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Para analistas, ameaças de Trump estimulam Coreia do Norte a agir

Na visão dos especialistas, falas como as proferidas ontem pelo presidente estimulam o regime a continuar desenvolvendo armas em nome da legítima defesa

Donald Trump: na Assembleia da ONU, o presidente afirmou que pode "ter que destruir totalmente" a Coreia do Norte (Eduardo Munoz/Reuters)

Donald Trump: na Assembleia da ONU, o presidente afirmou que pode "ter que destruir totalmente" a Coreia do Norte (Eduardo Munoz/Reuters)

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AFP

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 11h27.

As ameaças de Donald Trump de "destruir totalmente" a Coreia do Norte são contraproducentes e estimulam Pyongyang a continuar desenvolvendo armas nucleares, em nome da legítima defesa - avaliam analistas consultados pela AFP.

O presidente americano aproveitou seu primeiro discurso na Assembleia Geral da ONU, na terça-feira (20), para lançar uma ameaça a Pyongyang, que acaba de realizar seu sexto e mais importante teste nuclear até agora e respondeu às novas sanções internacionais com um míssil que sobrevoou o Japão.

Em seu pronunciamento, Trump declarou que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, está realizando "uma missão suicida - para si mesmo e para seu regime".

Se os Estados Unidos "se virem forçados a se defenderem, ou a defenderem seus aliados, não nos restará outra alternativa a não ser destruir totalmente a Coreia do Norte", garantiu.

Analistas ouvidos pela AFP apontam, porém, que essas palavras reforçarão ainda mais a vontade de Kim de desenvolver armas nucleares.

"Com essas palavras, o presidente Trump deu ao regime de Kim as declarações da década", segundo Marcus Noland, do Peterson Institute for International Economics (PIIE).

"Vão transmiti-las sem parar na televisão oficial norte-coreana" para demonstrar que Pyongyang precisa, realmente, de armas dissuasórias para se proteger de uma agressão americana, completa Noland.

O pesquisador Joel Wit, da Johns Hopkins University, tem dúvidas de que os EUA estejam dispostos a pagar o preço humano que um conflito dessa ordem representaria, mas Trump "é uma incógnita e é difícil saber quando está falando sério, e quando não está".

Os Estados Unidos contam com cerca de 28.500 soldados estacionados na Coreia do Sul, um legado da guerra da Coreia (1950-53), a qual terminou com um tratado de paz, sem um armistício.

Além das armas nucleares, a artilharia norte-coreana também ameaça a fronteira com o Sul, pondo sua capital, Seul, e seus milhões de habitantes na mira de suas armas convencionais e químicas.

O Japão também está ao alcance dos mísseis norte-coreanos, motivo pelo qual um ataque dos Estados Unidos pode ter graves consequências para toda região.

 Linhas vermelhas

No contexto de tensão atual, alguns especialistas - como o diretor de Estudos Militares da Universidade sul-coreana de Dongyang, Jeung Young-Tae - acreditam que não se pode considerar as declarações de Trump como um simples blefe.

"O problema é saber onde está a linha vermelha para lançar um ataque militar", afirma, embora considere muito improvável que ocorra um conflito, apesar das provocações da Coreia do Norte.

"Os ICBM [mísseis balísticos intercontinentais] e os programas armamentísticos [norte-coreanos] são muito grandes e muito ameaçadores para considerá-los unicamente como uma moeda de troca para negociar, Agora, a ameaça é real para muitos americanos", ressalta.

A pesquisadora Mira Rapp-Hooper, do Paul Tsai China Center da Yale Law School, também tem dúvidas sobre a eficácia da estratégia de Trump e sobre se sua linguagem "apocalíptica" reflete uma vontade militar, ou apenas uma tentativa de conseguir levar a China a condenar a Coreia do Norte com mais firmeza.

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