbos para Roma e agora começam uma nova vida, agradeceram pelo gesto do pontífice e disseram que ele fez mais por elas "do que qualquer líder muçulmano".

Estas duas mulheres chegaram à Itália junto com suas famílias procedentes da Síria: a primeira de Deir ez-Zor, em território controlado pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI), e a segunda da periferia de Damasco, uma região afetada por conflitos diários.

Costureira e dona de casa, Suhila é casada com Samy, professor de História, e têm três filhos: Rachid, de 18 anos, Abdel Majid, de 16, e a pequena Al Quds, de 5.

Nour era microbióloga na Comissão da Energia Atômica síria, por isso fala perfeitamente inglês e francês, e é casada com Hassan, jardineiro, com quem tem um filho de 3 anos, Rifaat.

Ambas as famílias compõem o grupo de 12 refugiados que foram selecionados para deixar o acampamento de Kara Tepe em Lesbos e voar a Roma com o papa, que no sábado passado visitou a ilha grega, destino de milhares de pessoas que fogem do conflito.

Agora começarão a aprender italiano na escola de idiomas que a organização humanitária São Egídio tem na capital italiana e na quinta-feira receberam com paciência os diversos veículos de imprensa que se interessaram pela história.

"Eu tenho apreço pelo papa e sempre o agradecerei porque ele nos concedeu uma oportunidade e ofereceu um belo futuro ao meu filho. Fez mais do que qualquer líder muçulmano porque nenhum fez o mesmo por nós", declarou Nour.

"É um homem de coração. Espero que os chefes do mundo árabe e de todo o mundo façam o que ele fez", disse Suhila acompanhada da pequena filha, que sorria ao exibir a caderneta escolar.

As duas famílias mostram aspectos diferentes, a segunda mais ocidental - Nour nem sequer cobre o cabelo - apesar de ambas terem feito o êxodo depois que o conflito na Síria devastou suas vidas.

A guerra as encorajou a viajar rumo ao território europeu e assim chegaram a Lesbos, após atravessarem a Turquia e se esquivarem de múltiplos perigos como a presença de integrantes do EI e das tropas do presidente da Síria, Bashar al Assad.

Nour optou por emigrar devido ao temor que seu marido fosse recrutado para o serviço militar, enquanto Suhila reconheceu que "a principal razão" pela qual se aventurou foi para evitar que seus filhos fossem capturados como futuros terroristas.

A situação vivida no campo de refugiados foi "difícil". Ao recordar daquela realidade, Nour tira o sorriso do rosto e comenta que a política europeia de fechamento de fronteiras "não é justa".

"Não é justo. Somos pessoas normais e só queremos escapar da guerra", afirmou, enquanto ressaltou que as milhares de pessoas que vivem nos centros de refugiados "precisam de ajuda".

Coberta por um colorido "hijab" (lenço), Suhila disse que, por enquanto, só quer "recuperar todos os anos que perdidos com esta guerra, para ter uma vida tranquila".

Enquanto acendia um cigarro, o marido de Suhila, Ramy, afirmou, que o gesto do papa significou uma mudança para ele e sua família: "Foi como ir do fundo até a superfície, até o Everest".

Na opinião de Ramy, os jihadistas são "seres ferozes, disformes e desumanos", e o presidente sírio Bashar Al Assad "não é deste mundo".

O responsável por atender os imigrantes da organização São Egídio, Daniela Pompei, foi uma das três pessoas que foram a Lesbos dias antes da visita do papa para selecionar as famílias que viajariam para Roma.

Pompei explicou que o processo de seleção teve critérios como a idoneidade de documentos, o país do qual as pessoas procediam, com a Síria como prioridade, e era necessário que elas não tivessem chegado ao solo comunitário após o dia 20 de março, quando foi feito o acordo entre UE e Turquia que permite as deportações.

Os resultados do processo foram esses 12 refugiados que agora começam uma nova vida na Itália, longe dos bombardeios, dos recrutamentos forçados e das máfias que enriquecem com os imigrantes que se aventuram a atravessar o mar em busca de um futuro melhor.

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