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Para evitar estupros, Índia pede que turistas não usem saias

Após série de recomendações de segurança que visam reverter a queda no número de turistas mulheres, governo da Índia sofre com críticas


	Taj Mahal, um dos principais pontos turísticos da Índia: governo tenta reverter a queda no número de mulheres turistas, que temem a violência sexual
 (Thinkstock)

Taj Mahal, um dos principais pontos turísticos da Índia: governo tenta reverter a queda no número de mulheres turistas, que temem a violência sexual (Thinkstock)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 30 de agosto de 2016 às 17h51.

São Paulo – O Ministério do Turismo da Índia está enfrentando uma saia justa depois que seu ministro disse em uma coletiva de imprensa que, por razões de segurança, turistas mulheres não devem sair à noite sozinhas e não devem usar saias ou vestidos.

A orientação é parte de um guia de segurança que será distribuído junto a um kit de boas-vindas para estrangeiros que desembarcam na Índia. Segundo o jornal britânico The Guardian, o kit foi lançado no ano passado, depois de o país observar uma queda no número de turistas mulheres, numa redução impulsionada pelo alto número de estupros registrados.

“A cultura indiana é muito diferente da ocidental”, disse o ministro Mahesh Sharma em coletiva que foi divulgada pelo jornal britânico. As declarações do ministro foram recebidas com choque em todo o mundo. Nas redes sociais, milhares de usuários questionaram se essas orientações seriam uma tentativa de censurar os turistas. Veja abaixo algumas delas:

Repercussão

As orientações do ministro foram criticadas também por ativistas pelos direitos das mulheres. Ranjana Kumari, do Centro de Pesquisas Sociais, em entrevista ao jornal indiano Business Standard, chamou as declarações de sexistas e lembrou que é tarefa do governo garantir a segurança de seu povo e seus turistas.

Nivedita Menon, professora de Ciências Políticas da Universidade Jawarharlal Nehru, ouvida pela mesma publicação, disse que a fala do ministro só comprova a incapacidade do governo indiano de garantir a segurança das mulheres e questionou o que saias e vestidos tinham a ver com ataques sexuais.

O calor das discussões fez com que o ministro viesse à tona se explicar momentos depois. Em coletiva na segunda-feira, ele disse que tem duas filhas e que jamais diria a uma mulher o que ela deve ou não vestir. “Estava falando no contexto de locais religiosos”, disse ele em entrevista ao jornal India Today, “estou apenas preocupado”, finalizou.

Essa não é a primeira vez que Sherma se vê envolvido em uma polêmica e é acusado de machismo. Em setembro do ano passado, o ministro foi novamente criticado depois de dizer que meninas que gostam de sair à noite podem se dar bem em outros países, mas que essa conduta não fazia parte da cultura da Índia.

Violência sexual na Índia

Em Nova Déli, a gravidade da situação de violência contra mulheres rendeu para a cidade o apelido de “capital do estupro”.

Dados compilados por autoridades do país e divulgados pelo jornal The Hindu mostram que os casos de estupro mais que dobraram entre 2012 e 2013. Em novembro de 2014, 1.879 episódios foram registrados só nessa cidade. A maioria dos casos tinham como autores homens conhecidos das vítimas.

Os números da violência sexual na Índia são aterrorizantes, assim como são chocantes os detalhes de muitos dos ataques registrados pelo país. Em 2012, uma estudante foi morta depois de ter sido atacada em um ônibus por seis homens. Ela foi espancada com um cano e violentada por todos eles. 

Jyoti Singh tinha apenas 23 anos de idade, estudava fisioterapia e voltava para casa do cinema na companhia de um amigo. Seu caso, embora tenha ganhado os holofotes no mundo inteiro e tema de um documentário, não é o único que mostra a seriedade do que especialistas já chamam de “epidemia de estupros” na Índia. 

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