Fronteira: a disputa derivou em confrontos nesta semana que deixaram um morto e 11 feridos do Paquistão e 5 mortos e 20 feridos do Afeganistão (Fayaz Aziz / Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2016 às 13h23.
Islamabad - Paquistão e Afeganistão não chegaram a um acordo para resolver a última disputa fronteiriça que na última semana deixou seis mortos e 31 feridos em ambos os países e pode se transformar em um problema ainda maior pela decisão do governo paquistanês de abrir postos de controle que os afegãos rejeitam frontalmente.
"Não chegamos a um acordo", disse nesta terça-feira à Agência Efe um funcionário do alto escalão do governo paquistanês, que preferiu manter o anonimato, após a reunião mantida na segunda-feira em Islamabad, no Paquistão, entre delegações lideradas pelo vice-ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, Hekmat Khalil Karzai, e pelo secretário das Relações Exteriores do Paquistão, Aizaz Ahmad Chaudhry.
A disputa começou a ganhar corpo com a decisão de Islamabad de construir uma passagem fronteiriça em Torkham, o principal cruzamento entre ambos os países que liga as áreas tribais de administração federal do Paquistão com a província afegã de Nangarhar, e à qual o Afeganistão se opõe porque não considera a fronteira como permanente.
A disputa derivou em confrontos nesta semana que deixaram um morto e 11 feridos em solo paquistanês, e cinco mortos - entre eles duas crianças - e 20 feridos no território afegão, em diversos incidentes nos últimos dias.
Além disso, a fronteira permaneceu fechada durante seis dias por essa passagem.
Na quinta-feira, um cessar-fogo foi declarado e a passagem reabriu no sábado, permitindo assim o deslocamento de milhares de pessoas e veículos com documentos em ordem. Além disso, foi anunciada a viagem de uma delegação afegã a Islamabad para discutir a situação.
No entanto, não houve acordo no encontro e as autoridades paquistanesas informaram às afegãs sobre sua intenção de construir mais postos fronteiriços entre ambos os países.
"Informamos que o Paquistão criará infraestruturas para a gestão das fronteiras e passagens em outros pontos", disse a fonte governamental.
O funcionário do alto escalão do governo paquistanês afirmou que o "movimento desordenado (de pessoas) na fronteira é uma oportunidade para o trânsito de terroristas e insurgentes. É importante para a segurança de Paquistão e Afeganistão", afirmou.
Karzai, por sua vez, afirmou na reunião que o Paquistão está construindo três postos de controle em território afegão e acusou o país vizinho de bombardear com morteiros alguns povoados na fronteira, segundo comunicado do governo afegão.
A questão de fundo para a disputa se deve ao fato de o Afeganistão não reconhecer os 2.400 quilômetros de fronteira entre os dois países, conhecida como a Linha Durand e criada após um acordo entre britânicos e afegãos no século XIX, e se opõe à construção de passagens fronteiriças e barreiras.
O Paquistão, por sua vez, decidiu reforçar sua fronteira com o Afeganistão após o ataque talibã contra uma escola que deixou 125 estudantes mortos em dezembro de 2014, além de exigir documentos válidos para a entrada em seu território e ameaçou deportar os cerca de 3 milhões de refugiados afegãos que vivem ali.
Devido a esta situação, as duas partes coincidiram na necessidade de criar um mecanismo de consultas na gestão fronteiriça para evitar disputas e decidiram continuar as discussões ao mais alto nível no Uzbequistão, aproveitando a cúpula anual da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, sigla em inglês).
A reunião será presidida pelos chefes da Diplomacia de ambos os países: o ministro das Relações Exteriores do Afeganistão, Salahuddin Rabbani, e Sartaj Aziz, assessor de Relações Exteriores do primeiro-ministro Nawaz Sharif.
As relações entre os dois países pioraram nos últimos meses, com Cabul acusando Islamabad de oferecer refúgio aos talibãs afegãos e não fazer o suficiente para levá-los à mesa de negociação, enquanto o Paquistão culpa o Afeganistão de não evitar o trânsito de insurgentes em seu território.