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Papa leva Igreja à periferia em sua primeira viagem à AL

"Foi revolucionário para o que estávamos acostumados nos últimos 30 anos", afirma o teólogo Fernando Altemeyer


	Papa Francisco visita a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro: O Papa Francisco declarou não ter sentido qualquer resistência em relação ao seu desejo de reformar a Cúria e defendeu seus colegas.
 (Tânia Rêgo/ABr)

Papa Francisco visita a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro: O Papa Francisco declarou não ter sentido qualquer resistência em relação ao seu desejo de reformar a Cúria e defendeu seus colegas. (Tânia Rêgo/ABr)

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Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2013 às 15h26.

Rio de Janeiro - Ir à periferia, ajudar os mais pobres, lutar pela justiça social: esta foi a mensagem do Papa Francisco em sua primeira viagem à América Latina, que recebeu elogios de analistas e antigos expoentes da Teologia da Libertação.

"Foi revolucionário para o que estávamos acostumados nos últimos 30 anos. Porém, foi mais uma revolução simbólica, já que Francisco não quer mudar a doutrina", declarou à AFP o teólogo Fernando Altemeyer, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC -SP).

"João Paulo II apelava para o coração, enquanto Bento XVI apelava para o cérebro. Francisco, por sua vez, tem uma mensagem visceral, é como um soco no estômago. Sua mensagem é para que a Igreja se descentralize e vá para as periferias confortar as pessoas, compartilhar", acrescentou Altemeyer.

De acordo com o teólogo, Francisco "está ressuscitando" muitos pilares da Teologia da Libertação, "como a compaixão, a opção pelos pobres, as periferias e a cidadania participativa".

"O Papa propõe uma Igreja que não tem medo de abrir as portas, de ir para as ruas, de dialogar para alcançar as pessoas", afirmou, por sua vez, Faustino Teixeira, professor de estudos religiosos da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

As pessoas o chamam de "Papa do povo" e ele tem sido fiel a esta alcunha. Em sete dias se aproximou de dezenas de fiéis com abraços calorosos, beijou crianças, tomou mate oferecido por desconhecidos enquanto desfilava no papa móvel descoberto, brincou e falou ao povo de uma favela no Rio com descontração.


Representantes da Teologia da Libertação (TL), como o ex-padre e teólogo brasileiro Leonardo Boff, que foi condenado ao silêncio pelo Papa João Paulo II por suas posições radicais, ficaram entusiasmados com o primeiro Papa latino-americano da história, eleito em março.

"Passamos de uma fortaleza para uma casa aberta", comemorou Boff em seu blog. "São novos ares, novas músicas, novas palavras para velhos problemas, o que sugere uma nova primavera da Igreja, longe do inverno eclesial dos dois últimos pontificados, caracterizados pelo controle das doutrinas", declarou.

"Ele não se apresenta como um médico, mas como um pastor. O Santo Padre denuncia o fetichismo do dinheiro e do sistema financeiro global que atormenta países inteiros e, com isso, resgata as principais ideias da Teologia da Libertação, sem mencionar o nome do movimento", acrescentou.

O Papa pediu aos bispos latino-americanos, no domingo, para que não usem com seu rebanho a "psicologia dos príncipes", mas que "amem a pobreza." Ele também enfatizou a importância de trabalhar em comunidades eclesiais de base e pastorais.

O Papa Francisco retoma alguns preceitos da Teologia da Libertação "ao insistir que a Igreja tem que fazer a opção pelos pobres, ser a 'advogada da justiça' - como disse na favela de Varginha -, denunciar a corrupção e as idolatrias neoliberais - poder, dinheiro e fama - e incentivar o combate às desigualdades sociais", afirmou à AFP o frade brasileiro Frei Betto, outro expoente da Teologia da Libertação.

"Tudo indica que ele é bem mais avançado do que João Paulo II e Bento XVI", comemorou.


Em encontros com cardeais e bispos brasileiros e da América Latina e do Caribe, o Sumo Pontífice relembrou o Concílio Vaticano II (1962-1965), que adaptou a Igreja aos tempos modernos e mudou seu perfil fechado e doutrinário para uma igreja pastoral, modelo que foi aplicado majoritariamente nesta região.

Altemeyer lamentou a ausência de alguma menção ao cardeal de San Salvador Oscar Romero, defensor dos direitos humanos e dos pobres, e que foi assassinado enquanto celebrava uma missa em 1980, sendo considerado um santo não-oficial na região.

"Ficou uma lacuna, isso precisava ser dito", disse o teólogo, lembrando, no entanto, que o "pragmático" Francisco deve executar a "tarefa hercúlea" de reformar a Cúria antes do final do ano e que, talvez, ele esteja "à espera da momento certo" para fazê-lo.

"Ele foi eleito para reformar a Cúria e aqui (na Jornada Mundial da Juventude) recarregou baterias, carregou seu laptop por um longo tempo", disse Altemeyer.

O Papa Francisco declarou não ter sentido qualquer resistência em relação ao seu desejo de reformar a Cúria e defendeu seus colegas, apesar de reconhecer a existência de escândalos.


"Há santos na Curia, pessoas leais. E se existe resistência, eu ainda não vi. Eu faço justiça ao dizer isso", disse o Papa.

O papa Francisco também tocou em outro assunto polêmico nesta segunda-feira ao condenar o chamado "lobby gay" do Vaticano durante uma coletiva de imprensa improvisada a bordo do avião que o conduzia do Brasil de volta à Itália, na qual ressaltou que não pretende julgar os homossexuais.

"Nenhum lobby é bom", declarou o Papa, que considera que "não se deve marginalizar pessoas que precisam ser integradas na sociedade".

"O problema não é ter essa orientação. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby por essa orientação, ou lobbies de pessoas invejosas, lobbies políticos, lobbies maçônicos, tantos lobbies. Esse é o pior problema", disse.

"Se uma pessoa é gay e procura Deus e a boa vontade divina, quem sou eu para julgá-la?", ressaltou.

Foi a primeira coletiva de imprensa desde que foi eleito em março ao trono de Pedro, e foi dada depois de sua histórica visita ao Rio de Janeiro por ocasião da Jornada Mundial da Juventude.

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