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Papa Francisco quer uma Igreja social que dialogue

Foi em sua biblioteca particular que Jorge Mario Bergoglio deu início a reunião de três dias com os oito cardeais


	Papa Francisco: "É o início de uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal", explicou o Papa
 (Stefano Rellandini/Reuters)

Papa Francisco: "É o início de uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal", explicou o Papa (Stefano Rellandini/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2013 às 12h17.

O Papa Francisco se reuniu nesta terça-feira pela primeira vez com os oito conselheiros cardeais visando a uma reforma da Igreja, que ele deseja mais engajada socialmente, que dialogue com os não-crentes e livre da corrupção.

"É o início de uma Igreja concebida como uma organização não somente vertical, mas também horizontal", explicou o Papa em uma longa entrevista publicada pelo jornal La Repubblica.

Nesta ocasião, ele lamentou uma "visão muito vaticano-centrada que ignora o mundo ao seu redor", anunciando que fará o possível para mudar isso.

Foi em sua biblioteca particular que Jorge Mario Bergoglio deu início a reunião de três dias com os oito cardeais. Conselheiros, que "não são cortesões, mas sábios".

Sinal de que a colegialidade está na ordem do dia, os oito prelados devem analisar ​​80 documentos que resumem várias propostas.

Ao mesmo tempo, outro sinal de abertura: pela primeira vez em sua história, o Instituto para as Obras de Religião (IOR), o "banco do Papa", publicou nesta terça-feira suas contas para 2012 em seu novo site.

Segundo o jornal Corriere della Sera, o banco decidiu fechar cerca de 900 contas, incluindo as de três embaixadas (Irã, Indonésia e Iraque), em razão - segundo algumas fontes- de "suspeitas de lavagem de dinheiro e financiamento terrorista".


Procurado pela AFP, um porta-voz do IOR não confirmou, nem negou este número. Ele indicou que o fechamento de contas não está ligado, necessariamente, a uma suspeita de atividade ilícita.

A publicação da entrevista de três páginas concedida a um jornal de esquerda, antes da abertura do "G8" para reavivar a Igreja Católica, é em si uma revolução.

Para isso, Francisco recebeu na semana passada na residência Santa Marta o fundador ateu do jornal, Eugenio Scalfari, com quem já havia dialogado em colunas interpostas no La Repubblica, em setembro.

Nesta entrevista, o Papa e o jornalista discutiram a fé e a descrença, os valores éticos, do clericalismo e do espírito, o marxismo, com espantosa liberdade de tom.

O Concílio Vaticano II (1962-1965), lembrou, "decidiu olhar para o futuro com um espírito moderno. Os padres conciliares sabiam que a abertura à cultura moderna significava o ecumenismo religioso e o diálogo com os não crentes".

"Desde então, pouco foi feito neste sentido. Eu tenho a humildade e ambição de querer fazer", insistiu.

Jorge Bergoglio ainda citou o cardeal jesuíta italiano Carlo Maria Martini, à frente dos reformistas e falecido em 2012, que havia acusado a Igreja de "ter 200 anos de atraso".

Outras passagens marcantes desta entrevista são a crítica virulenta aos "cortesões da Igreja", e a denúncia do "liberalismo social".


"Os maiores males que afligem o mundo são o desemprego dos jovens e a solidão em que os idosos são deixados", disse Francisco, incorporando questões sociais que são queridas para ele.

O "liberalismo selvagem" resulta em "tornar o forte mais forte, os fracos mais fracos e os excluídos mais excluídos", denunciou.

Ainda que nunca tenha sido convencido pelo marxismo, ele afirmou ter encontrado alguns "aspectos" na doutrina social da Igreja.

O pontífice pediu à Igreja que se comprometa mais com o mundo moderno e afirmou que "os chefes da Igreja geralmente têm sido narcisistas, amantes da adulação e excitados de forma negativa por seus cortesões".

"A corte é a lepra do papado", declarou Francisco.

O pontificado de Francisco, conservador em relação a obediência à Igreja e a moral, mas radical sobre o desenvolvimento social, continua a ser paradoxal.

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