Drones em ação: afirmação se baseia em arquivos diplomáticos paquistaneses e documentos secretos da CIA, quando se intensificaram os ataques com "drones" (Reprodução)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2013 às 15h22.
Washington - Apesar do Paquistão ter denunciado publicamente o uso de aviões não tripulados ("drones") por parte dos Estados Unidos em ataques seletivos a seu território, as autoridades paquistanesas estavam a par e, inclusive, apoiava esta polêmica campanha, revelou nesta quinta-feira o jornal "The Washington Post".
De acordo com a fonte, essa afirmação se baseia em arquivos diplomáticos paquistaneses e documentos secretos da agência de inteligência americana (CIA) registrados entre 2007 e 2011, quando se intensificaram os ataques com "drones", os quais deveriam ser compartilhados com as autoridades do Paquistão.
No artigo publicado hoje, os jornalistas Greg Miller e Bob Woodward alegam que o governo paquistanês apoiou durante anos de maneira secreta os ataques, um fato que, segundo eles, elevaram as críticas da opinião pública no país.
A CIA informou com regularidade por canais secretos diplomáticos a realização de pelo menos 65 ataques com "drones" no Paquistão, que sigilosamente consentiu os bombardeios à distância realizados por seus aliados americanos.
O artigo questiona a ideia de que o Paquistão não fora mais que uma testemunha da intensa campanha americana contra alvos não só da Al Qaeda, mas de uma ampla lista de suspeitos de terrorismo em seu território.
A publicação do artigo ocorre um dia depois que o primeiro-ministro paquistanês, Nawaz Sharif, se reunisse com o presidente americano, Barack Obama, na Casa Branca, sendo que, anteriormente, Sharif já havia criticado insistentemente os ataques com "drones" em seu país.
"Abordei o tema dos "drones" em nossa reunião e enfatizei a necessidade de pôr fim a esses ataques", disse Sharif aos jornalistas ao término do encontro com Obama na Casa Branca.
No passado, segundo o jornal citado, as reuniões entre altos cargos americanos, entre eles a então secretária de Estado Hillary Clinton, não foram sempre amigáveis com seus colegas paquistaneses.
Em algumas destas, os EUA chegaram a reiterar que os serviços secretos paquistaneses (ISI) tinham conexões com grupos extremistas islâmicos responsáveis por ataques contra forças americanas.
Os documentos obtidos pelo "The Washington Post" também mostram a confiança da CIA na eficácia de seus ataques, com uma alta incidência de operações que resultaram em morte de "combatentes", enquanto as colunas de efeitos colaterais não mostravam nenhum erro.
Esta suposta ausência de vítimas inocentes é questionada por inúmeras organizações pró-direitos humanos, como Anistia Internacional, que documentou dezenas de massacres na área tribal do Waziristão e considerou algum destes como "crimes de guerra".