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Para combater crise alimentar, Namíbia planeja abater zebras e elefantes

Em meio à pior seca em um século, país planeja abater centenas de animais selvagens para alimentar população faminta e evitar conflitos

Namíbia vive a pior seca do século e já distribuiu mais de 60 toneladas de carne de animais.

Namíbia vive a pior seca do século e já distribuiu mais de 60 toneladas de carne de animais.

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 30 de agosto de 2024 às 10h00.

Última atualização em 30 de agosto de 2024 às 10h48.

A Namíbia, localizada no sul da África, está adotando uma medida extrema para enfrentar a crise alimentar que afeta cerca de 1,4 milhão de pessoas, quase metade da população do país. Diante da pior seca registrada em um século, o governo namibiano planeja abater 723 animais selvagens, incluindo 83 elefantes, 300 zebras e outros animais icônicos da fauna africana. A decisão visa alimentar a população e reduzir o risco de conflitos perigosos entre humanos e animais em busca de água e vegetação. A reportagem é do The New York Times.

A crise alimentar que assola a Namíbia é resultado direto de uma seca severa, agravada pelo fenômeno climático El Niño, que tem causado temperaturas mais quentes e menos chuvas na região. Segundo a Organização Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP), mais de 30 milhões de pessoas em toda a África Austral estão sendo afetadas por esta situação crítica.

Em um comunicado oficial, o Ministério do Meio Ambiente, Florestas e Turismo da Namíbia defendeu a medida como "necessária" e "em conformidade com nosso mandato constitucional de utilizar os recursos naturais para o benefício dos cidadãos namibianos". A estratégia de abater animais selvagens para alimentação não é inédita, mas está sendo implementada em um momento em que a escassez de alimentos está em níveis alarmantes.

A seca devastadora também está forçando animais a se aproximarem das áreas habitadas, aumentando o risco de encontros perigosos entre humanos e a vida selvagem. Elefantes, por exemplo, podem ser mortais, tendo matado pelo menos 50 pessoas no Zimbábue no ano passado. A situação se agrava porque a migração natural dos animais, que normalmente ocorreria em períodos de seca, está sendo impedida pela abrangência da seca em todo o país.

O plano da Namíbia inclui o abate de outros animais além dos elefantes e zebras, como 30 hipopótamos, 50 impalas, 60 búfalos, 100 gnus-azuis e 100 elandes. Esses animais, além de fornecerem carne para a população faminta, também são considerados um fardo para os recursos hídricos e de pastagem, já escassos devido à seca extrema.

Prática antiga

O abate de animais selvagens para alimentação não é uma prática nova na Namíbia. De fato, o consumo de carne de caça é comum em toda a região, com espécies como zebra, gnu-azul e impala sendo parte da dieta local. Segundo Rose Mwebaza, diretora do Escritório de Meio Ambiente da ONU para a África, "a caça sustentável de populações saudáveis de animais selvagens pode ser uma fonte preciosa de alimentos para as comunidades", desde que seja realizada de forma científica e em conformidade com os compromissos nacionais e internacionais.

Até o momento, 157 animais já foram abatidos na Namíbia, resultando em cerca de 63 toneladas de carne, que foram distribuídas entre as comunidades mais afetadas pela fome. As autoridades namibianas esperam que essa medida também ajude a mitigar os efeitos da seca sobre a fauna, ao reduzir a pressão sobre os recursos naturais limitados.

A seca extrema também tem causado um impacto devastador na população de elefantes em outras partes da África Austral. No início deste ano, pelo menos 160 elefantes morreram no maior parque nacional do Zimbábue, e outros 300 morreram em Botsuana no ano passado devido à falta de água. O Fundo Mundial para a Natureza (WWF) na Namíbia está mobilizando recursos para fornecer água aos elefantes e outras espécies em vários parques nacionais.

A Namíbia faz parte de uma grande reserva de conservação que abrange quatro outros países da África Austral, abrigando a maior população de elefantes da savana africana do mundo, com mais de 227 mil indivíduos. No entanto, a severidade da seca atual ameaça essas populações, forçando-as a se aproximarem das áreas habitadas e aumentando os conflitos entre humanos e animais.

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