San Juan, em Porto Rico: país já realizou consulta sobre independência em 2012 (Wikimedia Commons/Reprodução)
Da Redação
Publicado em 18 de setembro de 2014 às 09h53.
San Juan - Um cenário como o que vive a Escócia com seu referendo de independência, com quase metade da população apoiando essa opção, é inimaginável hoje em Porto Rico, onde a crise econômica, a cultura do "mantenho" e a educação desgastam o desejo por mais autonomia.
É o que garantem os especialistas porto-riquenhos consultados pela Agência Efe, que apontam que Porto Rico, da mesma forma que a Escócia, pode se considerar uma nação, embora ressaltem que na ilha caribenha falta "verdadeira vontade" para buscar a soberania.
"Tanto a Escócia, com suas raízes celtas, como Porto Rico, com a cultura espanhola como matriz, têm uma forte identidade como nação", afirmou à Efe Lajos Szászdi, especialista em relações internacionais.
Professor da Universidade Interamericana de Porto Rico, Szászdi afirma que esse Estado Livre Associado aos EUA pode se considerar uma "nação" - não um Estado - que "se diferencia dos vizinhos cubanos e dominicanos", e dos concidadãos americanos.
"É uma nação não soberana, assim como a Escócia. Mas os porto-riquenhos se acostumaram aos EUA e a viver do "mantenho" com os bilhões de dólares que o país injeta anualmente, até o ponto que pouquíssima gente trabalha e perdemos uma economia própria que nos garanta o futuro em um cenário de independência", declarou Szászdi.
José Rivera, professor de Relações Públicas na Universidade Pública de Porto Rico, é da mesma opinião. Ele defende que sem uma economia autossuficiente, a ilha caribenha nunca poderá escolher seu futuro.
"Na época espanhola, Porto Rico era um potente exportador de açúcar e cacau. Depois, a agricultura foi abandonada e agora é mais rentável cobrar o cheque do desemprego do que colher café, apesar de crescer só nesta terra fértil", resumiu Szászdi.
O Produto Interno Bruto da Escócia, com 5,3 milhões de habitantes, gira em torno dos US$ 235 bilhões; enquanto o de Porto Rico, com 3,6 milhões de habitantes, é cerca de US$ 127 bilhões.
Integrante do Partido Independentista Porto-riquenho (PIP), Jesús Pizarro garante que os independentistas de ambos territórios "defendem o direito de livre escolha", já que desejam decidir a forma de governo e buscar o próprio desenvolvimento econômico, social e cultural sem ingerências externas.
"Nós, independentistas da Escócia e de Porto Rico, dizemos que só com a independência será possível garantir uma democracia plena e com representação digna nos fóruns internacionais que advogue e defenda os interesses nacionais", acrescentou.
No entanto, segundo Rivera, enquanto a Escócia se questiona se manterá o vínculo com a Inglaterra, em Porto Rico está claro que se quer conservar a ligação existente com os EUA.
Em uma consulta feita em 2012, a independência só contou com 5,5% de votos no país.
Para o especialista, essa queda do independentismo porto-riquenho, que na década de 1940 era muito mais popular, se deve a vários fatores, entre eles a repressão de âmbitos políticos que buscavam se aproximar mais aos EUA e "a falta de sentido de pátria na educação".
A isso pode ser somado "o tremendo desapego do porto-riquenho", por causa da "frustração" pela falta de perspectivas econômicas e pelo "estéril debate" que se tornou a questão do status político.
Ambos os estudiosos concordam que um cenário como o escocês só seria imaginável se os EUA cortassem de repente a injeção de fundos a Porto Rico e acabasse com a "cultura de dependência total".
"Isso obrigaria o país a buscar uma economia autossustentável, o que poderia fazer o porto-riquenho acreditar que é autossuficiente e que não necessita dos EUA", apontou Szászdi.
No entanto, Rivera ressalta que antes disso aconteceria "um êxodo em massa aos EUA, muito maior do que já ocorre", graças à cidadania americana dos porto-riquenhos.
"A autossuficiência é importante, tanto na Escócia quanto em Porto Rico", defende Rivera, enquanto seu colega também insiste na importância do "orgulho pátrio".
Para Szászdi, os porto-riquenhos se sentem "mais orgulhosos de ter a cidadania americana que de ser boricuas (como são chamados os nascidos na ilha de Porto Rico)".