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Para Gülen, a Turquia já não é uma democracia

Ele nega estar envolvido na tentativa de golpe que deixou ao menos 308 mortos, entre eles 100 rebeldes


	Fethullah Gülen: "Sempre fui contra a intervenção dos militares na política interna"
 (Reuters)

Fethullah Gülen: "Sempre fui contra a intervenção dos militares na política interna" (Reuters)

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Da Redação

Publicado em 19 de julho de 2016 às 11h43.

Acusado pelo presidente Recep Tayyip Erdogan de estar por trás da tentativa de golpe de sexta-feira na Turquia, o opositor Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos, nega qualquer envolvimento e se declara inquieto pelas instituições de seu país, que para ele já não é uma democracia.

Foi um homem com ar cansado que recebeu, na segunda-feira, vários meios de comunicação, entre eles a AFP, em sua casa em um conjunto habitacional de Saylorsburg, Pensilvânia, onde vive desde 1999.

Aos 75 anos (ele diz ter 77), Gülen sofre complicações cardiovasculares e diabetes, segundo seus parentes, e diz que quase não sai de casa há dois anos.

Novamente, nega estar envolvido na tentativa de golpe que deixou ao menos 308 mortos, entre eles 100 rebeldes. Suas palavras são traduzidas ao inglês por um intérprete.

"Sempre fui contra a intervenção dos militares na política interna", afirma.

Reitera sua condenação à tentativa de golpe, que ele considera como "uma traição à nação turca".

Para ele, o desenvolvimento deste golpe gera dúvidas, principalmente sobre o eventual papel desempenhado pelo governo.

"Vocês têm informações da imprensa que indicam que os membros do partido no poder estava cientes da tentativa oito, dez e inclusive 14 horas antes", afirma.

"Este golpe frustrado, quaisquer que sejam seus autores ou líderes, reforça" o presidente Erdogan e seus partidários, acrescenta.

Ex-aliado de Erdogan que se tornou opositor, se preocupa atualmente com as consequências das medidas adotadas pelo governante turco após o fracasso da tentativa de golpe de Estado.

O ex-imã menciona os apelos lançados, segundo ele, pelos partidários do presidente Erdogan, para atacar os simpatizantes do Hizmet, o movimento de Gülen.

"Em um panorama como esse, não é possível falar de democracia, de constituição, de uma forma republicana de governo", indica o clérigo opositor.

"Este regime se parece mais com um clã ou com um governo tribal", afirma com voz fraca.

"A história nos ensina que os ditadores podem chegar ao poder com o apoio de um grande número de pessoas", indica, mencionando Adolf Hitler, Saddam Hussein e Gamal Abdel Nasser.

Estado de Direito

Consultado sobre sua eventual extradição, exigida por Erdogan, diz não estar inquieto diante de uma tentativa que ele considera destinada ao fracasso.

Interrogado pela CNN, o presidente Erdogan disse em Ancara que apresentará o pedido a Washington, no âmbito do "acordo recíproco de extradição de criminosos" que as duas nações mantêm.

Gülen lembrou que o governo já tentou, em vão, obter sua extradição depois de um escândalo de corrupção que abalou a Turquia em 2013 e que provocou a renúncia de três ministros.

Os Estados Unidos "são um Estado de direito", explicou o imã, em um salão suntuoso.

"Aqui a lei está acima de tudo. Não acredito que este governo preste atenção a qualquer coisa que não esteja baseada na lei", afirma.

O secretário de Estado americano, John Kerry, indicou na segunda-feira que uma extradição de Gülen não é factível na ausência de provas e disse que cabe às autoridades turcas fornecê-las.

Ainda que o pedido de extradição prospere, o opositor diz estar tranquilo.

"Eu morrerei algum dia. Seja na minha cama ou na prisão, eu não me importo", afirma.

Embora diga que não está inquieto com o próprio destino, se preocupa com as relações entre a Turquia e os Estados Unidos.

Lembra que as tropas turcas lutaram ao lado das americanas durante a guerra da Coreia e que as duas nações colaboram há décadas na Otan, organização à qual a Turquia se uniu em 1952.

"Se tivesse que deixar a Otan, a Turquia estaria em um caos, evaporaria. Estaria acabada", afirma o clérigo.

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