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Papa pede "renovação" da Igreja antes de renúncia histórica

Bento XVI afirmou também que ficará "escondido do mundo" depois de renunciar


	Papa Bento XVI durante audiência com padres de Roma: "embora eu agora esteja me recolhendo para orações, estarei sempre perto de todos vocês", disse
 (Gabriel Bouys/AFP)

Papa Bento XVI durante audiência com padres de Roma: "embora eu agora esteja me recolhendo para orações, estarei sempre perto de todos vocês", disse (Gabriel Bouys/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de fevereiro de 2013 às 11h45.

O papa Bento XVI pediu nesta quinta-feira uma verdadeira renovação na Igreja Católica em uma cerimônia de despedida emocionada com padres de sua diocese em Roma e afirmou que ficará "escondido do mundo" depois de renunciar no fim deste mês.

"Precisamos trabalhar para a realização do verdadeiro Concílio e para uma verdadeira renovação da Igreja", afirmou o Papa em um raro discurso improvisado, se referindo ao Concílio Vaticano II da década de 1960.

"Embora eu agora esteja me recolhendo para orações, estarei sempre perto de todos vocês e tenho certeza de que vocês permanecerão próximos a mim, ainda que eu esteja escondido do mundo".

O pontífice de 85 anos falou sobre suas experiências pessoais como um jovem padre reformista e sobre o entusiasmo com o Concílio, que mudou a cara do catolicismo ao revisar rituais arcaicos, como a missa em latim.

Bento XVI tem, desde então, se tornado mais conservador em sua perspectiva e nesta quinta-feira condenou as falsas expectativas de mudanças radicais do Concílio, afirmando que criou "um monte de miséria".

Enquanto os padres aplaudiam e cantavam "Vida Longa ao Papa!", o pontífice disse: "Sempre estarei com vocês e juntos vamos com o Senhor na certeza de que o Senhor será vitorioso".

A cerimônia ocorreu um dia após o registro de cenas emotivas em sua última missa pública na Basílica de São Pedro, depois de ter dito na segunda-feira que sua idade avançada o impedia de acompanhar o mundo moderno.

Milhares de padres chorosos, freiras e fiéis aplaudiram o Papa na missa de Quarta-Feira de Cinzas, que marca o início da Quaresma.

Os cardeais agradeceram ao pontífice por seu serviço, tirando suas mitras como sinal de respeito.

O Papa acenou e sorriu para a multidão, parecendo aliviado após seu grande anúncio, que o converterá no segundo Papa a renunciar em 2.000 anos de Igreja Católica, e o primeiro a fazer isso em 700 anos.


A sua homilia final foi contundente, condenando a hipocrisia dos que utilizam sua religião apenas para se mostrar. Ele também pediu o fim das rivalidades e das divisões dentro de uma Igreja assolada nos últimos anos por uma série de escândalos.

O Vaticano afirmou que espera que o Conclave dos Cardeais, reunido a portas fechadas em meio aos famosos afrescos de Michelangelo na Capela Sistina, eleja o sucessor de Bento XVI até a Páscoa, que neste ano cai no dia 31 de março.

Nenhuma data foi definida para o Conclave, mas espera-se que comece entre os dias 15 e 19 de março.

Sinais de divisões ferozes entre os cardeais surgiram em meio aos tensos preparativos para o Conclave.

O cardeal brasileiro João Braz de Aviz afirmou em uma entrevista à agência de notícias italiana ANSA sobre "tensões" entre as diferentes personalidades do Vaticano e disse que a administração da Igreja estava "qualquer coisa, menos calma".

Já o cardeal sul-africano Wilfrid Fox Napier, que, assim como Braz de Aviz, é visto como um possível sucessor, disse que a Igreja estava em um estado de profunda crise e precisava de um novo Papa para trazer "renovação espiritual".

O cardeal de 71 anos também previu que o Conclave do próximo mês deve durar mais tempo que o último, que levou apenas dois dias para escolher Bento XVI.

"Podemos sair desta profunda crise com uma renovação espiritual forte como a de São Francisco, que implementou uma reforma moral", afirmou Napier ao jornal La Stampa em uma entrevista.

Napier disse que não iria considerar candidatos com base no local de onde vieram, mas indicou que o equilíbrio na Igreja mudou para o hemisfério sul, lar da maior parte do 1,2 bilhão de católicos do mundo.


"O fator determinante é que ele deve ter a sabedoria e a energia para enfrentar os desafios que esperam a Igreja em todos os cantos do planeta", disse.

"As instituições da Igreja devem ajudar na evangelização, e não retardá-la. Muitas vezes damos uma impressão para o mundo exterior de confrontos e carreirismo, em vez de servir aos fiéis".

"As pessoas, e os jovens em particular, estão à espera de palavras de verdade vindas da Igreja... Sobre sexualidade e ética há uma forte necessidade de sentido. Precisamos de um diálogo da verdade", acrescentou.

Quando foi questionado sobre o Conclave, Napier disse: "Eu não acho que a fumaça branca virá tão rápido desta vez", em referência à coluna de fumaça branca que emerge da Capela Sistina e que indica que um novo papa foi escolhido.

Em sua audiência geral semanal na quarta-feira, o Papa disse a milhares de fiéis que estava renunciando "pelo bem da Igreja".

Bento XVI afirmou que planeja renunciar no dia 28 de fevereiro às 19h00 GMT (16h00 de Brasília) para uma vida calma em um mosteiro do Vaticano, marcando uma situação sem precedentes na qual um Papa e seu antecessor viverão próximos um do outro.

O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, afirma que Bento - que irá retomar seu antigo nome de Joseph Ratzinger - poderá continuar fornecendo algum tipo de orientação espiritual para seu sucessor, mas seu papel e título permanecem incertos.

As últimas duas semanas de seu papado irão mesclar compromissos públicos com orações privadas, com um retiro espiritual na próxima semana, uma tradição da Quaresma para o Papa.

Na véspera de sua renúncia, o Papa realizará uma audiência na Praça de São Pedro, onde milhares de pessoas são esperadas para se despedir do contestado, mas respeitado líder em seu adeus.

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