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Papa não colaborou com a ditadura, diz ex-ministra argentina

Graciela Fernández Meijide é ex-ministra de Desenvolvimento Social da Argentina, ativista dos direitos humanos e membro da Comissão Nacional do Desaparecimento de Pessoas


	Papa Francisco chega à Praça de São Pedro para sua missa inaugural: o papa "um papel protagonista em organismos de direitos humanos e na Conadep", disse a ex-ministra
 (REUTERS / Alessandro Bianchi)

Papa Francisco chega à Praça de São Pedro para sua missa inaugural: o papa "um papel protagonista em organismos de direitos humanos e na Conadep", disse a ex-ministra (REUTERS / Alessandro Bianchi)

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Da Redação

Publicado em 19 de março de 2013 às 10h16.

Barcelona - Graciela Fernández Meijide, ex-ministra de Desenvolvimento Social da Argentina, ativista dos direitos humanos e membro da Comissão Nacional do Desaparecimento de Pessoas (Conadep), afirmou nesta terça-feira que o papa Francisco "nunca esteve envolvido com a ditadura".

Em entrevista à Agência Efe, Graciela, mãe de um jovem desaparecido durante a última ditadura e ministra entre 2000 e 2002 do Governo de Fernando de la Rúa, explicou que conheceu pessoalmente o cardeal Jorge Mario Bergoglio em sua etapa como ministra porque colaborou em um "trabalho social muito amplo" que era promovido pelo arcebispado.

"É um homem muito inteligente, muito disposto a escutar. Eu não sou católica, sou batizada, mas me considero atéia e ele sabia, é um homem muito sensível ao sofrimento da pobreza", disse Graciela.

Graciela Meijide se destacou como ativista pelos direitos humanos depois que seu filho, um estudante de 17 anos, desapareceu em uma operação clandestina da ditadura militar argentina.

Sobre o papel que o cardeal Bergoglio, hoje papa Francisco, teve na ditadura argentina, Graciela Fernández afirmou que fala com conhecimento de causa porque ocupou "um papel protagonista em organismos de direitos humanos e na Conadep, e nunca tive nenhum testemunho que o envolvesse com algo relacionado com a ditadura. Jamais".

Graciela Fernández viajou para Barcelona, nordeste da Espanha, para participar de um ato da Casa América organizado pelo Ministério de Cultura da Cidade de Buenos Aires dentro do programa "30+30, um olhar de futuro", no qual analisará a experiência democrática argentina nos últimos 30 anos e suas perspectivas.


A ex-ministra argentina, apesar de não ser religiosa, felicitou a escolha do cardeal argentino como novo papa.

"Sei como o povo argentino e toda América Latina festejou esta designação, todo o continente está contente", afirmou Graciela, que desejou sorte a seu compatriota porque "foi convocado para uma tarefa que deve ser ciclópica, porque os problemas da Igreja são tantos que inclusive fizeram um papa renunciar", disse em alusão a Bento XVI.

A ativista pelos direitos humanos explicou que, segundo as últimas enquetes, "92% dos argentinos festejaram a escolha do cardeal Bergoglio, e não fizeram por fé católica, porque também há uma coletividade hebréia e evangélica muito grande".

"Eu estou feliz - disse - sobretudo porque vai ter um efeito que não é religioso, porque uma nomeação de tão alto cargo vai levar os olhos do mundo ao nosso continente, que tem muitos problemas, sobretudo de injustiças sociais".

"Por enquanto, a nomeação levou um pouco de alegria para a Argentina em um momento difícil, e tenho certeza de que fará com que olhem para a nossa região e deixem de pensar que Buenos Aires é a capital do Brasil", brincou.

Sobre a reunião de ontem entre a presidente argentina Cristina Kirchner e o papa, na qual o governante pediu ao bispo de Roma que intermediasse no conflito das Malvinas, Graciela opinou que não acredita que esta reivindicação "seja agora o principal problema da Argentina, embora seja coerente. Nosso principal problema é melhorar a distribuição econômica".

Graciela também disse à Efe que falta "muito para melhorar a qualidade de nossa democracia" em um país que entre 1930 e 1983 sofreu sete golpes militares e um nos últimos 30 anos.

A ex-ministra acredita que já não existe risco de novos golpes militares em seu país porque "a sociedade já não vê os militares como os que solucionam os problemas que os políticos não podem resolver". 

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