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'Papai Noel chegou cedo' para Lula — e presente veio de Trump, diz jornal dos EUA sobre 'tarifaço'

Crise gerada por Trump com tarifas de 50% fortalece Lula e divide a base de apoio de Bolsonaro, enquanto a soberania do Brasil se torna uma bandeira de resistência política, aponta o Washington Post

Donald Trump: tarifas podem ter saído pela culatra, aponta jornal dos EUA  (Brendan SMIALOWSKI / AFP)

Donald Trump: tarifas podem ter saído pela culatra, aponta jornal dos EUA (Brendan SMIALOWSKI / AFP)

Publicado em 21 de julho de 2025 às 12h25.

Última atualização em 21 de julho de 2025 às 12h37.

Nos Estados Unidos, a impressão de observadores do cenário político e internacional é que o "presente de Natal" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou mais cedo. Foi o que disse reservadamente um diplomata norte-americano ao colunista Ishaan Tharoor, do The Washington Post. Para o colunista, a tarifa de 50% de Trump saiu pela culatra e pode acabar beneficiando Lula.

De acordo com Tharoor, Trump, ao se posicionar contra o Supremo Tribunal Federal (STF), em particular o ministro Alexandre de Moraes, e ao tentar proteger Bolsonaro de processos judiciais, gerou um cenário onde a resistência à interferência externa se tornou uma bandeira forte do governo Lula. A atitude de Trump, que visa reverter as ações legais contra Bolsonaro, também fortaleceu o presidente brasileiro no cenário interno, especialmente entre a população que sente que a soberania nacional está sendo ameaçada.

O Washington Post detalha que, enquanto as tarifas impostas por Trump têm como objetivo punir o Brasil pela postura de Moraes contra a desinformação online, o efeito colateral dessas medidas foi o fortalecimento da figura de Lula. O presidente dos EUA, ao tentar proteger Bolsonaro, acabou prejudicando empresários e setores que anteriormente eram alinhados com a direita, especialmente ao impactar diretamente as relações comerciais entre os dois países, aponta o colunista.

A imposição das tarifas foi uma decisão surpreendente, considerando que os EUA mantêm um superávit comercial com o Brasil. A medida não apenas afetou a economia brasileira, mas também gerou um mal-estar no governo dos EUA, com muitos diplomatas questionando a pertinência da intervenção em questões internas de um país soberano.

"O Papai Noel chegou mais cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump através desse ataque desajeitado à soberania do Brasil para proteger um aspirante a ditador e um claro perdedor", disse um diplomata brasileiro a Tharoor, sob a condição de anonimidade.

Lula se fortalece com tarifas

Diante das ameaças de Trump, Lula adotou uma postura em defesa à soberania do Brasil. Em entrevista à CNN, Lula destacou que Trump não pode se esquecer de que "foi eleito para governar os EUA, e não ser o imperador do mundo". A declaração, segundo o site, colocou o presidente brasileiro como um defensor do país diante da pressão externa e refletiu o sentimento de muitos brasileiros que não veem com bons olhos as ações de Trump.

Lula não hesitou também em criticar as ações de Trump durante o episódio do ataque ao Capitólio, lembrando que, se Trump fosse brasileiro e tivesse incitado uma insurreição como fez em 2021, ele provavelmente estaria sendo julgado e preso no Brasil. Essas declarações ajudaram a fortalecer a imagem de Lula como líder de resistência contra a ingerência externa.

Além de unir os brasileiros em torno da figura de Lula, a crise diplomática com os EUA também ajudou a desestabilizar a base de apoio de Bolsonaro, principalmente entre os empresários e grupos de direita que veem as tarifas como prejudiciais para os seus negócios, aponta a coluna. O apoio de Trump a Bolsonaro, ao invés de fortalecer a figura do ex-presidente, gerou uma divisão crescente na base conservadora brasileira.

O Washington Post destaca que, enquanto a diplomacia entre os dois países parece distante de uma solução rápida, Lula tem aproveitado a situação para aumentar sua popularidade. O efeito de solidariedade interna devido à postura firme de Lula contra a ingerência de Trump se reflete em uma crescente aprovação de seu governo, especialmente quando comparado ao impacto negativo das tarifas sobre a economia brasileira.

Segundo o diplomata ouvido pelo Washington Post, Bolsonaro e seus aliados “conseguiram o que estavam buscando — uma ameaça severa contra todo o país e sua economia — e agora, não apenas parte de seus eleitores, mas especialmente sua base forte dentro das comunidades financeira e empresarial, estão se voltando contra eles".

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