Tanque de combustível: tanto os analistas locais como os motoristas apontam a má gestão pública no âmbito energético como a origem desta crise (Adam Berry/Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 21 de dezembro de 2012 às 10h37.
Islamabad - As longas filas de veículos nos postos de gasolina do Paquistão se transformaram há várias semanas no último capítulo do caos energético vivido no país, um assunto que será fundamental e decisivo nas próximas eleições.
A ordem do Supremo Tribunal do Paquistão de diminuir em mais de 30% o preço do gás natural, combustível usado pela metade dos veículos do país, gerou uma verdadeira crise no último mês de outubro, fruto de uma desastrosa política energética que asfixia diversos setores do país.
Milhares de postos de gasolina deixaram de servir GNV (gás natural veicular) alegando perda de dinheiro, sendo que essa situação já começa a ameaçar o que foi a grande aposta de Islamabad para reduzir sua dependência do petróleo.
A escassez de combustível se une ao conflito entre a patronal do setor e o Supremo paquistanês pelo preço do GNV - tendo o governo como mero espectador - para o desespero dos mais de três milhões de motoristas que usam gás no Paquistão.
Tanto os analistas locais como os motoristas, que chegam a esperar durante horas para abastecerem seus carros em alguma das poucas estações que oferecem gás de forma intermitente, apontam a má gestão pública no âmbito energético como a origem desta crise.
No último verão, os cortes energéticos - bem mais longos que os habituais - desencadearam inúmeros protestos por todo país, obrigando o governo a priorizar o fornecimento de energia como primeiro ponto de seu discurso a poucos meses das eleições.
'Os problemas extremos de energia em um país de 200 milhões habitantes não são nenhuma piada. Há muita gente protestando e, inclusive, pessoas morrendo de frio', comentou o analista e diretor do Instituo Jinnah de pesquisa política, Razá Rumi.
'Os problemas de energia estão relacionados com duas dificuldades que lideram as preocupações dos paquistaneses: a inflação e o desemprego', acrescentou o economista e ex-ministro do Comércio do Paquistão Mohammed Zuber Khan.
O setor energético também é afetado pela crescente falta de investimento, motivada pela ausência de segurança jurídica e corrupção, e de uma falta endêmica de liquidez derivada da falta de pagamento da provisão energética por parte de muitas instituições.
'As dificuldades provêm da má gestão e da seleção errônea de prioridades. Há subsídios ao consumo de determinados setores e roubos generalizados de energia, tanto de gás como de eletricidade, e com o consentimento das autoridades', continuou Khan.
Segundo o Instituto do Petróleo do Paquistão, o país aumentou seu consumo de energia em cerca de 70% nos últimos 15 anos; enquanto a demanda não parou de crescer, a oferta ficou estagnada e não responde nem a 60% do exigido.
Diante deste contexto, o atual Executivo assumiu algumas medidas no campo da produção para atenuar o déficit energético, mas essas ações não garantiram mudanças significativas sob a sombra da corrupção.
No lado da demanda, uma das grandes medidas adotadas pelo anterior governo do ditador Pervez Musharraf foi estimular o consumo de GNV para o transporte com preços subvencionados. Neste caso, a ideia era reduzir o consumo de petróleo.
Em poucos anos, o Paquistão passou de 100 mil veículos movidos por gás para mais de três milhões atuais, um fato que situa o país na liderança mundial do uso deste tipo de combustível para o transporte.
'A priorização de um recurso escasso como o gás teria que abordar primeiro o consumo doméstico, imprescindível para as classes baixas, e depois na indústria, que é a única que pode fazer avançar a economia doméstica', assegurou o analista Razá Rumi.
No entanto, o governo decidiu subvencionar a classe média por ter um maior peso nas decisões de um país que se dispõe, pela primeira vez em sua história, a realizar dois processos eleitorais sem interferências do aparelho de segurança.
Agora, após a decisão do Supremo, os subsídios serão revogados, enquanto a imprensa local fala sobre uma possível proibição do uso de GNV em veículos privados. No entanto, com o litro da gasolina custando mais que US$ 1, o vencedor das eleições terá que se preparar muito bem, pois essa crise já é dada como certa.
'Os atuais governantes não vão tomar nenhuma medida impopular antes das eleições, mas o que ganhar não terá mais remédio, terá que começar a fazer algo de fato', finalizou Rumi.